Durante o último século, e parte do século anterior, era largamente aceite a existência de um conflito irreconciliável entre o conhecimento e a fé. Entre as mentes mais avançadas prevaleceu a opinião de que estava na altura de a fé ser substituída gradualmente pelo conhecimento; a fé que não assentasse no conhecimento era superstição e como tal deveria ser reprimida (...)
O ponto fraco desta concepção é, contudo, o de que aquelas convicções que são necessárias e determinantes para a nossa conduta e julgamentos não se encontram unicamente ao longo deste sólido percurso científico. Porque o método científico apenas pode ensinar-nos como os fatos se relacionam, e são condicionados, uns com os outros.
A aspiração a semelhante conhecimento objetivo pertence ao que de mais elevado o homem é capaz, e ninguém suspeitará certamente de que desejo minimizar os resultados e os esforços heróicos do homem nesta esfera. Porém, é igualmente claro que o conhecimento do que é não abre diretamente a porta para o que deveria ser.
Podemos ter o mais claro e mais completo conhecimento do que é e, contudo, não ser capazes de deduzir daí qual deveria ser o objetivo das nossas aspirações humanas. O conhecimento objetivo fornece-nos instrumentos poderosos para a realização de determinados fins, mas o objetivo último propriamente e o desejo de o alcançar têm de provir de outra fonte (...) Aqui enfrentamos, portanto, os limites de uma concepção puramente racional da nossa existência (...)
Se nos perguntarmos donde deriva a autoridade de semelhantes fins fundamentais, na medida em que não podem ser enunciados e justificados meramente através da razão, apenas podemos responder: existem numa sociedade saudável como tradições poderosas, que influenciam a conduta e as aspirações e os julgamentos dos indivíduos; existem, isto é, como algo com vida, sem ser necessário procurar uma justificação para a sua existência.
28 de janeiro de 2015
Albert Einstein, in 'Conferência (1939)
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