No dia em que Dilma Rousseff viajou para os EUA com a intenção de denunciar o que chama de golpe de Estado representado pelo processo de impeachment, o vice-presidente Michel Temer lançou uma contraofensiva na imprensa internacional para rebater a tese de que o possível afastamento da presidente represente ruptura da ordem institucional do país.
Temer concedeu entrevistas separadamente a duas das principais publicações especializadas em finanças do mundo – o nova-iorquino “The Wall Street Journal” e o londrino “Financial Times”– para rejeitar a pecha de golpista que Dilma tem lhe atribuído. O peemedebista também diz que revelará os integrantes de seu ministério quando o momento chegar.
Foram as primeiras manifestações públicas mais aprofundadas do peemedebista desde que 367 dos 513 deputados da Câmara –mais do que os 342 exigidos pela lei– aprovaram a continuidade do processo de impeachment, no último domingo (17).
CONSTITUIÇÃO
“Se cada etapa do impeachment está de acordo com a Constituição, como pode ser golpe?”, disse Temer à publicação americana.
Se o Senado der continuidade ao processo iniciado pela Câmara, Dilma será afastada por até 180 dias, sendo substituída por Temer. Em caso de condenação, o peemedebista fica no cargo até a posse do sucessor escolhido pelas urnas em 2018.
Dilma pretende dizer nos EUA que as chamadas pedaladas fiscais não constituem motivo suficiente para seu afastamento e que ela não é alvo de acusações de corrupção, diferentemente de grande parte dos congressistas que votaram para destituí-la.
Ao internacionalizar o discurso de que o impeachment solapa a democracia brasileira, Dilma busca minar a legitimidade de Temer aos olhos da comunidade internacional.
TEMER REBATE
Falando na condição de presidente interino devido à viagem de Dilma ao exterior, Temer disse que deixará o cargo com a volta da titular, no sábado (23), o que prova do funcionamento regular das instituições no país.
O peemedebista expressou descontentamento com as recentes acusações de que esteja conspirando para destituir a presidente e, assim, tomar o lugar dela.
“O fato de ela estar dizendo que eu sou um golpista é obviamente perturbador para mim e para a vice-presidência da República”, disse.
CUIDAR DA DEFESA
Ele criticou a companheira de chapa com quem foi eleito em 2010 e reeleito em 2014. Segundo ele, Dilma deveria cuidar da sua defesa no Senado, etapa seguinte do processo de impeachment, ao invés de criar problemas para o Brasil fazendo “falsas declarações” no exterior.
“O que ela deveria fazer, na minha opinião, é defender-se no Senado, com argumentos sólidos e então o Senado não vai julgá-la nem afastá-la”, disse, ao “Financial Times”.
Também ao diário britânico, Temer relatou que Dilma perdeu, simultaneamente, base de sustentação no Congresso e apoio da população.
DIZ A DATAFOLHA
Segundo pesquisa Datafolha publicada no início de abril, o governo Dilma é avaliado como ruim ou péssimo por 63% dos brasileiros.
“Quando ela me acusa de ser um conspirador ou um conspirador ou um golpista, eu me pergunto se eu realmente teria a capacidade de influenciar 367 deputados e 70% da população brasileira. Trata-se de algo sem o menor fundamento”, afirmou Temer.
Temer também se disse preparado para montar um novo governo no caso de o Senado aprovar a continuidade do processo de impeachment, mas evitou mencionar quem pretende nomear.
“Quando o tempo chegar, eu terei o governo na minha cabeça e só então vou anunciar os nomes”, disse.
22 de abril de 2016
Graciliano Rocha
Folha
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