Já disse em artigo anterior que Sérgio Machado era o homem fatal de Nelson Rodrigues, pois todos os assuntos em que toca transformam-se em colisões de grande porte, levando inclusive seus personagens ao desastre.
As reportagens de Rubens Valente, publicadas na Folha de São Paulo, têm constatado o fenômeno.
Depois das gravações de Machado com Romero Jucá e Renan Calheiros, Rubens Valente publicou mais um longo diálogo, desta vez com o ex-presidente José Sarney.
Estranho poder o do ex-presidente da Transpetro, que lhe proporcionou acessos tão demorados com os três políticos.
Talvez uma das chaves que abrem a porta desse poder encontre-se numa frase do ex-presidente José Sarney, quando diz a Machado que uma delação a ser feita pela Odebrecht representa uma metralhadora de calibre ponto 100.
UM SUPERPARTIDO?
Somado a outros fatos, entre os quais que a maior empreiteira do país criou um Departamento para administrar atos de corrupção, pode se supor que a Odebrecht desenvolvia um projeto para se tornar um super partido político, com atuação no Brasil e também no exterior. Esse superpartido político movimentava recursos provenientes em superfaturamentos de contratos, principalmente na Petrobrás.
Daí o temor de Jucá, Renan e Sarney, e agora de Michel Temer, de que o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht venha a divulgar segredos existentes nas sombras que envolvem a empreiteira e suas pontes com o universo político.
Tanto assim que, em sua coluna na FSP edição de quinta-feira, Natuza Nery revela que o presidente da República foi aconselhado por assessores próximos a selecionar entre os indicados para postos no governo, nomes de pessoas não incluídas nos inquéritos em curso na Operação Lava-Jato.
REAÇÃO DO SUPREMO
O Supremo Tribunal Federal, como era previsto, reagiu às declarações de Machado, com o ministro Teori Zavascki aceitando sua inclusão no esquema de delações premiadas. Com isso, diretamente, a Corte Suprema irá analisar as denúncias apresentadas pelo ex-presidente da Transpetro, obrigando assim a que façam parte do provável indiciamento das pessoas a quem ele acusa de participação em seu processo.
Sim, porque não poderia ser outra a interpretação de sua iniciativa de gravar diálogos sombrios em torno de processos judiciais, sobretudo tendo como primeiro ponto de sustentação que ele próprio, Machado, conseguisse escapar do julgamento por parte do juiz Sérgio Moro. Trata-se, portanto, da figura jurídica de uma confissão por ação tácita, pois afinal de contas quais as razões que o levam a temer ser julgado na primeira instância? Aliás, seria um absurdo supor o contrário, já que Sérgio Machado não possui a mínima condição de ser julgado pelo foro especial do STF.
AMEAÇA AOS OUTROS
Suas gravações assim fazem parte nitidamente de uma sequência de tentativas de ameaçar seus interlocutores, caso deles não obtivesse o apoio absurdamente desejado e colocado com todas as letras. Sérgio Machado é o homem que sabe demais. Entretanto, seu conhecimento é superado pelas informações que a Odebrecht possa acrescentar a esta triste fase da vida política brasileira. Os comprometimentos dos personagens são múltiplos e profundos. Não há dúvida alguma.
27 de maio de 2016
Pedro do Coutto
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