A presidente Dilma Rousseff embarcoua nesta quinta-feira, 21, em viagem aos Estados Unidos para participar amanhã da cerimônia de assinatura do acordo de Paris sobre o clima, em Nova York. Com isso, deixa a chefia do Executivo a cargo do vice Michel Temer, em meio ao trâmite do pedido de impeachment no Congresso. A petista aproveitará a rápida passagem pela metrópole americana para repetir o discurso de que seria vítima de “golpe”.
Dilma havia desistido da viagem oficial, mas mudou de ideia. O discurso da brasileira no evento está previsto para amanhã às 9h40 (horário de Brasília). Ao subir à tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU), a presidente pode aproveitar a fala de até cinco minutos para “denunciar o golpe”, segundo assessores do Planalto.
Embalada pela avaliação de que órgãos da imprensa internacional compraram a ideia de Dilma ser alvo de uma “vingança” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é réu no Supremo Tribunal Federal por envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, Dilma vai aproveitar para conceder em Nova York pelo menos duas entrevistas à mídia estrangeira – uma amanhã, outra no sábado. Em ambas, pretende dizer que a democracia “está em perigo” no Brasil.
PROTESTO EM NY
Em contrapartida, Dilma deve enfrentar um protesto que está sendo divulgado nas redes sociais pelo Movimento Vem Junto, na cidade americana. No Brasil, parlamentares da oposição também se manifestaram contrários à ida da presidente aos EUA e à intenção de falar do impeachment na tribuna da ONU.
“É inaceitável a presidente utilizar uma viagem internacional para denegrir a imagem do Brasil no exterior”, afirmou o senador Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM no Senado.
O Solidariedade entrou com ação civil e interpelação criminal na Justiça Federal e no Supremo Tribunal Federal, a fim de obter uma liminar que determine que Dilma “se abstenha de utilizar tais organismos internacionais para fins estritamente pessoais”.
“INDIGNAÇÃO”
O ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) rebateu as acusações da oposição. “A presidente vai para o exterior para destacar mais um ponto alto produzido pelo seu governo, que foi a assinatura do Acordo do Clima (COP-21), no qual há um reconhecimento internacional da conquista desse marco em defesa do meio ambiente. Ela será perguntada sobre o momento político atual e não poderá deixar de manifestar sua indignação com o golpe que se está construindo no Brasil.”
Na ausência de Dilma, Temer assumirá a Presidência interinamente. Mas a equipe do vice não tinha sido avisada da viagem de Dilma até o fim da tarde de ontem.
Temer, que tem sido chamado de “traidor” por Dilma, não pretende ir a Brasília e deve permanecer nesse período em São Paulo, sem agendas externas.
NO PAPEL DE “VÍTIMA”
Enquanto isso, nos EUA Dilma deve insistir ser “vítima de um golpe em que se usa de uma aparência de processo legal e democrático para perpetrar um crime que é a injustiça”. A brasileira deve lembrar que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Nacional das Nações Sul Americanas (Unasul) questionam o processo de impeachment no País.
Esse gesto, no entanto, ignora que a ONU prefere manter uma postura neutra no episódio. O porta-voz Stéphane Dujarric minimizou o processo de impeachment no País e disse que o Brasil tem “tradição democrática” e “instituições de Estado fortes”.
Dujarric acrescentou que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, acompanha “de perto” a situação política no Brasil e afirmou estar “confiante que os atuais desafios do País serão resolvidos em conformidade com a Constituição e o quadro legal”.
22 de abril de 2016
Tânia Monteiro e Vera RosaEstadão
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