O governador de Minas, Fernando Pimentel, não citou nomes mas deixou claro que estava comparando a história de Tiradentes com algum ou alguns personagens da política de hoje.
Depois de lembrar que o alferes foi um subversivo condenado injustamente para depois ser recuperado como um herói da liberdade, arrematou no último dia 21, em cerimônia em Ouro Preto: “Não poderia ser mais adequado neste momento da história brasileira celebrarmos Tiradentes”.
Quem, pois, estaria sofrendo a mesma injustiça? O primeiro suspeito, quer dizer, o primeiro nome possível seria o de Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, condecorado com o Grande Colar da Inconfidência, a mais alta honraria de Minas.
Qual seria a injustiça sofrida pelo magistrado? Objetivamente, não há nada contra ele, nem nos tribunais nem na política. Há críticas de que ele teria sido, digamos, muito tolerante com o pessoal do PT no julgamento do mensalão, mas essa é uma opinião entre outras e que, certamente, não causou qualquer prejuízo ao magistrado. Tanto que foi eleito presidente da Corte logo depois do julgamento.
O segundo suspeito, quer dizer, o segundo nome ao qual Pimentel poderia estar se referindo é o de José Dirceu — este, sim, um condenado. Um condenado símbolo. E isso remete ao discurso do PT, partido do governador mineiro: os mensaleiros não foram mensaleiros, porque não houve mensalão; foram agentes políticos lutando pela liberdade e bem-estar do povo.
Eis, portanto, o que Pimentel poderia estar querendo dizer: petistas honrados, simbolizados por José Dirceu, foram injustamente condenados num julgamento viciado, contra o voto, heroico, de Lewandowski.
Se for isso, Pimentel estava também fazendo uma defesa prévia do pessoal acusado na Lava-Jato. Também seriam vítimas do atual sistema dominante.
Seriam todos Tiradentes, de Lewandowski a Dirceu e Vaccari.
O problema é que o PT é o poder dominante. Seria opressor contra seus próprios quadros? Não pode.
Logo, deve haver por aí um outro poder, este sim julgando e condenando os Tiradentes contemporâneos. Esse poder só pode ser aquele representado, 13 anos atrás, no governo FH.
Resta um probleminha: toda vez que são acusados de algum deslize, desde caixa dois até dinheiro sujo de campanha e pedaladas fiscais, os atuais ocupantes do poder federal dizem que fazem a mesma coisa que se fazia no governo FH e mesmo muito antes.
Donde se conclui, por esse tortuoso caminho: ou são todos culpados ou são todos Tiradentes.
A conclusão de verdade é que continua a sina do nosso herói.
E sem contar que ainda estão aumentando impostos.
Lava-Jato, a peça chave
A verdade é que o ministro Joaquim Levy avança bastante bem. Ganhou, por exemplo, na última cartada, a intensa série de conversas que manteve no FMI e com os investidores globais. Se não os convenceu plenamente, pelo menos plantou a expectativa de que sua política econômica pode funcionar e colocar o Brasil nos eixos. Mais do que isso: fez o pessoal acreditar, pelo menos por enquanto, que a política é dele, Levy, e tem a concordância (ou a tolerância conformada, segundo os mais céticos) da presidente Dilma.
Por aqui, o ministro também vai passando essa impressão. Lança uma medida atrás da outra e aponta a direção a todo momento (ajuste fiscal, concessões para investimentos privados, reformas micro para facilitar a vida de quem quer fazer negócios honestamente). Ou seja, uma agenda de mercado ou, como diria João Pedro Stédile, um programa neoliberal praticado por um agente infiltrado.
O fato é que o mercado está gostando. É verdade que o pessoal não gosta nem um pouco dos aumentos de impostos — e o ministro aqui também não vacila. Diz a todo instante que boa parte do ajuste se faz com aumentos da receita. Mas se isso ajudar a sair do atual buraco, dizem, vá lá.
A presidente Dilma não admitiu que sua política anterior estava errada. Nem vai admitir, parece. Levy já disse algumas vezes que, sim, estava errada. Mas depois de algumas trombadas com a presidente, mudou de tática. Ao dizer o que precisa ser feito hoje, está sempre dizendo o que não se deveria ter sido feito antes.
E assim segue. Conforme a recepção ao balanço da Petrobras, pode haver alguma trégua que permita avanços na política econômica à Levy.
Tudo em paz?
Nada disso. A Lava-Jato é a variável chave. Pode derrubar a política, o sistema dominante e muitos “Tiradentes” mais. E aí, mesmo bem-sucedida, a política econômica será de pouco serventia.
23 de abril de 2015
Carlos Alberto Sardenberg
Depois de lembrar que o alferes foi um subversivo condenado injustamente para depois ser recuperado como um herói da liberdade, arrematou no último dia 21, em cerimônia em Ouro Preto: “Não poderia ser mais adequado neste momento da história brasileira celebrarmos Tiradentes”.
Quem, pois, estaria sofrendo a mesma injustiça? O primeiro suspeito, quer dizer, o primeiro nome possível seria o de Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, condecorado com o Grande Colar da Inconfidência, a mais alta honraria de Minas.
Qual seria a injustiça sofrida pelo magistrado? Objetivamente, não há nada contra ele, nem nos tribunais nem na política. Há críticas de que ele teria sido, digamos, muito tolerante com o pessoal do PT no julgamento do mensalão, mas essa é uma opinião entre outras e que, certamente, não causou qualquer prejuízo ao magistrado. Tanto que foi eleito presidente da Corte logo depois do julgamento.
O segundo suspeito, quer dizer, o segundo nome ao qual Pimentel poderia estar se referindo é o de José Dirceu — este, sim, um condenado. Um condenado símbolo. E isso remete ao discurso do PT, partido do governador mineiro: os mensaleiros não foram mensaleiros, porque não houve mensalão; foram agentes políticos lutando pela liberdade e bem-estar do povo.
Eis, portanto, o que Pimentel poderia estar querendo dizer: petistas honrados, simbolizados por José Dirceu, foram injustamente condenados num julgamento viciado, contra o voto, heroico, de Lewandowski.
Se for isso, Pimentel estava também fazendo uma defesa prévia do pessoal acusado na Lava-Jato. Também seriam vítimas do atual sistema dominante.
Seriam todos Tiradentes, de Lewandowski a Dirceu e Vaccari.
O problema é que o PT é o poder dominante. Seria opressor contra seus próprios quadros? Não pode.
Logo, deve haver por aí um outro poder, este sim julgando e condenando os Tiradentes contemporâneos. Esse poder só pode ser aquele representado, 13 anos atrás, no governo FH.
Resta um probleminha: toda vez que são acusados de algum deslize, desde caixa dois até dinheiro sujo de campanha e pedaladas fiscais, os atuais ocupantes do poder federal dizem que fazem a mesma coisa que se fazia no governo FH e mesmo muito antes.
Donde se conclui, por esse tortuoso caminho: ou são todos culpados ou são todos Tiradentes.
A conclusão de verdade é que continua a sina do nosso herói.
E sem contar que ainda estão aumentando impostos.
Lava-Jato, a peça chave
A verdade é que o ministro Joaquim Levy avança bastante bem. Ganhou, por exemplo, na última cartada, a intensa série de conversas que manteve no FMI e com os investidores globais. Se não os convenceu plenamente, pelo menos plantou a expectativa de que sua política econômica pode funcionar e colocar o Brasil nos eixos. Mais do que isso: fez o pessoal acreditar, pelo menos por enquanto, que a política é dele, Levy, e tem a concordância (ou a tolerância conformada, segundo os mais céticos) da presidente Dilma.
Por aqui, o ministro também vai passando essa impressão. Lança uma medida atrás da outra e aponta a direção a todo momento (ajuste fiscal, concessões para investimentos privados, reformas micro para facilitar a vida de quem quer fazer negócios honestamente). Ou seja, uma agenda de mercado ou, como diria João Pedro Stédile, um programa neoliberal praticado por um agente infiltrado.
O fato é que o mercado está gostando. É verdade que o pessoal não gosta nem um pouco dos aumentos de impostos — e o ministro aqui também não vacila. Diz a todo instante que boa parte do ajuste se faz com aumentos da receita. Mas se isso ajudar a sair do atual buraco, dizem, vá lá.
A presidente Dilma não admitiu que sua política anterior estava errada. Nem vai admitir, parece. Levy já disse algumas vezes que, sim, estava errada. Mas depois de algumas trombadas com a presidente, mudou de tática. Ao dizer o que precisa ser feito hoje, está sempre dizendo o que não se deveria ter sido feito antes.
E assim segue. Conforme a recepção ao balanço da Petrobras, pode haver alguma trégua que permita avanços na política econômica à Levy.
Tudo em paz?
Nada disso. A Lava-Jato é a variável chave. Pode derrubar a política, o sistema dominante e muitos “Tiradentes” mais. E aí, mesmo bem-sucedida, a política econômica será de pouco serventia.
23 de abril de 2015
Carlos Alberto Sardenberg
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