Esta é a pergunta lógica que todos fazem depois de ler a reportagem de Estelita Carrazai, Flávio Ferreira e Graciliano Rocha, Folha de São Paulo edição de 22, focalizando a filmagem feita em duas agências do Itaú-Unibanco em São Paulo, no momento em que Marice Correa de Lima, cunhada, ou Giselda de Lima, casada com João Vaccari, realizava depósito no caixa eletrônico. Giselda, em carta ao juiz Sérgio Moro, assumiu ser ela a depositante. Então, Sérgio Moro decidiu suspender a prisão temporária de Clarice, embora permaneça no processo como acusada de articular recebimentos do esquema de corrupção.
O episódio, contudo, possui implicações. Se a Polícia Federal pesquisou hábitos, horários das idas de alguém a agências bancárias, ou pesquisado filmes de posse do Itaú-Unibanco, nesse caso, quantas filmagens e fotografias possui em seus arquivos sobre a enorme lista dos acusados através das delações premiadas? Muitas. Claro que sim.
Assim, os apontados por Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff de terem se encontrado com eles, ou com Pedro Barusco, não poderão negar tais encontros, como vêm fazendo, porque as imagens não mentem e nem podem ser apontadas como efeito de montagens. Ia esquecendo de citar Renato Duque, acusado de operar a teia, mas que não figura na equipe dos delatores.
Não serão convincentes em negar os recebimentos, sejam através de recibos de depósitos bancários, transferências para o exterior ou dinheiro vivo. Tais entregas ocorreram em hotéis, restaurantes ou quaisquer outros pontos de contato, onde há filmagens.
SÓ OS ENCONTROS
Vamos admitir a hipótese de que dificilmente os filmes e fotos podem ter registrado o repasse dos valores, mas facilmente confirmaram os encontros. Dessa forma, esta parte da negativa dos acusados que se encontram sob investigação torna-se impossível. As imagens não mentem, tampouco podem ser forjadas. Se os encontros ocorreram, claro, eles foram registrados pela Polícia Federal. Até porque jamais pensaram que tal tipo de prova pudesse emergir do passado recente para a superfície dos processos criminais do tempo presente.
Eles acabaram prisioneiros de si próprios, presos na própria teia que armaram para se proteger. Afinal, a corrupção não inclui recibos.
Não inclui recibos, mas inclui comprovações pelas imagens que esclarecem tacitamente os objetivos semiocultos das coincidências verificadas. Porque, no final da ópera, acusados iriam almoçar ou jantar com outros acusados da corrupção que abalou, não somente a Petrobrás, mas o próprio governo e, acima dele, escandalizou a Nação, deixando-a exposta a um sentimento de revolta e indignação. Tais sentimentos, na verdade, são essenciais ao desempenho da economia. Os prejuízos causados, portanto, não se limitam ao momento que atravessamos. Não. Ao contrário. Estendem-se a todo o mandato do governo.
IMAGEM PERDIDA
Recuperação difícil da imagem perdida junto à população, que ao sentimento de revolta e indignação soma o de vergonha. Sente-se iludida por governantes, que criaram a imensa rede de corruptos e corruptores, ou que, pelo menos, se omitiram em combatê-la e destruí-la logo nos seus primeiros movimentos. Mas esta é outra questão.
O tema em foco, assustador para os acusados, é até onde chegaram as lentes da Polícia Federal fotografando ou filmando encontros que não foram mera coincidência.
26 de abril de 2015
Pedro do Coutto
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