“Para predizer o que irá acontecer é preciso saber o que aconteceu antes”
(NICOLAU MAQUIAVEL)
Manuel Piñero Losada ("Barba Roja”), que por cerca de 30 anos foi o chefe da Inteligência cubana e que morreu em 1998, em Havana, em um acidente de automóvel dirigido por ele próprio, será recordado como o encarregado de exportar a revolução cubana para toda a América Latina, tendo sido, como tal, o responsável pela militarização da maioria dos partidos e grupos de esquerda.
Desde o seu posto no Ministério do Interior e, posteriormente, no Departamento América do Comitê Central do Partido Comunista Cubano, impulsionou todo o tipo de guerrilhas e insurreições, conseguindo obter, assim, uma vasta rede de amizades e contatos com a esquerda latino-americana, cujos dirigentes recebia em sua própria casa, no bairro de Miramar, em Havana.
É fato sabido que no período de 1970 a 1973, durante o governo de Salvador Allende, os cubanos se encarregaram de montar a segurança de Allende, constituindo um organismo denominado GAP (Grupo de Amigos do Presidente). Essa tarefa foi desempenhada pelo Departamento de Tropas Especiais do Ministério do Interior de Cuba, onde, na época, estava Piñero.
Porém, foi a partir do ano de 1974 – já no governo Pinochet – que se fez sentir, com maior firmeza, sua influência sobre os grupos de esquerda chilenos. Nesse ano ele assumiu a chefia do Departamento América (DA), organismo do Comitê Central do PC Cubano que impulsionava a luta armada no continente. Piñero criou uma complexa rede para apoiar as organizações revolucionárias do continente: infraestrutura, treinamento militar em Cuba (que já existia desde o início dos anos 60), financiamento, documentação falsa, traslado de militantes, etc.
Ademais, colocou diversos membros da Inteligência, subordinados seus, como embaixadores, cônsules e outros cargos diplomáticos para facilitar as atividades do DA. Um desses embaixadores foi Fernando Ravelo Renedo, coronel, que no início dos anos 80, quando embaixador na Colômbia, teve que deixar o cargo por terem sido descobertas suas ligações com as organizações guerrilheiras daquele país e com o tráfico de drogas, sendo removido para a embaixada na Nicarágua. Fernando Ravelo Renedo, quando no Ministério do Interior, no final dos anos 60 início dos anos 70, era o responsável pelo treinamento armado, em Cuba, dos grupos guerrilheiros brasileiros e de outros países. Era, então, conhecido pelo codinome de “Major Fermin Rodriguez”.
Com essa base, “Barba Roja” cooperou, de forma decisiva, com os esforços da esquerda chilena para resistir ao governo do general Pinochet, especialmente com seus amigos do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR), principal organização de luta armada chilena.
O centro de operações da “rede de resistência chilena” foi, então, estabelecida na embaixada de Cuba em Buenos Aires, da qual os guerrilheiros chilenos recebiam dinheiro e armamento. Além disso, contavam com uma infraestrutura para tirar ou fazer retornar seus militantes ao Chile. Piñero sempre teve membros do DA na embaixada em Buenos Aires. Na década de 80, até início dos anos 90, esses membros eram o próprio embaixador, Santiago Eduardo Diaz Paez, codinome “Terry” e o Conselheiro Político da embaixada, Daniel Enrique Herrera Perez, subchefe do DA para o Cone Sul.
Os nomes de Santiago Eduardo Diaz Paez bem como o de sua esposa, figuravam em pelo menos duas agendas de endereços apreendidas com os seqüestradores de Abílio Diniz.
A propósito, recorde-se que o chileno Juan Carlos Cancino Acevedo, um dos seqüestradores do coronel do Exército chileno Carlos Carreño (seqüestrado em 1 de setembro de 1987 em Santiago e libertado no centro de São Paulo), preso pelas autoridades daquele país, em depoimento sobre suas atividades declarou que em 7 de junho de 1986 foi mandado a Cuba, a fim de receber treinamento, fazendo o trajeto, por via aérea, Santiago/Buenos Aires/Lima. Em Lima recebeu, de um funcionário da embaixada cubana, um passaporte cubano em seu nome e uma passagem aérea Lima/Caracas. Em Caracas, de outro funcionário cubano, recebeu, no aeroporto, uma passagem aérea Caracas/Havana. Em fins de dezembro de 1986, regressou, em vôo da Cubana de Aviación até Buenos Aires, devolvendo à embaixada cubana o passaporte cubano recebido em Lima e recebendo uma quantia em dólares a fim de retornar ao Chile, por via terrestre.
Por volta do ano de 1978, Manuel Piñero respaldou a chamada “Operação Retorno” do MIR, mediante a qual voltaram ao país, clandestinamente, inúmeros militantes com formação militar. Não obstante, essa Operação fracassou, sendo detida a maior parte dos retornados, desarticulado o núcleo armado urbano e aniquilado o “Foco Guerrilheiro” que havia sido instalado na região de Neltume.
Diversas versões, na época, atribuíram o fracasso a uma infiltração existente no DA próxima a Piñero.
Apesar do fracasso da “Operação Retorno”, Manuel Piñero Losada sobreviveu na chefia do DA graças aos saldos em seu favor acumulados pela participação de seu Departamento na vitória da guerrilha sandinista, na Nicarágua, em 1979, ao auge da guerrilha em El Salvador e ao estabelecimento de um regime pró-castrista em Granada.
Em meados da década de 80, quando o PC Chileno se militarizou, criando a Frente Patriótica Manuel Rodriguez (FPMR), os vínculos dessa organização com Havana eram feitos à margem de Manuel Piñero, através do Ministério do Interior e das Forças Armadas Revolucionárias (FAR), uma vez que os principais líderes da FPMR eram chilenos formados como oficiais nas academias do Exército cubano.
Entretanto, um dos fatos que mais afetou negativamente a chefia de Piñero no DA foi a cisão ocorrida no MIR em 1987. Tentando evitá-la, ele realizou em sua própria casa, em Havana, diversas reuniões com dirigentes desse grupo, todas infrutíferas.
Finalmente, o poder de Piñero começou a sofrer danos com o fortalecimento dos “Contras”, na Nicarágua, e o fim da guerrilha em El Salvador mediante um acordo de paz e, fundamentalmente, devido ao desmonte do bloco soviético, nos anos 1989, 1990 e 1991.
A crise econômica de Cuba, somada à política de boa vizinhança destinada a fortalecer os laços comerciais com países do Ocidente, levaram Manuel Piñero Losada a buscar o auto-financiamento de suas operações no Continente. Em 1987 eram conhecidas, pelos Serviços de Inteligência ocidentais, suas relações com 27 grupos guerrilheiros. Com os chefes logísticos dessas organizações, de sua maior confiança, Piñero organizou uma rede que objetivava criar um fundocomum mediante seqüestros de empresários e assaltos a bancos, que foram realizados no México, Panamá e no Brasil.
O primeiro a divulgar essas atividades foi o cientista político mexicano Jorge Castañeda, ex- Ministro do Exterior do México, através de seu livro “A UtopiaDesarmada”, editado no Brasil em 1994. O livro, nas páginas 67, 405 e 406, revela os vínculos de Manuel Piñero Losada com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz, em São Paulo, em dezembro de 1989, “atribuído a ex-revolucionários do Cone Sul que atuavam por conta própria”, bem como com os autores de outros delitos, como o seqüestro do empresário Juan Diego Gutierrez, no México, em 1990, para “financiamento e autogestão do DA”.
Esses teriam sido os motivos fundamentais para a queda de Piñero da chefia do DA em 24 de fevereiro de 1992. Na página 67, Castañeda assinala que “o DA planejava as operações, transferia as armas necessárias para o país em questão e expedia o dinheiro a Cuba pela mesma via”, tudo através dos malotes diplomáticos.
Todavia, Jorge Castañeda não foi o único a escrever sobre o assunto. A jornalista canadense Isabel Vincent, em seu livro “Uma Questão de Justiça”, lançado simultaneamente no Brasil e no Canadá em maio de 1995, escreveu sobre o casal de canadenses que participaram do seqüestro de Abílio Diniz: “Os dois canadenses faziam parte de uma rede mundial de seqüestros. O cartel teria ramificações em mais de 12 países, incluindo terroristas do grupo separatista basco ETA”.
A propósito dessa afirmação, recorde-se a explosão de um bunker, em 23 de maio de 1993, em Manágua, Nicarágua, onde além de grande quantidade de armamento e munição, foram encontrados inúmeros documentos, como passaportes, cédulas de identidade, de motorista, microfilmes e listas de pessoas de diversos países, consideradas “seqüestráveis”, bem como descrições de rotas de entrada e saída do Brasil e até levantamento de quartéis. Um total de 306 documentos de viagem (passaportes em branco da Inglaterra, EUA, Venezuela, El Salvador, Alemanha, Granada, Itália e Suíça), cartões de crédito falsificados, falsas credenciais de imprensa, 86 carimbos de visto de entrada e saída de diversos países, além de anotações de como entrar nesses países “pela porta dos fundos” (no Brasil, por exemplo, pela Amazônia). Junto a todo esse material, foram encontrados dois passaportes pertencentes ao casal de canadenses que participou do seqüestro de Abílio Diniz. O responsável por esse bunker era um dirigente da ETA BASCA e integrante do aparelho de Inteligência sandinista, identificado como Eusébio Arzallus Tapia, portador de uma enorme ficha criminal e procurado em toda a Europa por cerca de 20 atentados terroristas.
Mas não foram apenas Jorge Castañeda e Isabel Vincent que escreveram sobre o assunto.
Anteriormente, também os jornalistas franceses Jean Pierre Fogel e Bertrand Rosenthal, autores do livro “Fin de Siglo en Havana”, lançado em Bogotá, Quito e Caracas em 1994, dedicaram um capítulo ao seqüestro de Abílio Diniz. Nesse capítulo consta o seguinte: “Em Cuba, espera-se, antes de tudo, que a polícia não detenha - e não o logrará – os dois últimos cúmplices que fogem, pois isso permitiria chegar até o Departamento América do Comitê Central. Manuel Piñero, por meio de seu chefe de Operações, Armando Campos Ginesta, confiou essa operação ao argentino Umberto Eduardo Paz, codinome “Juan”, formado, assim como seus companheiros, em Cuba. Os dois homens que fogem contribuíram com um investimento inicial: a informação e a logística, em troca da repartição tradicional do resgate”.
Esses dois homens nunca foram identificados!
Não fosse a ação oportuna, eficiente e enérgica da Polícia de São Paulo, a sorte de Abílio Diniz poderia ter sido a mesma de Aldo Moro.
Os fatos acima representam uma gota d’água no oceano de atividades de “Barba Roja” e dos Serviços de Inteligência de Cuba na América Latina. Ainda há mais, muito mais, a ser contado.
(NICOLAU MAQUIAVEL)
Manuel Piñero Losada ("Barba Roja”), que por cerca de 30 anos foi o chefe da Inteligência cubana e que morreu em 1998, em Havana, em um acidente de automóvel dirigido por ele próprio, será recordado como o encarregado de exportar a revolução cubana para toda a América Latina, tendo sido, como tal, o responsável pela militarização da maioria dos partidos e grupos de esquerda.
Desde o seu posto no Ministério do Interior e, posteriormente, no Departamento América do Comitê Central do Partido Comunista Cubano, impulsionou todo o tipo de guerrilhas e insurreições, conseguindo obter, assim, uma vasta rede de amizades e contatos com a esquerda latino-americana, cujos dirigentes recebia em sua própria casa, no bairro de Miramar, em Havana.
É fato sabido que no período de 1970 a 1973, durante o governo de Salvador Allende, os cubanos se encarregaram de montar a segurança de Allende, constituindo um organismo denominado GAP (Grupo de Amigos do Presidente). Essa tarefa foi desempenhada pelo Departamento de Tropas Especiais do Ministério do Interior de Cuba, onde, na época, estava Piñero.
Porém, foi a partir do ano de 1974 – já no governo Pinochet – que se fez sentir, com maior firmeza, sua influência sobre os grupos de esquerda chilenos. Nesse ano ele assumiu a chefia do Departamento América (DA), organismo do Comitê Central do PC Cubano que impulsionava a luta armada no continente. Piñero criou uma complexa rede para apoiar as organizações revolucionárias do continente: infraestrutura, treinamento militar em Cuba (que já existia desde o início dos anos 60), financiamento, documentação falsa, traslado de militantes, etc.
Ademais, colocou diversos membros da Inteligência, subordinados seus, como embaixadores, cônsules e outros cargos diplomáticos para facilitar as atividades do DA. Um desses embaixadores foi Fernando Ravelo Renedo, coronel, que no início dos anos 80, quando embaixador na Colômbia, teve que deixar o cargo por terem sido descobertas suas ligações com as organizações guerrilheiras daquele país e com o tráfico de drogas, sendo removido para a embaixada na Nicarágua. Fernando Ravelo Renedo, quando no Ministério do Interior, no final dos anos 60 início dos anos 70, era o responsável pelo treinamento armado, em Cuba, dos grupos guerrilheiros brasileiros e de outros países. Era, então, conhecido pelo codinome de “Major Fermin Rodriguez”.
Com essa base, “Barba Roja” cooperou, de forma decisiva, com os esforços da esquerda chilena para resistir ao governo do general Pinochet, especialmente com seus amigos do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR), principal organização de luta armada chilena.
O centro de operações da “rede de resistência chilena” foi, então, estabelecida na embaixada de Cuba em Buenos Aires, da qual os guerrilheiros chilenos recebiam dinheiro e armamento. Além disso, contavam com uma infraestrutura para tirar ou fazer retornar seus militantes ao Chile. Piñero sempre teve membros do DA na embaixada em Buenos Aires. Na década de 80, até início dos anos 90, esses membros eram o próprio embaixador, Santiago Eduardo Diaz Paez, codinome “Terry” e o Conselheiro Político da embaixada, Daniel Enrique Herrera Perez, subchefe do DA para o Cone Sul.
Os nomes de Santiago Eduardo Diaz Paez bem como o de sua esposa, figuravam em pelo menos duas agendas de endereços apreendidas com os seqüestradores de Abílio Diniz.
A propósito, recorde-se que o chileno Juan Carlos Cancino Acevedo, um dos seqüestradores do coronel do Exército chileno Carlos Carreño (seqüestrado em 1 de setembro de 1987 em Santiago e libertado no centro de São Paulo), preso pelas autoridades daquele país, em depoimento sobre suas atividades declarou que em 7 de junho de 1986 foi mandado a Cuba, a fim de receber treinamento, fazendo o trajeto, por via aérea, Santiago/Buenos Aires/Lima. Em Lima recebeu, de um funcionário da embaixada cubana, um passaporte cubano em seu nome e uma passagem aérea Lima/Caracas. Em Caracas, de outro funcionário cubano, recebeu, no aeroporto, uma passagem aérea Caracas/Havana. Em fins de dezembro de 1986, regressou, em vôo da Cubana de Aviación até Buenos Aires, devolvendo à embaixada cubana o passaporte cubano recebido em Lima e recebendo uma quantia em dólares a fim de retornar ao Chile, por via terrestre.
Por volta do ano de 1978, Manuel Piñero respaldou a chamada “Operação Retorno” do MIR, mediante a qual voltaram ao país, clandestinamente, inúmeros militantes com formação militar. Não obstante, essa Operação fracassou, sendo detida a maior parte dos retornados, desarticulado o núcleo armado urbano e aniquilado o “Foco Guerrilheiro” que havia sido instalado na região de Neltume.
Diversas versões, na época, atribuíram o fracasso a uma infiltração existente no DA próxima a Piñero.
Apesar do fracasso da “Operação Retorno”, Manuel Piñero Losada sobreviveu na chefia do DA graças aos saldos em seu favor acumulados pela participação de seu Departamento na vitória da guerrilha sandinista, na Nicarágua, em 1979, ao auge da guerrilha em El Salvador e ao estabelecimento de um regime pró-castrista em Granada.
Em meados da década de 80, quando o PC Chileno se militarizou, criando a Frente Patriótica Manuel Rodriguez (FPMR), os vínculos dessa organização com Havana eram feitos à margem de Manuel Piñero, através do Ministério do Interior e das Forças Armadas Revolucionárias (FAR), uma vez que os principais líderes da FPMR eram chilenos formados como oficiais nas academias do Exército cubano.
Entretanto, um dos fatos que mais afetou negativamente a chefia de Piñero no DA foi a cisão ocorrida no MIR em 1987. Tentando evitá-la, ele realizou em sua própria casa, em Havana, diversas reuniões com dirigentes desse grupo, todas infrutíferas.
Finalmente, o poder de Piñero começou a sofrer danos com o fortalecimento dos “Contras”, na Nicarágua, e o fim da guerrilha em El Salvador mediante um acordo de paz e, fundamentalmente, devido ao desmonte do bloco soviético, nos anos 1989, 1990 e 1991.
A crise econômica de Cuba, somada à política de boa vizinhança destinada a fortalecer os laços comerciais com países do Ocidente, levaram Manuel Piñero Losada a buscar o auto-financiamento de suas operações no Continente. Em 1987 eram conhecidas, pelos Serviços de Inteligência ocidentais, suas relações com 27 grupos guerrilheiros. Com os chefes logísticos dessas organizações, de sua maior confiança, Piñero organizou uma rede que objetivava criar um fundocomum mediante seqüestros de empresários e assaltos a bancos, que foram realizados no México, Panamá e no Brasil.
O primeiro a divulgar essas atividades foi o cientista político mexicano Jorge Castañeda, ex- Ministro do Exterior do México, através de seu livro “A UtopiaDesarmada”, editado no Brasil em 1994. O livro, nas páginas 67, 405 e 406, revela os vínculos de Manuel Piñero Losada com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz, em São Paulo, em dezembro de 1989, “atribuído a ex-revolucionários do Cone Sul que atuavam por conta própria”, bem como com os autores de outros delitos, como o seqüestro do empresário Juan Diego Gutierrez, no México, em 1990, para “financiamento e autogestão do DA”.
Esses teriam sido os motivos fundamentais para a queda de Piñero da chefia do DA em 24 de fevereiro de 1992. Na página 67, Castañeda assinala que “o DA planejava as operações, transferia as armas necessárias para o país em questão e expedia o dinheiro a Cuba pela mesma via”, tudo através dos malotes diplomáticos.
Todavia, Jorge Castañeda não foi o único a escrever sobre o assunto. A jornalista canadense Isabel Vincent, em seu livro “Uma Questão de Justiça”, lançado simultaneamente no Brasil e no Canadá em maio de 1995, escreveu sobre o casal de canadenses que participaram do seqüestro de Abílio Diniz: “Os dois canadenses faziam parte de uma rede mundial de seqüestros. O cartel teria ramificações em mais de 12 países, incluindo terroristas do grupo separatista basco ETA”.
A propósito dessa afirmação, recorde-se a explosão de um bunker, em 23 de maio de 1993, em Manágua, Nicarágua, onde além de grande quantidade de armamento e munição, foram encontrados inúmeros documentos, como passaportes, cédulas de identidade, de motorista, microfilmes e listas de pessoas de diversos países, consideradas “seqüestráveis”, bem como descrições de rotas de entrada e saída do Brasil e até levantamento de quartéis. Um total de 306 documentos de viagem (passaportes em branco da Inglaterra, EUA, Venezuela, El Salvador, Alemanha, Granada, Itália e Suíça), cartões de crédito falsificados, falsas credenciais de imprensa, 86 carimbos de visto de entrada e saída de diversos países, além de anotações de como entrar nesses países “pela porta dos fundos” (no Brasil, por exemplo, pela Amazônia). Junto a todo esse material, foram encontrados dois passaportes pertencentes ao casal de canadenses que participou do seqüestro de Abílio Diniz. O responsável por esse bunker era um dirigente da ETA BASCA e integrante do aparelho de Inteligência sandinista, identificado como Eusébio Arzallus Tapia, portador de uma enorme ficha criminal e procurado em toda a Europa por cerca de 20 atentados terroristas.
Mas não foram apenas Jorge Castañeda e Isabel Vincent que escreveram sobre o assunto.
Anteriormente, também os jornalistas franceses Jean Pierre Fogel e Bertrand Rosenthal, autores do livro “Fin de Siglo en Havana”, lançado em Bogotá, Quito e Caracas em 1994, dedicaram um capítulo ao seqüestro de Abílio Diniz. Nesse capítulo consta o seguinte: “Em Cuba, espera-se, antes de tudo, que a polícia não detenha - e não o logrará – os dois últimos cúmplices que fogem, pois isso permitiria chegar até o Departamento América do Comitê Central. Manuel Piñero, por meio de seu chefe de Operações, Armando Campos Ginesta, confiou essa operação ao argentino Umberto Eduardo Paz, codinome “Juan”, formado, assim como seus companheiros, em Cuba. Os dois homens que fogem contribuíram com um investimento inicial: a informação e a logística, em troca da repartição tradicional do resgate”.
Esses dois homens nunca foram identificados!
Não fosse a ação oportuna, eficiente e enérgica da Polícia de São Paulo, a sorte de Abílio Diniz poderia ter sido a mesma de Aldo Moro.
Os fatos acima representam uma gota d’água no oceano de atividades de “Barba Roja” e dos Serviços de Inteligência de Cuba na América Latina. Ainda há mais, muito mais, a ser contado.
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
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