"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 4 de dezembro de 2016

CELULAR DE CABRAL ESTÁ NO NOME DE UMA DOMÉSTICA QUE VIVE EM MISÉRIA ABSOLUTA


Nelma de Sá Saraça, doméstica, em sua casa em Maricá (RJ)
Nelma de Sá Saraça sustenta a família com R$ 1,1 por mês



















Era para um celular em nome da doméstica Nelma de Sá Saraça, 42, que executivos de empreiteiras ligavam para Sérgio Cabral (PMDB). Segundo o Ministério Público Federal, por este telefone o ex-governador do Rio marcava encontros em locais como o Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do Executivo estadual, para discutir propinas em obras públicas.
A residência real de Nelma é um apertado quarto e sala de cerca de 30 metros quadrados na zona rural de Maricá, município da região metropolitana do Rio. Ela divide o imóvel com cinco parentes (dois filhos, a irmã, sobrinho e neto).
É um espaço pouco maior do que a cela de 16 metros quadrados ocupada por Cabral e outros cinco suspeitos presos pela Operação Calicute em Bangu 8.
Enquanto o peemedebista dorme numa das camas das três beliches da cela, Nelma divide o colchão de casal com os dois filhos e o neto. Irmã e sobrinho dormem na sala.
SASSARICANDO – Indicado numa nota de rodapé do pedido de prisão do ex-governador, o nome gerou uma série de especulações sobre a inspiração para o que se supôs ser apenas um personagem falso criado pelo ex-governador para dificultar investigações a seu respeito.
Apontou-se como possível inspiração o nome de uma secretária, Nelma Quadros, que trabalhara no jornal “O Pasquim”, fundado pelo jornalista Sérgio Cabral, pai do ex-governador. Segundo outra hipótese levantada, os sobrenomes Sá Saraca (na petição dos procuradores, aparece sem cedilha) seriam referência ao musical “Sassaricando”, também criado por Cabral pai.
NELMA REAL – Nelma, contudo, existe. Acorda de segunda a sábado às 6h para ir ao centro de Maricá. Vai (e volta, dez horas depois) andando por 50 minutos para economizar os R$ 2,70 cobrados de tarifa da van.
Com o salário de R$ 1.100, diz bancar os seis ocupantes do apartamento com telhado de amianto que não aguenta as fortes chuvas de verão. Pelo aluguel, paga R$ 450. “Isso aqui tudo alaga quando chove. É terrível”, disse ela, apontando para a cozinha, uma extensão da sala.
A doméstica diz não ter ideia sobre como seu nome e CPF foram parar no cadastro de um número usado pelo ex-governador –investigadores confirmaram à Folha que o registro do telefone foi feito com o CPF. Ela reagiu à informação, que soube pela reportagem na sexta-feira (2), com uma única frase. “Que sem-vergonha”, disse no portão da casa onde trabalha.
OUTROS LARANJAS – O número que Nelma diz nunca ter usado foi fornecido aos investigadores pelo delator Alberto Quintaes, executivo da Andrade Gutierrez.
Outros dois suspeitos apontados pela Procuradoria como operadores do esquema também usaram artifício semelhante. Carlos Emanuel Miranda, operador financeiro, tinha telefone em nome da empresa Boomerang Comércio de Veículos, e Wilson Carlos, de Luis Cláudio Maia.
Dificilmente o mistério sobre como os dados da doméstica foram usados será esclarecido. Este eventual crime é considerado irrelevante pelos investigadores frente aos indícios de corrupção e lavagem de dinheiro que envolvem Cabral. O tempo de apuração poderia prejudicar o esclarecimento de crimes mais graves.
Procurada pela Folha, a defesa de Cabral não respondeu.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Um salário de R$ 1.100,00 para sustentar uma família de seis pessoas, pagando aluguel de R$ 450,00, nos padrões da ONU, significa situação de miséria absoluta, enquanto Cabral vivia em riqueza total, às custas do desvio de recursos públicos que deviam ser prioritariamente usados para atender aos mais pobres. Se Cabral fosse japonês, seria condenado à pena de morte, por enforcamento. Aqui no Brasil, somos mais civilizados e inventamos a “dosimetria” da condenação, que sempre alivia os réus milionários e massacra os miseráveis(C.N.)


04 de dezembro de 2016
Italo Nogueira
Folha

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