"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de setembro de 2015

JOGO, AJUSTE FISCAL E LIBERDADE

Só 1% das pessoas são viciadas em jogos de azar

A proposta de legalizar os jogos de azar para complementar o ajuste fiscal dá a medida do desespero do governo Dilma Rousseff. Vale lembrar, o primeiro escândalo da administração Lula, o caso Waldomiro Diniz, envolvia propinas, financiamento de campanha e bicheiros. De todo modo, ainda que por razões diferentes, aqui eu fecho com o governo: a proibição do jogo não faz sentido.
Tirando o moralismo difuso, os opositores da jogatina se apoiam em dois argumentos racionais. Dizem que a legalização tenderia a agravar o problema dos apostadores patológicos e lembram que a existência de cassinos e assemelhados facilita muito a lavagem de dinheiro. Não creio que essas objeções resistam a uma análise mais criteriosa.

UM VÍCIO REAL
A ludopatia é um fenômeno real, que pode ter consequências catastróficas para o indivíduo e sua família e que, em algum grau, está correlacionado à oferta de oportunidades para jogar. Ainda assim, é uma moléstia que afeta parte diminuta da população. Segundo metanálise de Jamie Wiebe e Rachel Volberg, de 2007, que avaliou mais de cem estudos, a prevalência mundial de pessoas que têm problemas sérios com jogo não passa de 1%. Ora, a proporção de alcoólatras é significativamente maior, mas ninguém pensa seriamente em resolver o problema proibindo bares.

LAVANDO NA IGREJA
Algo parecido vale para a lavagem de dinheiro. Cassinos podem ajudar bandidos a simular origem legal para seus recursos. Igrejas conseguem fazer o mesmo com eficiência ainda maior, mas não ouvimos muitas vozes defendendo o fechamento das casas de Deus. Como já ensinavam os antigos, “abusus non tollit usum” (o abuso não impede o uso).
O que sobra, portanto, é a questão da liberdade. E, se é lícito que um sujeito torre todo o dinheiro dele em maus investimentos ou com amantes e prostitutas, não vejo motivo para impedi-lo de obter o mesmo resultado na roleta, no pôquer ou no 21.

27 de setembro de 2015
Hélio SchwartsmanFolha

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