"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

REINO UNIDO: VELHINHOS MÃO-NA-MASSA DÃO UM BAILE NA GERAÇÃO 'HASHTAG'


A geração mais mimada da história deixou de comparecer às urnas e assim aprendeu que não adianta nada somente fazer “textão”, sem cuidar da parte prática das coisas da vida.

Todos já sabemos, a esta altura, que os eleitores do Reino Unido optaram pela saída da União Europeia, um resultado eleitoral que espantou a muitos e decorreu da votação expressiva dos mais velhos.

Independentemente do mérito da decisão, há um dado importante a merecer debate por si só: a mesma rapaziada que simplesmente não foi votar (o voto por lá é optativo) agora está inconformada com o resultado.

O caso é perfeito retrato dessa “geração hashtag” (ou “juventude textão”). Em vez de adotar medidas efetivas e práticas, muitos (muitos!) jovens de hoje preferem enfrentar os problemas colocando banner em avatar de rede social, fazendo petições inócuas, criando eventos de existência apenas virtual e, claro, fazendo aqueles longos textões indignados (muitos até mesmo ficcionais, dentro da chamada “literatura de fanfic”).

Descobriram, afinal, que fazer apenas esse tipo de coisa não adianta nada. Os problemas só podem ser resolvidos por meio de ações concretas, não “lacradas” online.

Enquanto a molecada café-com-leite vive nesse mundo de fantasia, no qual TUDO é possível e NADA lhes pode ser negado, os mais velhos do Reino Unido – habituados a meter a mão na massa para resolver os problemas – deram um verdadeiro baile e, por que não dizer?, também uma surra eleitoral.

E falo aqui mais da improvável vitória do que da margem de votos, que foi mesmo apertada. Numa analogia: o time ganhar por 1 gol de outro supostamente bem mais forte tem efeito similar ao golear de 7 uma equipe parelha.

Vários argumentos estapafúrdios apareceram pra tentar explicar ou refutar o resultado, merecendo destaque (negativo) os que tentaram reputar menos valor ao voto dos mais velhos, já que teriam “menos tempo de vida” para arcar com os efeitos da decisão.

Isso é uma bobagem inacreditável, já que justamente os mais experientes – sobretudo os de lá – sabem muito bem, e por experiência própria, o que significa uma mudança geopolítica dessa monta. Se esse tipo de coisa dependesse apenas da meninada de 18/19 anos, aliás, todo o Reino Unido seria uma grande fazenda comunitária na qual cada um faria o que bem entendesse (para dali a dois meses entrar em colapso total).

De mais a mais, é melhor mesmo o futuro de um país ser decidido pela parcela da população que vai em peso para as urnas, obviamente mais preocupada com os fatos, ao contrário daquela fatia etária que dá de ombros para uma eleição, certamente mais interessada nos números de “like” e outras coisas igualmente importantíssimas.

A situação fica ainda mais vergonhosa quando se considera o dado estatístico: há bem menos pessoas maiores de 50 anos do que abaixo dessa idade. Por mais que uma população idosa cresça, em todo lugar esse número é sempre inferior àquele da mais jovem (com exceção talvez das praças de Águas de Lindóia e da torcida do Santos).

Os jovens do Reino Unido, portanto, preferiram não ir às urnas. E agora devem arcar com as consequências desse desleixo. Senão pela democracia, também pelo efeito pedagógico.

E é preciso ter MUITO respeito com os “velhos” que foram responsáveis por distribuir pontapés nos nazistas. Muito respeito, mesmo. No mesmo sentido, essa nova geração precisa acordar de uma vez para a vida real, que quase nunca se altera apenas por campanhas online – muitas das quais elaboradas ou apoiadas apenas por marketing pessoal de engajamento fingido.

Que o episódio, por fim, sirva para esse aprendizado. E que a molecada agradeça aos “velhos” também por mais essa lição.



27 de junho de 2016
Fernando Gouveia é editor e co-fundador do Implicante, onde publica suas colunas às segundas-feiras.

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