Tudo indica que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, destravará o debate da reforma política, obstruído há um ano pelo PT, que sonha com plebiscitos e votos de lista. Tramita na Câmara um projeto que pode ser discutido, emendado e aprovado até agosto deste ano.
É um assunto chato e cheio de detalhes. Um dos seus principais pontos é o sistema eleitoral para a escolha de deputados. Hoje a pessoa vota no seu candidato, e são eleitos aqueles que tiveram mais votos na totalização recebida pela chapa do partido ou da cumbuca da coligação. Poucos elegem-se só com votos dados a eles. Disso resultou que já houve gente votando em Delfim Netto e elegendo Michel Temer, ambos do PMDB. Na eleição passada Tiririca teve mais de um milhão de votos, elegeu-se deputado federal por São Paulo e carregou consigo o Capitão Augusto, que tentara fundar o Partido Militar Brasileiro.
Pela proposta da comissão da Câmara, cada estado seria dividido em distritos. Seriam de quatro a sete, e em cada um deles funcionaria o regime da cumbuca.
Assim, o efeito Tiririca ficaria reduzido ao seu distrito. É uma coisa meio girafa.
Renasceu a proposta do distritão, concebida pelo vice-presidente Michel Temer. Ela está na mesa há anos e é simples. Cada estado passa a ser um distritão. Os partidos apresentam candidatos, os eleitores fazem suas escolhas e votam. Levam as cadeiras aqueles que conseguem mais votos. São Paulo, por exemplo, tem direito a 70 deputados. Elegem-se os 70 candidatos mais votados, e acabou a conversa. Assim, Tiririca pode ter um milhão de votos, mas elege só Tiririca.
O distritão pode ser uma boa ideia. Quem quiser pode também deixar tudo como está. O que parece ter desaparecido da agenda é o sonho petista do voto de lista, no qual simplesmente confisca-se o direito de o eleitor escolher seu candidato, transferindo-se essa prerrogativa, total ou parcialmente, para as direções partidárias.
09 de fevereiro de 2015Elio Gaspari é Jornalista. Originalmente publicado em O Globo em 8 de fevereiro de 2015.
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