"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

VOTE EM HILLARY: UMA SANTA QUE NUNCA FALOU PALAVRÃO


Hillary Clinton é diferente de Donald Trump. É santa, é anja, é freira, é feminista, não fala palavrão, é pura, recatada e do lar. E virgem.

Nunca antes na história da América uma eleição fez com que tantos jornais abandonassem a objetividade, preferindo fazer torcida aberta por uma candidata, como vários fazem por Hillary Clinton.

Dos óbvios New York Times, Los Angeles Times, Chicago Sun Times, Rolling Stone, New York Daily News, CNN e CBS (que constituem 100% daquilo que jornalistas brasileiros chamam de “imprensa americana”) aos extremistas MSNBC e Huffington Post, a surpresa veio de veículos que tendem à neutralidade, como a The Atlantic, que desde 1857 só endossou 2 candidaturas presidenciais – a terceira sendo de Hillary Clinton. O novato New York Observer, fundado em 1987, foi outro que saiu da coxia e deu suporte a uma Hillary Clinton vestida de Mulher Maravilha desde as primárias.


Nem mesmo a diminuta mídia conservadora declarou apoio a seu concorrente Donald Trump, fazendo pesada campanha contra o candidato republicano durante as primárias, como a icônica capa “Against Trump” da revista National Review, fundada por William F. Buckley Jr. e leitura semanal de Ronald Reagan. Mesmo depois de Donald Trump ser definido como o candidato do GOP, importantes colunistas e intelectuais conservadores, como Thomas Sowell, Ben Shapiro, Mark Levin, Glenn Beck, além de algumas das parcas revistas conservadoras como Commentary e Weekly Standard, continuam em forte campanha contra o icônico candidato republicano.

Uma análise superficial, perfeita para criar manchetes sensacionalistas no modelo “Toda a imprensa americana está contra Donald Trump” (ou, reduzindo-se a “imprensa americana” às três primeiras linhas de nosso segundo parágrafo, alardear que “Hillary Clinton vence primárias na Virgínia, segundo imprensa americana”) esconde dificuldades infranqueáveis a jornalistas apressados.

Por exemplo: quantas dessas críticas no jornalismo americano, mesmo à esquerda, dizem respeito ao potencial eleitoral de Donald Trump, quando comparado a outros possíveis candidatos republicanos? Quantas críticas a Donald Trump, ao invés de tratá-lo como o mais radical de extrema-direita maluco e ultraconservador do planeta, o criticam justamente por ter sido do Partido Democrata até há pouco tempo, ter enaltecido Barack Obama e seu Obamacare e ser amigo de longa data da família Clinton, que inclusive estava em seu casamento?


A impressão, comungada por 99% dos leitores de manchetes ao redor do mundo, de que Donald Trump é inglês para Primeiro Cavaleiro do Apocalipse, a Peste que trará a Guerra, a Fome e a Morte, enquanto Hillary Clinton, a Abençoada, a Virgem, a Santificada, a Escolhida (sobretudo pelo New York Times), uma Anja vestida de azul e concorrendo pelo Partido Democrata contra a Besta Fera do Fim do Mundo.

De fato, a visão de quem lê o noticiário não é exatamente muito diferente desta grotesca caricatura, mais exagerada do que a retórica goebbelsiana ou os desenhos de Tex Avery. Pouco ou nada é sabido sobre Hillary Clinton pela imprensa, que deveria informar algo sobre Hillary, a candidata democrata que, segundo a premissa universalmente assumida e presumida no discurso do jornalismo, é tão empoderada e feminista que não é apenas um Bill Clinton de saias, possuindo alguma suposta independência de seu marido e seu sobrenome.

Curiosamente, quem repete obedientemente tal narrativa tirada diretamente de uma linha de produção fordista de massa é quem se considera crítico, independente, impermeável à manipulação da própria mídia de quem copiou seu vocabulário. Ninguém se sente, digamos, alienado por ostentar e replicar tal verborréia.

Qual o plano de Hillary Clinton para o Oriente Médio? Como Hillary irá enfrentar ameaças como o Estado Islâmico, o Boko Haram? Sabendo-se que a imigração não afeta apenas a economia americana, mas sobretudo facilita o terrorismo, qual o plano “sem muros” de Hillary para a imigração no país mais poderoso e visado do mundo? Continuar como está? Entupir de “refugiados” e pronto? O que Hillary tem a dizer sobre o próprio Bill Clinton ter prometido fortalecer a fronteira com o México na década de 90, forçando o PolitiFact, também torcendo por Hillary, a um dos mais hilários fact-checking desta campanha (“não era um muro, era uma cerca”)?

Como ficará a relação com Israel, único país livre do Oriente Médio, tão estremecida durante a gestão Barack Obama? Como Hillary Clinton lidará com a Autoridade Palestina e o Hamas, digladiando-se entre si pelo controle do território palestino antes mesmo de seus atentados terroristas contra o povo israelense?

O que Hillary pensa sobre o livre mercado americano, se parece que, diferentemente de Bill Clinton, tem uma tendência muito mais controladora e reguladora da economia, como se vê por seus elogios recentes a Bernie Sanders?

Qual a opinião de Hillary sobre a feroz crise na saúde americana, que getrou o programa assistencialista extremamente criticado Obamacare? O que Hillary pensa sobre o elevadíssimo custo da saúde americana, além de financiar com o dinheiro do pagador de impostos a Planned Parenthood, entidade que promove abortos, sobretudo em bairros negros?


Que tal a OTAN e a política externa, em um país cuja política é quase externa por definição? 

Como Hillary enxerga o mundo? Pretende fortalecer o tratado militar com a Europa? Pretende diminuí-lo? Qual a alternativa? Com quem Hillary pretende aumentar o comércio? Hillary vê a América como polícia do mundo, ou após apoiar e votar pela Guerra do Iraque, hoje prefere a visão não-intervencionista em relação a países perigosos, preferindo a intervenção econômica no povo americano?

Ainda que Hillary Clinton possa ter uma opinião ou outra sobre tais temas, simplesmente nada disso é encontrável pelas notícias que pululam em tom de desespero sobre as eleições americanas.

O que se vê são apenas referências a quanto Donald Trump… bem, não quanto suas políticas são ruins (seu plano para a OTAN, por exemplo, soa quase genial para revitalizá-la para a geopolítica global do século XXI), mas sim para quantas vezes soltou a palavra fuck em um discurso. Ou o quanto seu plano de restringir a imigração de países promovendo terrorismo é “islamofobia”. Ou que seu plano de fortalecer a fronteira com o México exatamente como Bill Clinton pretendia (ah, ok, com “uma cerca”, no caso de Bill), é “racismo”. O quanto é “machista” por não ter tantas mulheres em seu staff quanto homens (nenhum comentário sobre a média salarial das mulheres na campanha e na Clinton Foundation ser menor do que a dos homens). E, claro, tentando forçar suas falas para parecerem “fascistas”.


17 outubro de 2016
flaio mogestern

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