"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

NOVO PRESIDENTE DO STJ ATACA NEPOTISMO, MAS SUA BIOGRAFIA O CONTRADIZ

  

Falcão, que ataca o nepotismo, e a mulher Ana, que foi agraciada

O novo presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Francisco Falcão, empossado na última segunda-feira, foi logo demitindo a nora de um ministro e o filho da cozinheira de outro.
Promete uma revolução no STJ, pois submeterá à filtragem da Polícia Federal os nomes de candidatos a vagas na corte. As novas indicações de magistrados para o STJ dependerão dessa “ficha limpa” a ser atestada por PF, Abin e Conselho Nacional de Justiça.
 
Falcão pretende também acelerar processos contra governadores, desembargadores e conselheiros de Tribunais de Contas que estão parados no STJ.
 
Para identificar casos de nepotismo, todos os servidores serão recadastrados. Essas notícias são auspiciosas, mas poucos lembram que Falcão tem experiência em nepotismo. Sua mulher, Ana Elizabeth Bezerra de Melo Paraguai, foi nomeada em 2009 assessora técnica da Consultoria Técnica da Secretaria de Estado de Articulação Governamental, em Brasília. A repercussão foi tão negativa que o governador José Maranhão anulou a nomeação.
 
Além da esposa, o ministro, que é de uma família paraibana, também mantinha um filho na folha do gabinete do então senador Roberto Cavalcanti, proprietário do Correio da Paraíba, e réu em processos no STJ.
 
Em entrevista a Frederico Vasconcelos e Severino Motta, da Folha, Falcão fala de seus planos para moralizar o tribunal, mas esses problemas familiares ficaram de fora da matéria.
 
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Folha – Quais serão suas prioridades na presidência do STJ?
Francisco Falcão - Vamos priorizar o julgamento de recursos repetitivos. Quero julgar casos em que os brasileiros mais demandam à Justiça. São ações contra bancos, operadoras de telefonia e concessionárias de serviços públicos. Além disso, vamos fazer uma parceria com o procurador-geral da República para priorizar o andamento de inquéritos e julgamento de ações penais contra governadores, desembargadores e conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais. Tem muita coisa parada. Vamos fazer uma limpeza.
 
Os processos de governadores não podem abrir uma crise entre Judiciário e Executivo?
Ninguém vai escolher o que vai julgar. Nós vamos dar celeridade aos processos, principalmente as ações penais. Isso não é nenhuma caça às bruxas. É cumprir o dever. Processo penal tem que ser o primeiro a ser julgado.
 
Qual será a atuação do grupo de juízes que o sr. trouxe do Conselho Nacional de Justiça?
É uma tropa de elite que veio da Corregedoria para trabalhar na assessoria direta do presidente. Alguns são do tempo da Eliana Calmon. O novo secretário de controle interno do STJ será uma pessoa de confiança do presidente do TCU. Acho que nunca houve isso em tribunal nenhum. Quero ele para dizer se o que a gente vai fazer está errado. É uma prevenção.
 
Como o sr. tratará a questão do nepotismo no STJ?
Assim que assumi, descobri casos de parentes de ministros e já demiti os servidores. Um era nepotismo mesmo, era a nora de um colega. Em outro caso não era parentesco, mas era uma safadeza. Um ministro colocou o filho da cozinheira num cargo em comissão. Para evitar novos casos, farei com que todos os servidores passem por um recadastramento. Vão assinar um formulário para dizer que não têm parente até o terceiro grau com nenhum ministro, diretor ou servidor.
 
Outra situação é aquela que Eliana Calmon chamava de “filhotismo”: filhos de ministros e ex-ministros que tentam usar essa influência para beneficiar clientes…
Filho de ministro não pode atuar na Turma em que o pai é magistrado. Agora, você não pode impedir que o filho do ministro atue em outra Turma. Eu tenho um filho que advoga. Ele é maior de idade. Se eu disser para ele, “a partir de amanhã você não advoga mais no STJ”, ele pode se recusar. Eu vou fazer o quê? Entrar com ação contra ele? Isso a OAB vai ter que disciplinar.
 
O sr. falou em limitar viagens de ministros. Como fará isso?
Assinamos uma resolução determinando que compete ao presidente do STJ representar o tribunal em eventos. Poderá delegar ao vice-presidente essa representação. Se ele não puder, delegará ao corregedor. Havendo impossibilidade do corregedor, poderá se delegar a um ministro. Ele viajará só na classe executiva e não poderá levar a mulher. A mulher é por conta dele. E a viagem vai para o Portal da Transparência.
 
10 de setembro de 2014
Carlos Newton

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