Clube VIP das empreiteiras que roubavam a Petrobras para terem mais lucro e corromper políticos lembra a clássica cena da reunião da "família" de Don Corleone, em O Poderoso Chefão.
A alta cúpula das empreiteiras tem participação direta no cartel dos fornecedores da Petrobras investigado na Operação Lava-Jato. O “clube”, apelido dado pelos próprios integrantes, tinha coordenador, reuniões periódicas e até uma divisão interna, onde apenas as gigantes (Camargo Corrêa, UTC, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez) eram “VIP”. Segundo o executivo Julio Camargo, da Toyo Setal, que colabora com as investigações, esse grupo tinha poder sobre os demais integrantes do cartel e agia de forma conjunta “até o limite da persistência” para fazer valer suas vontades.
Para desvendar o funcionamento do cartel foram fundamentais os relatos de dois delatores que faziam parte dele. Os executivos da Toyo Setal Julio Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça Neto contaram como eram feitas as negociações entre os altos dirigentes das empresas e os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque, ambos presos na operação.
Depoimentos de Costa, que também virou delator e está em prisão domiciliar, e do doleiro Alberto Youssef, outro em colaboração premiada, ajudaram a reforçar as acusações contra os empreiteiros. Além disso, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, considerou que os pagamentos milionários a empresas de fachada do esquema corroboram o envolvimento dos altos executivos
Presidente da UTC Engenharia, Ricardo Ribeiro Pessoa era quem fazia a organização do cartel. Ele e Youssef eram próximos. Uma troca de mensagens entre ambos, em 31 de dezembro ressalta essa amizade. Às 23h01m, Youssef escreve: “Amigo Ricardo que 2014 você e família realize (sic) todos os desejos e projetos com muita saúde paz amor felicidade prosperidade bjo no seu coração do seu primo”. E, às 23h57, Ricardo responde: “Amigo Primo. Queria lhe agradecer pela parceria e lealdade. Desejo para você e sua família o maior sucesso e muitas felicidades e muita saude em 2014. Grande abraco. Ricardo.”
REUNIÕES NA QUEIROZ GALVÃO
A Camargo Corrêa teve três integrantes da alta cúpula presos: o presidente, Dalton dos Santos Avancini, o presidente do conselho, João Ricardo Auler, e o vice-presidente Eduardo Ermelino Leite. O presidente da empresa assinou contrato com uma empresa de fachada para repassar R$ 2,8 milhões a Costa depois deste deixar a estatal. Auler foi citado por Youssef como um contato seu na Camargo Corrêa e assinou contrato da refinaria Abreu e Lima com indícios de superfaturamento. Leite também é mencionado como integrante do cartel.
O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, foi citado pelos quatro delatores como integrante do esquema. O vice-presidente da empreiteira Agenor Franklin Magalhães Medeiros teve a atuação no esquema citada por Youssef. O vice-presidentes da Mendes Júnior Sérgio Cunha Mendes, citado por Youssef, aparece numa planilha de Costa como “disposto a colaborar” e assinou um contrato pela Mendes Júnior resultante de uma licitação em que o ex-diretor da Petrobras disse ter ocorrido acerto prévio.
Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix, foi citado pelos delatores como representante da empresano cartel. Valdir Lima Carreiro, diretor-presidente da Iesa assinou contrato de fachada com a Costa Global, de Paulo Roberto Costa, para repassar dinheiro ao ex-diretor.
Várias reuniões dos empreiteiros foram realizadas na sede da Queiroz Galvão, no Rio de Janeiro. Em nota, a empresa “reitera que todas as suas atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação e está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários”. A Andrade Gutierrez disse não ter acesso ao teor das declarações prestadas e “reafirma que não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso”.
A Camargo Corrêa “repudia acusações sem comprovação, vazadas de forma seletiva, que impedem qualquer possibilidade de defesa”. A Mendes Júnior informou que não se pronuncia sobre inquéritos em andamento. A Odebrecht “nega veementemente ter feito qualquer tipo de pagamento para executivos ou políticos para obter contratos com a Petrobras” e “repudia afirmações caluniosas feitas em suposta delação premiada”. As demais assessorias não responderam aos questionamentos.
(O Globo)
17 de novembro de 2014
in coroneLeaks
(O Globo)
17 de novembro de 2014
in coroneLeaks
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