O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), enviou a todos os integrantes da CPI da Petrobras documentos para se defender da sua vinculação aos requerimentos suspeitos de terem sido feitos para achacar uma empresa no esquema de corrupção da estatal.
A Folha revelou na terça-feira (28) que o nome “dep. Eduardo Cunha” aparece nos registros oficiais como “autor” dos arquivos em que foram redigidos requerimentos investigados na Operação Lava Jato. Ele nega relação com o episódio e afirmou haver um complô do setor de informática da Câmara com o objetivo de envolvê-lo no esquema de desvio de recursos da Petrobras.
Na quarta (29), reportagem da Folha mostrou que o complô apontado por Cunha, devido a divergências entre datas no documento, é na verdade rotina na Câmara.
Cunha enviou à CPI cópias do sistema da Câmara que mostram que os papeis suspeitos foram autenticados – espécie de assinatura digital necessária para que os arquivos deem entrada no sistema digital da Casa – pelo gabinete da ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), sua aliada. Nada informou, porém, sobre seu nome aparecer como “autor” dos arquivos, embora tenham sido protocolados pela ex-deputada.
O ato do presidente à CPI ocorre porque, em depoimento espontâneo feito por ele à comissão, Cunha havia dito não ter nenhuma relação com os requerimentos. Nos bastidores, parlamentares avaliam que o aparecimento de Cunha como “autor” dos arquivos pode causar danos políticos ao presidente, porque ele pode ser acusado de ter mentido à CPI. Questionado sobre isso pela Folha na última segunda (27), ele afirmou não ter mentido e sustentou que não teve relação com os requerimentos.
DOCUMENTOS
Os documentos foram enviados ao presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), citando nominalmente a reportagem da Folha. Depois, o material de defesa de Cunha foi enviado diretamente aos integrantes da CPI por determinação de Hugo Motta, que é aliado de Cunha.
Normalmente os documentos protocolados na CPI ficam à disposição dos integrantes, mas não chegam a ser enviados diretamente a todos eles.
Na última sessão da CPI, na terça (28), o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) pediu prioridade para a convocação de Solange Almeida, com o objetivo de que ela esclareça as suspeitas à comissão.
Segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef à Polícia Federal e ao Ministério Público, o hoje presidente da Câmara apresentou requerimentos contra a empresa Mitsui com o objetivo de forçá-la a retomar o pagamento de propinas que havia sido suspenso.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esta matéria foi publicada simultaneamente pela Folha e pelo Globo, terça-feira, com um dado em comum – nenhum dos jornais ouviu Eduardo Cunha antes de fazer a denúncia, como é praxe no jornalismo. No dia seguinte, quarta-feira, Cunha mostrou que os registros no gabinete dele foram feitos um mês depois dos registros no gabinete da então deputada Solange Almeida, fato que muda bastante a questão, mas nem a Folha nem o Globo publicaram este detalhe. Na quinta-feira, voltaram a insistir no assunto, sem citar o argumento de Cunha, que então procurou os membros da CPI da Petrobras, para se defender diretamente da Folha, mas esqueceu de mencionar O Globo, que está agindo da mesma forma. Traduzindo: Cunha topa brigar com a Folha, mas não tem peito de enfrentar O Globo, que tem muito mais poder. (C.N.)
01 de maio de 2015
Deu na Folha
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