Antes, foquemos em que pé estamos: interessados em controlar o sistema eleitoral, os bolivarianos decidiram estabelecer o financiamento público de campanha.
O fizeram por intenções óbvias: evitar que adversários conseguissem o mesmo nível de financiamento empresarial que o PT adquiriu no passado – o que permitiu que eles vencessem quatro eleições com um pé nas costas – e conhecer previamente o nível de financiamento de seus adversários (a partir do financiamento público). Isto seria decisivo para decidir o jogo no uso de verbas aparelhadas do estado, incluindo a Lei Rouanet e milhares de horas/aula destinadas à doutrinação, dentre o aproveitamento de outras brechas. Fazer tudo isso conhecendo previamente o poder do oponente é muito melhor, não?
Realize a seguinte situação na guerra tradicional. Imagine que seu exército tenha adquirido o maior volume de armamento possível nas batalhas das últimas duas décadas. Isso foi decisivo para suas vitórias nos últimos anos. Porém, o fluxo de aquisição de armas no mercado legal está complicado para você, pois seu país foi considerado um “mau pagador”. A partir desse momento, você consegue uma resolução na ONU para limitar a aquisição de armas para todos os seus adversários. Quer dizer: a partir do encerramento de uma vantagem para você, a luta é para criar a restrição para os demais. Porém, você sabe que se os demais se adequarem à nova restrição (determinada por você, para sua conveniência), também será possível conhecer o poder previamente dos demais, principalmente se você tem um método para furar a restrição. Ou seja, adquirir armas no mercado negro com mais facilidade que os demais.
O truque petista foi muito bem bolado, mas não deu muito certo nestas eleições, pois o colapso causado pelo PT foi amplo demais, bem como os escândalos de corrupção muito visíveis. Mas o plano é pensado para funcionar talvez em 2018 e certamente em 2022.
Assim, é preciso ter claro: o estabelecimento do financiamento público de campanhas, junto à proibição do financiamento empresarial, é o atendimento de uma demanda de extrema-esquerda, criada unicamente para beneficiar partidos especializados no saqueamento estatal. O melhor momento para implementar o truque foi aquele no qual o principal partido de extrema-esquerda – justamente o campeão no recebimento de verbas de empresas para campanha – parou de usar a regra em sua vantagem. Nem criança cairia no truque. Mas os deputados republicanos caíram.
Mas há um detalhe: um dos frames principais utilizados pelos bolivarianos – em todo processo de luta para implementar o financiamento público e proibir o financiamento empresarial – foi dizer: “empresa não vota”. Só faltou alguém dizer, pelo lado republicano: “o estado não vota”. Mas era pedir demais que o cérebro republicano funcionasse na mesma velocidade que o da extrema-esquerda.
Evidentemente, não é momento de apenas repelirmos o “voto em lista fechada” – outra armadilha petista, na qual Rodrigo Maia está doidinho para cair, feito patinho -, como também de desconstruirmos o financiamento público de campanha. Mas para isso será preciso fazer a seguinte pergunta: “O estado vota?”.
17 de outubro de 2016
ceticismo político
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