Como pressentíamos, o ano de 2015 iniciou com inúmeras análises e prognósticos em relação às barreiras com que o Brasil deverá se defrontar no decorrer desse primeiro ano, do segundo mandato de Dilma. Na mídia econômica, poucos têm abordado a deterioração do ambiento externo, como um possível obstáculo adicional para os brasileiros.
Os preços do petróleo continuam caindo. Sua cotação retornou a um patamar que assistimos em 2009, no ápice dos efeitos recessivos da crise financeira mundial. A instabilidade na Rússia merece um capítulo especial, pois ela encontra-se refém de uma questão macro estrutural devido à ausência de reformas econômicas que possibilitem diminuir a sua dependência do petróleo.
Atualmente, ela vem suportando o esfacelamento do preço dos seus principais produtos – petróleo e gás - que representam dois terços das suas exportações (UU$ 530 bilhões/ano) e equivalem a um pouco mais da metade da receita do governo. Esta situação poderá continuar a comprimir sua enfraquecida economia, os bancos, o câmbio e a inflação.
A desvalorização da moeda russa (rublo) encontra-se determinada, estimulando a inquietação nos mercados mundiais, inclusive nos países emergentes como o Brasil, trazendo temores de uma provável crise financeira que ressurge semelhante à de 1998, quando o governo soviético anunciou a moratória da sua dívida, entravando a economia global.
Moscou está buscando formas de reprimir a depreciação do rublo, o que consequentemente alimenta a inflação, dificulta os investimentos e ameaça a popularidade do governo.
Este cenário está relacionado à queda vertiginosa nos preços do petróleo, às sanções econômicas impostas por países ocidentais a Moscou, devido à anexação da Criméia, ao conflito no leste da Ucrânia e aos embargos adotados por EUA e Europa.
O grau de desconfiança é de tal forma que o acréscimo de 6,5 pontos percentuais na taxa de juros, com ascensão rápida de 10,5% para 17% ao ano visando à estabilização no mercado de câmbio, mesmo assim, não evitou que a moeda alcançasse suas mínimas recorde. Poderá ser uma demonstração de que chegou a hora da verdade para os países em desenvolvimento, com o fim do ciclo de alta nas commodities, a revitalização da economia americana e a suave recuperação do mundo, agregando-se os problemas específicos de cada país.
No último dezembro, o rublo chegou a perder em um único dia 11% frente ao dólar, atingindo um total de 17% em dois dias, o que representa a queda diária mais significativa desde a última crise soviética em 1998. Acumula uma desvalorização monumental, acima de 50% do seu valor, desde o início de 2014. Ironizou um jornalista econômico internacional: “O rublo vale o que vale o poder de Putin no mercado”.
De qualquer sorte, o Banco Central da Rússia luta para impedir um colapso do rublo.As medidas vêm sendo tomadas, inclusive por monitoração do mercado, sendo que em 2014 utilizou US$ 82,5 bilhões de suas reservas internacionais em defesa da moeda nacional, sem ter obtido êxito. O valor do estoque de divisas, incluindo as do Banco Central (US$ 172 bilhões), juntamente com dois fundos de riqueza soberana, totalizou no final do exercício passado, US$ 398,9 bilhões,remanescente de uma queda de 22% iniciada em janeiro de 2014.
Com isso, fica comprovada uma forte crise cambial. O mau humor de investidores estrangeiros avessos a risco, com pavor de calote, estimula a fuga de capitais (US$ 128 bilhões em 2014), que acabam migrando para títulos sólidos de dívida soberanos.
A inflação penaliza a Rússia, podendo alcançar o patamar de 11% anualizada, sendo a primeira vez que ela excederá 10% desde 2009, no auge da crise internacional. Os russos estão correndo para converter seu dinheiro em dólares e adquirir bens duráveis, diante da preocupação generalizada com uma eventual hiperinflação e adoção de controles cambiais pelo governo.
Avançam para uma possível recessão, à medida que as altas de juros praticadas devem inibir seu crescimento, existindo a possibilidade de sua economia recuar até 5% neste ano, caso os preços do petróleo não ultrapassem o patamar de UU$ 60, como alertaram as autoridades monetárias do país.
A turbulência na região do euro poderá ser amenizada e as esperanças renascem, após o recente anúncio do programa de estímulos (QE - Quantitative Easing), pelo BCE (Banco Central Europeu), de que injetará € 1,1 trilhão para combater a deflação. Ainda persistirá a instabilidade geopolítica, em função do agravamento dos problemas econômicos que envolvem a Rússia.
Aparentemente, o analista brasileiro tem canalizado mais suas atenções na direção do comportamento dos juros americanos e seus possíveis impactos em nossa economia do que nas ameaças que vêm de outras partes do planeta. Demonstram uma parcial preocupação no âmbito econômico global que ainda demanda cautela.
Dentro desta pluralidade contextualizada, aflora o temor pelo contágio financeiro de que esta “tempestade perfeita” russa venha impactar outros países emergentes como o Brasil. O real, por exemplo, também tem se desvalorizado perante o dólar. Uma crise com efeito cascata parece pouco provável, em função de que muitos deles acumularam expressivas reservas como as nossas, hoje situadas em US$ 370 bilhões, para suavizar os choques externos.
O pesado ambiente econômico internacional acontece em um momento difícil para o Brasil. A nossa economia atravessa um ciclo negativo com graves desequilíbrios macroeconômicos, evidenciando um quadro deteriorado, com a inflação pressionada e seu crescimento estagnado. Caminhamos para uma indesejável recessão, diante do “pacote de maldade” embrulhado pelo novo titular da pasta da Fazenda, que recebeu o reconhecimento do mercado financeiro.
Nesta condição, a margem de manobra do atual governo fica restrita. Observa-se um panorama completamente diferente do que experimentamos em 2008, quando a economia mundial começou a naufragar após a eclosão da crise americana, mas naquela época, nosso País apresentava um ambiente favorável para reduzir impostos e ampliar a sua atividade econômica.
A situação presente determina uma política inversa. O governo, para buscar o equilíbrio fiscal, é imprescindível que promova um ajuste, através do corte nos gastos ou pela elevação da carga tributária.
Existe efetivamente uma desconfiança dos investidores com relação aos emergentes, principalmente no segmento exportador de matéria-prima, que já vinha suportando um menor crescimento da economia chinesa e a apatia europeia. Um agravamento na crise russa deverá afetar a sua capacidade de importação e, portanto, diminuir as exportações brasileiras para este país.
O comércio bilateral Brasil-Rússia atingiu US$ 6,5 bilhões em 2014. As vendas para nós representam menos de 2% das nossas exportações, sendo que as compras russas de produtos brasileiros, no ano passado, elevaram-se em 34% em relação a 2013. Foram desenvolvidas através de uma maior abertura aos produtos agropecuários brasileiros, destaque para a carne bovina e suína, em virtude da proibição de importação de alimentos e produtos agrícolas dos EUA e União Europeia, em represália à obstinação que demonstraram em não concordar com o Kremlin na questão da anexação da Crimeia.
Segundo analistas, as vendas de carne bovina e suína para a Rússia, no ano passado, foram de aproximadamente US$ 2 bilhões, o que representa um pouco mais da metade das exportações brasileiras para este parceiro, que se aproximaram de US$ 3,6 bilhões.
Examinando o outro lado da balança, as nossas importações da Rússia aumentaram 10% no exercício de 2014, o que corresponde a algo em torno de US$ 2,7 bilhões. Os produtos mais comprados são matérias primas e insumos para a indústria; entre os principais estão diesel, alumínio, cloreto de potássio e nitrato de amônio.
Analisando alguns aspectos relevantes que o mercado global tem como máxima preocupação, poderemos ter uma reprise da crise de 1998, quando o rublo desmoronou em poucos dias, levando o país à moratória de sua dívida, comprometendo com isso a economia de muitos países. Não obstante, as reservas internacionais e as finanças públicas russas apresentam-se muito mais consistentes do que no final da década de 90.
Não resta dúvida de que o nosso País poderá ser contaminado se a crise soviética evoluir e forem utilizadas medidas extremas como o do controle de capitais - o pânico poderá se estabelecer e os investidores podem se abrigar na moeda americana.
As consequências para nós passam pela disparada da taxa de câmbio, a elevação dos juros futuros e o mergulho da Bolsa, sendo estes os primeiros efeitos colaterais. De imediato, as dívidas aumentarão. A nossa grande realidade é que nos encontramos com inflação alta, rombo nas contas externas (US$ 90,9 bilhões) e dívida pública em ascendência. Infelizmente, é “Dilmais”.
O ano de 2015 não será fácil para os russos; aliás, tampouco para os brasileiros, pois já começou “russo”. Pelo menos, estamos esperançosos com uma equipe experiente que acabou de assumir o ministério da Fazenda e jamais responsabilizará o quadro externo para justificar a nossa tragédia macroeconômica, proveniente de uma “herança maldita” de mazelas deixadas pela gestão incompetente da última equipe aloprada da seita petista.
Estamos integrados no processo da globalização, dependendo de investimentos internos e externos, do mercado consumidor interno e externo, da tecnologia nacional e estrangeira. Resumindo, qualquer instabilidade econômica prolongada nos mercados afetará o Brasil.
26 de janeiro de 2015
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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