Dúvidas existem com relação à estratégia do deputado Eduardo Cunha. Bobo, ele nunca foi. Apesar das lágrimas e da emoção verificadas quando de sua renúncia à presidência da Câmara, tem algo de estranho no episódio. Seu objetivo é não ser cassado e não ir para na prisão. Entregar os anéis e preservar os dedos.
Aliás, nem todos os anéis, porque muito do que surripiou da Petrobras, do FGTS e mil outras instituições e empresas, com toda certeza permanece em seu poder, em especial no estrangeiro. Ou em nome de terceiros. Não está em seus planos deixar de ser milionário.
Há quem suponha uma armação, até com o beneplácito do palácio do Planalto. O resultado seria a diminuição dos prejuízos, ou seja, Cunha continuaria deputado, evitaria a prisão e manteria suas relações com Michel Temer. Claro que em troca de certas vantagens com que terá favorecido o presidente, desde a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Fácil não será essa progressão, mas possível, com certeza.
LIGAÇÕES PERIGOSAS – Eduardo Cunha é catedrático em leis, desde a Constituição, passando pelos regimentos do Congresso. Sua performance durante o ano e meio em que presidiu a Câmara foi indiscutível. Ganhou todas, só interrompendo sua trajetória vitoriosa com a renúncia de quinta-feira. Certamente de caso pensado, engendrada milimetricamente.
O que fica no ar é a possibilidade de ligações perigosas entre o parlamentar e o presidente da República.
Não se tem certeza de quando a Câmara votará a perda de mandato do personagem, nem de que iniciativa tomará o Supremo Tribunal Federal. A Comissão de Constituição e Justiça e o Conselho de Ética da Câmara estão acionados, assim como o plenário. A próxima semana será decisiva, tendo como resultado a sorte de Eduardo Cunha, mas ninguém se iluda: ele preparou cada lance da disputa e tem munição bastante mesmo para prejudicar Michel Temer.
MAIS SURPRESAS – Como o futuro da presidente afastada Dilma Rousseff também sofre dificuldades profundas, a conclusão é de surpresas e anormalidades sem conta.
No bojo das incertezas, sobra um personagem também na crista da onda: o Lula. Suas viagens pelo país ficam muito aquém das expectativas, mas apesar da perda de tempo a que se dedica para explicar seu passado recente, continua acreditando nas possibilidades de candidatar-se em 2018. Principalmente se contar com o apoio do Eduardo Cunha. Unem-se as duas pontas da corda capaz de surpreender meio mundo.
Em suma, a pergunta mais aguda é se o Brasil merecia isso. E a resposta inusitada é: merecia sim!
09 de julho de 2016
Carlos Chagas
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