A gente sabe como começa, mas não sabe como acaba. A votação dos senadores sobre a admissibilidade do impeachment da presidente Dilma tem seu início marcado para a manhã de hoje, mas vai durar até de noite, ignorando-se se entrará pela madrugada de amanhã. Pelo menos 60 oradores estão inscritos, a maioria favorável ao início do processo. Uma vez colhidos os votos, tudo indica que Madame estará afastada do exercício de suas funções por 180 dias, quando se dará o julgamento das acusações que pesam sobre ela.
Condenada, estará fora do jogo político, sendo que Michel Temer, ocupando interinamente as funções presidenciais a partir de amanhã, assumirá em definitivo até o final do mandato, a 31 de dezembro de 2018. Caso, é óbvio, não sobrevenham surpresas, dessas a que quase nos acostumamos.
Devemos estar preparados para conturbações e inusitados que, aliás, já entraram ontem em sua fase mais aguda, como manifestações de toda ordem, em diversos Estados. Rodovias têm sido interrompidas, ruas e praças ocupadas, entreveros variados entre partidários da presidente Dilma e seus adversários.
DAQUI PARA FRENTE
Vexame igual raríssimas vezes tem ocorrido na República, fazendo prenunciar que nada se normalizará daqui para frente. O Brasil está dividido, ao contrário do Congresso, onde prevalece a tendência antigoverno. O ideal seria que a população ficasse à margem, mas as emoções espontâneas ou fabricadas fazem prever o contrário. O resultado é que o Brasil vive um de seus piores momentos, destacando-se a crise econômica acima e além da crise política.
A hesitação do ainda vice-presidente Michel Temer em compor seu ministério e, especialmente, em definir seu programa de governo, só faz aumentar as agruras nacionais. Não dá para calcular quanto andamos para trás em termos de crescimento, esperança e previsões. Muito menos de miséria e desilusão.
VIRADA DO JOGO
Continuamos aguardando a virada do jogo, mas a conclusão é de que isso só ocorrerá com mudanças profundas nas estruturas institucionais e políticas. A corrupção, apesar de combatida, dá a impressão de ter aumentado. Há quem suponha que apenas com imediatas eleições gerais será possível reverter o quadro, mas o perigo será trocarmos seis por meia dúzia, como já vai acontecer na Esplanada dos Ministérios.
Pelo menos a reforma econômica faz-se imprescindível, porém do que mais se fala é da troca das garantias trabalhistas pela “livre” negociação entre patrões e empregados, da desvinculação do salário mínimo da justiça social, do aumento de impostos e do aumento do desemprego. Não há possibilidade de união nacional, já que nenhuma categoria admite abrir mão de seus privilégios e regalias.
HORIZONTES NEBULOSOS
A classe política, em vez de encontrar e buscar soluções, mais se aferra às suas vantagens. A classe trabalhadora não encontra forças para sustentar antigas conquistas e as elites parecem prestes a ampliar suas benesses.
Em suma, se os horizontes parecem cada vez mais nebulosos, continuamos à espera de milagres, inexistentes em meio à desesperança. Entre Dilma e Temer, damos um pela outra e não queremos volta.
11 de maio de 2016
Carlos Chagas
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