"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

SOBE A CORTINA E APARECEM OS VERDADEIROS ATORES

Critiquei, inúmeras vezes, aqueles que nos governos do PT se julgaram “estar no poder”. Entendo mesmo que esse foi o equívoco maior dentre os muitos que fizeram a maior promessa de uma real mudança na vida dos brasileiros ir por água abaixo, sorvida pelo redemoinho de falcatruas, corrupção, descrédito, desesperança. Hoje estamos órfãos e assistimos incrédulos, de um lado, ao maior líder dos operários brasileiros, aos prantos, desmentindo acusações; e de outro lado, a jovens bem-apessoados, com seus gráficos e projeções de PowerPoint, a apontarem os caminhos por onde o dinheiro público escoava.

Isso para citar apenas os crimes e escândalos nacionais, e não alongar por demais a lista, acrescentando crimes municipais e estaduais. Causa-me espanto, ainda, que neste mesmo jornal haja quem julgue pequena a quantia amealhada por Lula nesta tremenda crise por que passa o país.

Movem-me a escrever este artigo os muitos olhares cheios de desesperança ou os e-mails que recebo em que pessoas, conhecidas ou desconhecidas, se lamentam de que só os trabalhadores vão pagar pelo ajuste fiscal que se anuncia. Que se anuncia retirando direitos trabalhistas já precários ou mudança na aposentadoria, fantasma que nos assombra a todos e que foi a primeira grande reforma tanto de FHC quanto de Lula. E que agora vem sendo também anunciada aos quatro ventos por Michel Temer.

O ajuste fiscal neste país – dizem todos eles – seria culpa apenas de trabalhadores, de funcionários públicos (embora haja aí muitas distorções – e como!!!) e aposentados ou dos que um dia esperam se aposentar.

Nem uma palavrinha sobre os verdadeiros vilões: os bancos. Aqueles que a cada ano quadruplicam seus lucros, com os juros estratosféricos que cobram para financiar seja o governo, seja os que – induzidos pelo consumismo desenfreado – vivem pendurados no crédito em empresas ou diretamente nos próprios bancos, via cheque especial ou cartão de crédito. E miríades de motos e carros trafegam por ruas inadequadas a receberem tanto transporte individual – em lugar de substituir tantas tralhas por transporte público decente. Aqui, não. Quem não tem seu carro ou sua moto vai ter de se espremer num ônibus apinhado, ou num metrô idem, ou em trens de subúrbio, como no Rio de Janeiro, por exemplo.

O poder, leitores, é detido pelo sistema financeiro, que mama fartamente nas tetas de todos os governos, aqui e fora daqui. E que Lula privilegiou patrocinando a Emenda Constitucional 40/2003, além de ter iniciado seu governo também, como enfatizei, com uma reforma da Previdência.

Portanto, nem mesmo um operário tão admirado foi capaz de organizar, com sua liderança indiscutível, os pobres coitados como ele mesmo um dia foi. Nem de arrastar consigo os muitos milhares de intelectuais, cristãos ou gente de boa vontade, e toda sorte de pessoas de classe média que um dia ousaram cortar os laços com os ricos e apoiar o PT.

Resta-lhe, então, agora – muito triste! – chorar ante as iniciativas dos meninos da Lava Jato e tremer diante do juiz Sergio Moro.


22 de setembro de 2016
Sandra Starling foi deputada federal pelo PT-MG.
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo.

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