"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VÁLVULA DE PRESSÃO

Participei recentemente de duas reuniões interessantes. Na primeira, exportadores disseram que a situação melhorou com a desvalorização cambial e melhorará mais se o dólar seguir subindo. Na segunda, industriais que usam insumos importados atacaram a alta do dólar por elevar custos na recessão. O que uniu os grupos foi a cobrança de postura mais ativa do governo –um, por mais aumento do dólar; outro, por sua contenção.

Isso deixa claro as dificuldades para definir taxa de câmbio ideal do país –ela muda de acordo com a atividade. O nível correto é o definido pela livre flutuação da moeda e resultado da entrada e saída de capitais do país.

Em 2003 e 2004, quando o real estava mais depreciado que hoje, as exportações começaram a crescer enquanto a estabilização econômica elevava a confiança das empresas para investir. Essa conjuntura atraiu dólares para a produção e o mercado de capitais e facilitou a emissão de títulos no exterior de empresas brasileiras em expansão. O aumento do saldo comercial e de conta corrente valorizou o real, movimento depois reforçado pela alta das commodities.

Simplificando equação, o câmbio reflete dinâmicas da economia internacional e, no plano interno, três números básicos: o preço das commodities, a taxa de risco do país e a conta corrente com o exterior. Quanto maior o risco, maior a taxa de retorno exigida para aplicar no Brasil, o que reduz a entrada de dólares. Já quanto maior o preço das commodities, mais dólares entram.

Não se pode controlar artificialmente um preço que é resultado dessas dinâmicas. Por isso, tentativas de governos de controlar o câmbio têm fracassado ao longo da história, inclusive no Brasil.

O que é possível fazer, e isso confunde muita gente, é absorver os excessos ou combater a falta de liquidez que podem causar distorções nos mercados. O controle do nível de liquidez é função básica do Banco Central, seja de moeda nacional, seja de estrangeira.

Na maior parte da década passada, dado o excesso de entrada de dólares, o BC compôs reservas internacionais significativas, absorvendo o excesso de liquidez, o que é muito diferente de tentar controlar o câmbio. O real permaneceu forte não pela ação do BC, mas pelos bons fundamentos da economia, que trouxeram ao país grande volume de capitais pela via das commodities e pelo baixo risco-país. Isso mesmo com o BC comprando dólares.

A taxa de câmbio deve funcionar como válvula de pressão para que a panela não exploda. No câmbio, como nos demais preços, a dinâmica de oferta e procura deve prevalecer. A discussão sobre a melhor taxa cambial para o país é inútil e pode nos levar a caminhos perigosos, como nos nossos vizinhos.



11 de setembro de 2015
Henrique Meirelles, Folha de SP

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