Os dados de vendas do varejo de maio decepcionaram. As previsões dos bancos e consultorias que costumam acertar ficaram bem distante da queda de 1%. A maioria previa alta. Mas isso não muda o fato de que o horizonte de 2017 é de recuperação da economia. O Brasil parou de piorar, mas nenhum processo de saída da recessão ocorre de forma linear, nem está garantido.
Haverá outros dados negativos. O comum será oscilar números ruins e bons. Amanhã vai sair o IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central, de maio. As projeções estão próximas de zero e vários economistas estão prevendo um índice ligeiramente negativo. O PIB mensal do Itaú, para maio, mostrou uma contração de 0,4%. Ao mesmo tempo os indicadores de confiança tiveram discretas melhoras. O saldo comercial de 2016 já superou o de todo o ano passado e deve terminar o ano em torno de R$ 50 bilhões. Em parte é resultado pela queda das importações, mas há setores elevando exportação. Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, explica como a economia brasileira reage.
— Pelo padrão histórico, a reação brasileira é rápida. A dúvida no caso atual é que a crise foi profunda, atingiu a confiança e o mercado de crédito. As empresas, antes de voltar a investir, vão ter que resolver a dívida delas com o banco.
O banco Santander está prevendo um crescimento de 2% no ano que vem, acima do 1,2% que o governo registrou no orçamento. Maurício Molin, economistachefe do banco, conta que para este ano a projeção está mais pessimista que a média do mercado. Acredita em recessão de 3,7%, mas acha que o país já estará crescendo no terceiro trimestre. Ele divide o processo de retomada em três passos. Começa pelo mercado financeiro que, por exemplo, já aposta em juros menores no futuro. Em seguida, vem a melhora na confiança, o que já está sendo visto entre os empresários. A última parte do processo é a recuperação dos indicadores da economia real. No caso da produção industrial, que não cai há três meses, o pior parece já ter passado.
— A confiança é fundamental para a retomada. Inclusive, a previsão sobre o crescimento de 2017 pode mudar se o ajuste não for aprovado como se espera. Ela, a confiança, vai propiciar a retomada do investimento, puxado pelos bens de capital na indústria e pela agricultura — disse.
Zeina também lembra que o ritmo da melhora depende do governo.
— A intensidade da recuperação vai depender do governo. Se o ajuste aprovado for desidratado, a retomada será mais fraca. Há muito ruído no cenário político.
A MB Associados está com a previsão de 2% de crescimento em 2017 desde o afastamento da presidente Dilma. O economista Sérgio Vale acha que o que permitirá a virada — de -3,3% este ano para alta de 2% — será a melhora do quadro fiscal, que poderá destravar o crescimento.
— Só será possível ter essa recuperação se as medidas fiscais forem aprovadas.
Mas o que Sérgio Vale alerta é que o desemprego vai piorar antes de começar a melhorar e levará mais tempo para se recuperar. Ele acha que a taxa de desocupação pode chegar a 13% em 2016, cair para 8,5% no final do ano que vem, fechando 2018 em 6%.
O caminho não será linear, como nunca foi. Mas desta vez as surpresas, sejam negativas, sejam positivas, serão maiores. O governo Temer será sempre marcado pela incerteza política, mesmo após superar o teste do impeachment. Essa instabilidade afetará as decisões de investimento e consumo, portanto, o ritmo do PIB.
Até agora o governo anunciou medidas fortes na área fiscal, como o teto para os gastos que, se adotado, terá um efeito duradouro na economia. Ao mesmo tempo, a administração está sendo sitiada de pedidos de aumentos salariais de funcionários. Uma coisa não conversa com a outra. Se for para ter limite de gastos não é possível aprovar na largada elevações nas despesas permanentes, mesmo que sejam reivindicações justas.
Por isso, até os economistas que estão com previsões mais positivas alertam que o quadro pode mudar dependendo do comportamento do governo. O problema não é ter sido divulgado, ontem, um número negativo para vendas de varejo, mas sim o de conviver com a incerteza nessa longa temporada de crise.
13 de julho de 2016
Miriam Leitão, O Globo
Haverá outros dados negativos. O comum será oscilar números ruins e bons. Amanhã vai sair o IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central, de maio. As projeções estão próximas de zero e vários economistas estão prevendo um índice ligeiramente negativo. O PIB mensal do Itaú, para maio, mostrou uma contração de 0,4%. Ao mesmo tempo os indicadores de confiança tiveram discretas melhoras. O saldo comercial de 2016 já superou o de todo o ano passado e deve terminar o ano em torno de R$ 50 bilhões. Em parte é resultado pela queda das importações, mas há setores elevando exportação. Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, explica como a economia brasileira reage.
— Pelo padrão histórico, a reação brasileira é rápida. A dúvida no caso atual é que a crise foi profunda, atingiu a confiança e o mercado de crédito. As empresas, antes de voltar a investir, vão ter que resolver a dívida delas com o banco.
O banco Santander está prevendo um crescimento de 2% no ano que vem, acima do 1,2% que o governo registrou no orçamento. Maurício Molin, economistachefe do banco, conta que para este ano a projeção está mais pessimista que a média do mercado. Acredita em recessão de 3,7%, mas acha que o país já estará crescendo no terceiro trimestre. Ele divide o processo de retomada em três passos. Começa pelo mercado financeiro que, por exemplo, já aposta em juros menores no futuro. Em seguida, vem a melhora na confiança, o que já está sendo visto entre os empresários. A última parte do processo é a recuperação dos indicadores da economia real. No caso da produção industrial, que não cai há três meses, o pior parece já ter passado.
— A confiança é fundamental para a retomada. Inclusive, a previsão sobre o crescimento de 2017 pode mudar se o ajuste não for aprovado como se espera. Ela, a confiança, vai propiciar a retomada do investimento, puxado pelos bens de capital na indústria e pela agricultura — disse.
Zeina também lembra que o ritmo da melhora depende do governo.
— A intensidade da recuperação vai depender do governo. Se o ajuste aprovado for desidratado, a retomada será mais fraca. Há muito ruído no cenário político.
A MB Associados está com a previsão de 2% de crescimento em 2017 desde o afastamento da presidente Dilma. O economista Sérgio Vale acha que o que permitirá a virada — de -3,3% este ano para alta de 2% — será a melhora do quadro fiscal, que poderá destravar o crescimento.
— Só será possível ter essa recuperação se as medidas fiscais forem aprovadas.
Mas o que Sérgio Vale alerta é que o desemprego vai piorar antes de começar a melhorar e levará mais tempo para se recuperar. Ele acha que a taxa de desocupação pode chegar a 13% em 2016, cair para 8,5% no final do ano que vem, fechando 2018 em 6%.
O caminho não será linear, como nunca foi. Mas desta vez as surpresas, sejam negativas, sejam positivas, serão maiores. O governo Temer será sempre marcado pela incerteza política, mesmo após superar o teste do impeachment. Essa instabilidade afetará as decisões de investimento e consumo, portanto, o ritmo do PIB.
Até agora o governo anunciou medidas fortes na área fiscal, como o teto para os gastos que, se adotado, terá um efeito duradouro na economia. Ao mesmo tempo, a administração está sendo sitiada de pedidos de aumentos salariais de funcionários. Uma coisa não conversa com a outra. Se for para ter limite de gastos não é possível aprovar na largada elevações nas despesas permanentes, mesmo que sejam reivindicações justas.
Por isso, até os economistas que estão com previsões mais positivas alertam que o quadro pode mudar dependendo do comportamento do governo. O problema não é ter sido divulgado, ontem, um número negativo para vendas de varejo, mas sim o de conviver com a incerteza nessa longa temporada de crise.
13 de julho de 2016
Miriam Leitão, O Globo
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