Promotor Gerardo Pollicita, que analisou a denúncia depois da morte do procurador Nisman, considerou que acusações devem ser investigadas
A presidente argentina Cristina Kirchner (Enrique Marcarian/Reuters/VEJA)
A presidente Cristina Kirchner foi indiciada nesta sexta-feira com base na denúncia do promotor Alberto Nisman de que ela e vários apoiadores teriam acobertado a participação de iranianos no atentado contra um centro judaico em Buenos Aires. Nisman apresentou a denúncia quatro dias antes de ser encontrado morto em seu apartamento.
O promotor federal Gerardo Pollicita analisou as quase 300 páginas do trabalho de investigação realizado por Nisman e considerou que se deve “iniciar a investigação pertinente com o objetivo de verificar, com base nos elementos de convicção que sejam incorporados (...), a existência do fato e, consequentemente, se o mesmo pode ser penalmente imputado aos responsáveis”.
A decisão do promotor de ir adiante com o caso é significativa porque abre espaço para uma análise detalhada da investigação em que o promotor Alberto Nisman estava trabalhando antes de ser encontrado morto no dia 18 de janeiro. Pollicita levará o resultado da investigação ao juiz federal Daniel Rafecas, a quem caberá aceitar ou não a denúncia.
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Outros citados na denúncia de Nisman também foram indiciados por Pollicita: o chanceler Héctor Timerman, o dirigente kirchnerista Luis D’Elia, o deputado Andrés Larroque, Jorge Alejandro "Yussuf" Khalil, Héctor Luis Yrimia, ex-promotor responsável pelo caso da Amia, Fernando Esteche e uma pessoa identificada como Allan, que seria o agente de inteligência Allan Héctor Ramón Bogado, informou o jornal Clarín.
O atentado contra a sede da Associação Mutual Israelense Amia aconteceu em julho de 1994 e deixou 85 mortos. Nisman assumiu as investigações sobre o caso em 2004. A denúncia apresentada em 14 de janeiro tem como base várias escutas de conversas sobre a relação do governo com o Irã.
‘Manobra’ – Antes mesmo de a decisão do promotor ser divulgada, o secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, já tinha advertido Pollicita. Na manhã desta sexta-feira, o secretário afirmou que indiciar a presidente seria “uma clara manobra de desestabilização democrática”.
No documento divulgado nesta sexta, mas que tem data de 12 de fevereiro, Pollicita afirma que “a decisão de encobrir os acusados de ascendência iraniana do atentado terrorista de 18 de Julho de 1994 foi tomada pela Dra. Cristina Fernandez de Kirchner – chefe do Poder Executivo – e executada principalmente pelo Ministro das Relações Exteriores, Sr. Héctor Timerman”.
Ele acrescenta que “Cristina Fernandez de Kirchner, Héctor Timerman, Luis D'Elia, Fernando Esteche, Jorge Khalil, Andrés Larroque, Hector Yrimia e um indivíduo identificado como “Allan” contribuíram para ajudar os acusados de um crime particularmente grave cometido por outros (os acusados iranianos), para iludir o inquérito em curso e para suspender os mandados de captura internacionais expedidos para alguns deles”.
(Com Estadão Conteúdo)
Quem é citado na denúncia sobre o atentado contra a Amia
Promotor argentino acusa presidente Cristina Kirchner e vários apoiadores de negociar com o Irã para encobrir envolvidos em ataque contra centro judaico em 1994
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Cristina Kirchner, presidente da Argentina
Segundo a denúncia do procurador Nisman, a presidente Cristina foi quem avalizou o "plano criminoso de impunidade", que em "todos os momentos esteve sob seu controle", seja dando "ordens diretas a seus cúmplices ou conduzindo o discurso público necessário para camuflar a o delito". Ainda de acordo com a denúncia da promotoria, Cristina considerava Néstor Kirchner como o "principal obstáculo" para o plano de acobertamento dos iranianos e só pôde colocar a "confabulação criminal" em prática após a morte de seu marido e antecessor, em 2010.
A presidente argentina também ordenou a suspensão dos alertas vermelhos da Interpol contra os iranianos acusados de envolvimento no atentado; autorizou acordos secretos com os iranianos e deu sinal verde para a produção de provas falsas para redirecionar a responsabilidade pelo ataque.
13 de janeiro de 2015
Veja online
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