A eleição deste ano já é diferente: nem precisou começar a campanha para ter a certeza de que estão nos fazendo de trouxa. Não dá para saber se somos nós que amadurecemos e ficamos mais céticos ou se é a cara de pau que se emprega com maior desfaçatez e pressa.
Enquanto Uruguai x Costa Rica não começava, deu tempo de assistir à convenção do PT de Minas Gerais e aliados pela TV Assembleia. O encontro sacramentou a candidatura de Fernando Pimentel ao governo. Perante a claque numerosa, o ex-prefeito desancou a administração do Estado dos últimos 12 anos.
Disse que, enquanto o país crescia e se desenvolvia durante a gestão petista no Planalto, Minas, governada pelo PSDB, perdia o bonde. Ele acusou os últimos governadores de, por exemplo, não terem conseguido diversificar a economia mineira, ainda dependente de café e minério de ferro.
Mas as propagandas do governo de Minas não são tão positivas? Não nos vendem a impressão de vivermos numa espécie de Suíça tropical? Nossos alunos não são os que se alfabetizam mais cedo e com mais facilidade? Não são campeões da matemática? O candidato do PT diz que não: bastaria conversar com um professor. Curioso.
MESMA ESTRATÉGIA
Quando o senador Aécio Neves parte para o ataque contra o governo Dilma, como opositor, utiliza-se da mesma estratégia. A palavra mágica é “eficiência”, que, segundo o tucano, garantiu ao governo de Minas uma capacidade maior de se desenvolver do que a obtida nacionalmente nos últimos 12 anos. Aécio quer vender ao eleitorado uma imagem paquidérmica da administração federal: inchada, lenta e (o antônimo mágico) ineficiente. Contra a incapacidade de crescer, promete dinamismo, menos impostos, menos ministérios e lustra sua gestão e a de Anastasia como vitrine, que Pimentel agora apedreja. Quem tem razão?
Para início de conversa: candidatos discursam para passar a certeza de que todos os erros e acertos coletivos são consequências da administração pública. Os esforços da iniciativa privada não contam? A conjuntura internacional, a depender do sentido das correntes de ar, não propulsiona otimismo ou pessimismo inclusive em quem governa?
Em segundo lugar, se a gestão estatal é tão essencial assim na vida das pessoas, convém lembrar que sua atuação, muitas vezes, é compartilhada. Na saúde, na educação e na assistência social, por exemplo, as políticas não funcionam bem sem as devidas contrapartidas da União, dos Estados e dos municípios.
Então, se um programa dá certo ou errado, por que o sucesso (ou o fracasso) deve ser creditado só a um partido? Ficamos perdidos no meio desse fogo cruzado, e resultados estatísticos oferecem possibilidades de leitura ao gosto do freguês. Nessa nossa política binária, há sempre um lado que mente ou os dois que omitem. O circo de balelas e bravatas já está armado com três meses de antecedência. E, durante esse tempo, como diria o Gaspari, somos todos Eremildos. Aqui procês, oh!
(transcrito de O Tempo)
23 de junho de 2014
João Gualberto Jr.
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