A presidente Dilma Rousseff escolheu mais uma vez recolher-se ao conforto que a supina ignorância dos fatos proporciona a quem a alega para justificar por que não tomou as medidas necessárias para evitar que o País se esboroasse. Em entrevista a três jornais na última segunda-feira, convocada às pressas para tentar explicar uma reforma administrativa confusa e oportunista, Dilma quis convencer os leitores de que “não dava para saber” no ano passado o tamanho da crise econômica. Ao dizer isso, ela torna a apostar que todos os brasileiros são mais alienados da realidade do que ela.
De tão recorrente, a estratégia de Dilma de dizer que “não sabia” se tornou o bordão de seu governo. O caso da Petrobrás é exemplar. Embora na última década ela tenha ocupado cargos que lhe davam poder suficiente para saber o que se passava em cada sala dos escritórios da principal estatal brasileira – foi ministra de Minas e Energia, presidiu o Conselho de Administração da Petrobrás e chefiou a Casa Civil, além de ter se tornado presidente da República com fama de especialista em energia, durona e centralizadora –, Dilma alegou, candidamente, que desconhecia o processo de destruição da empresa, que envolvia a corrupção de vários de seus principais executivos e bilhões de reais desviados. “Eu não tinha a menor ideia de que isso acontecia na Petrobrás”, declarou ela ao Estado em setembro de 2014.
Agora, mantendo esse padrão, Dilma declara que não sabia do envolvimento de petistas no escândalo do petrolão. “Eu não imaginava. Fui surpreendida. Lamento profundamente”, disse a presidente na mais recente entrevista, emulando seu criador, o ex-presidente Lula, que, na eclosão do escândalo do mensalão, deu essa inesquecível declaração aos brasileiros: “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o País”.
Mas Dilma admite ser ignorante não apenas em relação à corrupção que carcome seu governo à vista de todos. Para espanto geral, a “gerentona” petista disse, a respeito da crise econômica, que errou ao ter “demorado tanto para perceber que a situação poderia ser mais grave do que imaginávamos”. E ainda tentou dividir com seus governados o fardo de sua ignorância, ao dizer que “ninguém imaginava isso”.
Ora, os dados a respeito da degradação da economia, fruto das políticas irresponsáveis de uma presidente que atropelou, uma a uma, todas as regras da boa administração, estavam disponíveis para quem estivesse disposto a vê-los. Já em meados do ano passado, a arrecadação federal apresentava queda, e as contas do governo sobreviviam com Refis e pedaladas. A crise que Dilma só agora admite ver não começou ontem.
Mas Dilma tinha uma eleição a ganhar e, conforme suas próprias palavras, ela se sentiu autorizada a fazer “o diabo” contra seus adversários, atribuindo-lhes a intenção de tomar medidas de austeridade que ela mesma agora é obrigada a adotar. Não se pense, contudo, que a petista se emendou.
Todas as decisões que tomou para contornar a crise são meros truques para tentar engambelar a plateia. O ajuste fiscal, que já era tímido, foi escalpelado no Congresso graças à desastrada condução política de Dilma. E agora a presidente diz que aceita cortar Ministérios – medida que, durante a campanha eleitoral, ela classificou de “lorota”.
Como de hábito, Dilma não sabe quais pastas serão suprimidas, mas calcula que serão fechados cerca de mil dos 22,5 mil cargos comissionados. Isso dá apenas 5% do total – uma taxa de desemprego de apaniguados bem menor do que a enfrentada pelos brasileiros em geral, que caminha para os dois dígitos.
Diante de tudo isso, não há razão para crer que, embora finalmente tenha se dado conta dos imensos problemas do País, Dilma tenha decidido fazer o básico para resolvê-los. Ao contrário: com suas decisões erráticas, motivadas pela desesperada necessidade de se manter no poder, a presidente tende a perenizá-los.
11 de setembro de 2015
Editoral O Estado
De tão recorrente, a estratégia de Dilma de dizer que “não sabia” se tornou o bordão de seu governo. O caso da Petrobrás é exemplar. Embora na última década ela tenha ocupado cargos que lhe davam poder suficiente para saber o que se passava em cada sala dos escritórios da principal estatal brasileira – foi ministra de Minas e Energia, presidiu o Conselho de Administração da Petrobrás e chefiou a Casa Civil, além de ter se tornado presidente da República com fama de especialista em energia, durona e centralizadora –, Dilma alegou, candidamente, que desconhecia o processo de destruição da empresa, que envolvia a corrupção de vários de seus principais executivos e bilhões de reais desviados. “Eu não tinha a menor ideia de que isso acontecia na Petrobrás”, declarou ela ao Estado em setembro de 2014.
Agora, mantendo esse padrão, Dilma declara que não sabia do envolvimento de petistas no escândalo do petrolão. “Eu não imaginava. Fui surpreendida. Lamento profundamente”, disse a presidente na mais recente entrevista, emulando seu criador, o ex-presidente Lula, que, na eclosão do escândalo do mensalão, deu essa inesquecível declaração aos brasileiros: “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o País”.
Mas Dilma admite ser ignorante não apenas em relação à corrupção que carcome seu governo à vista de todos. Para espanto geral, a “gerentona” petista disse, a respeito da crise econômica, que errou ao ter “demorado tanto para perceber que a situação poderia ser mais grave do que imaginávamos”. E ainda tentou dividir com seus governados o fardo de sua ignorância, ao dizer que “ninguém imaginava isso”.
Ora, os dados a respeito da degradação da economia, fruto das políticas irresponsáveis de uma presidente que atropelou, uma a uma, todas as regras da boa administração, estavam disponíveis para quem estivesse disposto a vê-los. Já em meados do ano passado, a arrecadação federal apresentava queda, e as contas do governo sobreviviam com Refis e pedaladas. A crise que Dilma só agora admite ver não começou ontem.
Mas Dilma tinha uma eleição a ganhar e, conforme suas próprias palavras, ela se sentiu autorizada a fazer “o diabo” contra seus adversários, atribuindo-lhes a intenção de tomar medidas de austeridade que ela mesma agora é obrigada a adotar. Não se pense, contudo, que a petista se emendou.
Todas as decisões que tomou para contornar a crise são meros truques para tentar engambelar a plateia. O ajuste fiscal, que já era tímido, foi escalpelado no Congresso graças à desastrada condução política de Dilma. E agora a presidente diz que aceita cortar Ministérios – medida que, durante a campanha eleitoral, ela classificou de “lorota”.
Como de hábito, Dilma não sabe quais pastas serão suprimidas, mas calcula que serão fechados cerca de mil dos 22,5 mil cargos comissionados. Isso dá apenas 5% do total – uma taxa de desemprego de apaniguados bem menor do que a enfrentada pelos brasileiros em geral, que caminha para os dois dígitos.
Diante de tudo isso, não há razão para crer que, embora finalmente tenha se dado conta dos imensos problemas do País, Dilma tenha decidido fazer o básico para resolvê-los. Ao contrário: com suas decisões erráticas, motivadas pela desesperada necessidade de se manter no poder, a presidente tende a perenizá-los.
11 de setembro de 2015
Editoral O Estado
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