Alados seres murmuraram meu nome,
e um brilho tênue anunciou-me antes,
entre milhões de outros,
na noite coalhada de cometas
e estrelas,
estendida como um manto
sobre o vento e a areia.
Vim,
como muitos
antes de mim.
Para admirar-me
com as nuvens
e o correr do Sol e dos rios,
os lagartos e os peixes,
as serpentes e os escorpiões,
os trovões e os lagos,
e o egoísmo,
a violência e a injustiça
dos corações humanos.
Vim
para falar daqueles
que pisam sobre os outros,
dos que acumulam
riquezas e certezas
e se regozijam sobre fartas mesas,
enquanto seus escravos
quase nada comem.
Vim
para contar de golpes
e de faces.
De moedas, agulhas,
e camelos.
De peixes, redes,
tempestades.
Da morte,
do medo e da vontade.
De demônios e imperadores,
e reinos nunca vistos antes.
Se és daqueles que matas,
discriminas,
calunias,
desprezas,
torturas,
mentes,
enganas
e roubas
em meu nome,
minha mão te espera,
ensanguentada e em chagas,
e não escaparás dela,
por mais que tenhas
vestes e templos,
lanças e armaduras,
incenso ou ouro.
Se és daqueles
que se satisfaz,
quando assaltas e tiras a vida,
e espancas teus irmãos e tuas irmãs,
e teu bastão
se abate contra os indefesos,
e teu chicote
corta a carne dos mais fracos,
em porões e prisões
como aquela em que estive um dia,
minha mão te espera,
ensanguentada e em chagas,
e será pesada,
por mais que carregues
escudos,
correntes e espadas.
Se afirmarem que minhas ideias
estão mortas, estarei vivo.
Se disserem que estou fraco,
estarei mais forte.
Se falarem que ando
com príncipes e ricos,
me encontrarão entre os desprezados,
no meio dos loucos e dos leprosos,
dos rebeldes e dos pobres.
Se és cruel,
hipócrita e injusto,
cuida e teme.
Do alto da cruz,
meus olhos te contemplam.
E a alma em meu peito ainda geme,
suspira e luta,
enquanto meu coração,
indignado,
treme.
Mauro Santayana
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