Marina Silva, candidata do PSB à Presidência, disse que o partido daria hoje uma explicação sobre o avião em que voavam, rotineiramente, Eduardo Campos e ela própria. Já está claro a esta altura: não haverá explicação nenhuma. Era caixa dois e pronto, já que os custos com a aeronave não aparecem na prestação de contas do partido ao Tribunal Superior Eleitoral. Eis aí a “nova política”. Marina, nesta segunda, já tinha dito palavras incompreensíveis a respeito. Ao anunciar que viria uma resposta nesta terça, afirmou:
“Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos, e, para termos a materialidade dos fatos, é preciso que haja tempo necessário para que essas explicações tenham as devidas bases legais”.
“Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos, e, para termos a materialidade dos fatos, é preciso que haja tempo necessário para que essas explicações tenham as devidas bases legais”.
O que isso quer dizer? Nada! O PSB, então, está em busca de uma justificativa legal que consiste no seguinte: o CNPJ usado pelo comitê financeiro de Eduardo Campos era um — e a esse comitê vão tentar atribuir todas as irregularidades. Um novo foi criado para o comitê de Marina, e este, então, estaria limpo.
Caso prospere mesmo essa saída, a “nova política” de Marina já começa assentada numa fraude, que não é de tão fácil tradução para milhões de eleitores. Está tudo errado: parece que a inimputabilidade de que Lula gozou na política por muitos anos está mudando de Silva: de Luiz Inácio Lula da Silva para Marina Silva. Ou por outra: mudam-se os Silvas, mas não a impunidade.
O PSB agora vem com a cascata de que caberá ao comitê antigo explicar por que o avião voava no caixa dois. Conta de quem conhece a área (ver post anterior) calcula o custo mensal do avião Cessna PR-AFA em US$ 200 mil mensais — algo em torno de R$ 460 mil. De onde vinha esse dinheiro? Pois é…
As explicações que se ensaiam beiram o patético. Um dirigente do PSB disse ao jornal O Globo: “Um acordo de boca pode ter ocorrido, e isso é absolutamente aceito juridicamente. O contrato também poderia estar no avião. Onde você guarda os documentos do carro? Trabalho com a ideia de um contrato de comodato oneroso”. É estupefaciente! O partido diz que o avião foi uma doação de empresários… É mesmo? De quais empresários?
A legislação eleitoral exige que a toda doação corresponda a emissão de um recibo, seja o benefício em dinheiro ou estimável em dinheiro. Tais recibos devem ser emitidos no ato do recebimento da doação, o que pode ser feito diretamente no Sistema de Prestação de Contas Eleitorais do TSE.
Afirmar que Marina Silva não era beneficiária de um avião cujos donos se desconhecem e cujo financiamento se dava no caixa dois vai além do cinismo: é uma fraude também moral, uma mentira.
Então ficamos assim: Marina Silva ainda nem foi eleita e já tentam esconder óbvias ilegalidades — que se transferem, sim, para a sua candidatura — com sofismas, cinismo e suposto e tosco legalismo, com a história de que “o CNPJ é outro”. Fosse assim, um partido poderia cometer uma penca de crimes até se tornar viável. Depois, bastaria eliminar a primeira equipe e substituí-la pela segunda.
A “nova política” de Marina, a seguir esse roteiro, é só a cara beatífica da velha mentira.
27 de agosto de 2014
Reinaldo Azevedo, Veja online
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