Volta à cena o discurso do ódio. Já não é plantação, é colheita. Nenhum ódio tem sido desprezado pelo partido do “nós” contra “eles”, este que patrocina o exército de apedrejadores profissionais que patrulha a internet.
Está morto o Brasil em que Gilberto Freyre viveu e há muitos outros ódios no forno. Mas o ódio por tras de todos os outros; o ódio cujo nome o PT que sobrou não ousa mencionar é o ódio ao merecimento.
Ha uma boa razão para isso.
O PT não é causa, o PT é consequência. Essa corrupção toda não está no ponto de chegada, está no ponto de partida.
O que é essa “expertise” em se apropriar das bandeiras alheias e perverte-las para sustentar a Contra Revolução em nome da Revolução senão o velho expediente “corporativista” que Portugal inventou lá atrás para “fazer a revolução antes que o povo a fizesse” e, assim, abortar a da igualdade perante a lei, da meritocracia e dos representantes submetidos aos representados que vinha derrubando monarquia atrás de monarquia pela Europa afora?
O PT que sobrou é o resultado dessa receita na versão retemperada por Getúlio Vargas apud Benito Mussolini e Juan Domingo Perón. O produto do sindicalismo pelêgo que saltou do papel de “coadjuvante assalariado” para o de dono do cofre e do Poder, ele próprio.
Essa evolução de “subornado” para “subornante” a que nós todos assistimos não foi apenas natural, portanto, era inevitável.
A receita não poderia resultar em coisa muito diferente.
Junte meia dúzia de "companheiros" dispostos a tudo e funde um sindicato sem trabalhadores associados que o governo vai lhe dar uma teta eterna no grande úbere do imposto sindical. Trate, daí por diante, apenas de não perde-la nas “eleições” por aclamação desse seu sindicatozinho do nada. É a primeira etapa do curso. Use dinheiro, use intimidação, use a imaginação: vale tudo nesse jogo sem juiz.
Como força auxiliar dessa “forja de lideranças”, monte uma justiça paralela e diga a todo sujeito que trabalhou para alguém um dia que contrato, neste país, não vale nada: se ele mentir, inventar e trair, e se cabalar quem se preste a coadjuvá-lo nessa milonga depois de finda a relação, ganha um monte de dinheiro no mole.
“Seja desonesto que o governo garante!”, é a mensagem que desce do Olimpo. Essa sempre próspera indústria custou R$ 51 bi aos empregadores brasileiros só no ano passado.
Repita a mesma receita para a criação de partidos do nada. Adicione ao dinheiro do Fundo Partidário o tempo de TV negociável no mercado "spot" da governabilidade e você estará selecionando a “elite” dos mais sem limites entre os que não se põem limites para disputar esse tipo de “liderança”.
Cubra tudo com uma categoria de brasileiros “especiais” que, uma vez tocados pela mão que loteia o Estado nunca mais perde o emprego, nem que não trabalhe, nem que seja pego roubando.
Decore com elementos da pornografia comportamental – essa em que todo mundo trai todo mundo dentro e fora da família; os filhos às mães e estas a eles e daí para baixo tudo, e “Tudo bem! Ai de quem disser o contrário!” – em que todo brasileirinho e toda brasileirinha é sistematicamente treinado pela televisão desde o nascimento.
Está pronto! “Reserve” e deixe fermentar.
Que tipo de país pode resultar dessa mistura? Este cuja festa nacional evoluiu da ingênua “pátria em chuteiras” de ha pouco para esta Copa da corrupção com 57 mil soldados do Exército nas ruas para garantir a paz que não há, um para cada brasileiro assassinado no ano passado?
Não é um palpite absurdo...
Enquanto procura a resposta sobre se “é a arte que imita a vida ou a vida que imita a arte”, vá se perguntando que argumento tem uma mãe da favela para convencer seu filho a não entrar para o tráfico e continuar estudando nas nossas escolas publicas porque este é o pais onde quem se esforça vai pra frente!
Esse é o único jeito de jogar o jogo do poder que o PT entende; aquele em que o partido nasceu e foi criado. Eventualmente “lá”, até por falta de qualquer outro tipo de repertório, é inevitavelmente mais do mesmo que o carregou até ali que o partido fará para manter o que conquistou.
Mas as contas, agora, são outras. Será preciso comprar 50% + 1 de todas as lealdades o que pode custar a destruição da economia. Para que essa relação de causa e efeito não seja percebida será necessário falsificar as contas nacionais. A confiança do investidor será, porém, a primeira vítima.
E então o dilema se apresentará: para que os investimentos voltem será preciso admitir a verdade; mas para admitir a verdade será preciso admitir que se estava mentindo antes. Como, então, manter “aprovada” a farsa exposta senão substituindo a regra de maioria pela do “onguismo pelêgo”? A lei terá de passar a ser feita na rua; no porrete. Mas isso só será possível se o jornalismo livre for substituído por um “jornalismo” também “pelego”...
Não é, portanto, uma questão de ideologia ou de coerência – e quem se importa com elas? – a progressão da anti-utopia pelêga do lulopetismo. É um imperativo de sobrevivência.
Há um Brasil submetido à meritocracia – senão por outra razão porque a internacionalização do jogo econômico o impõe implacavelmente – no qual educação é a única medida do merecimento, e há um Brasil que, a um preço cada vez mais proibitivo para o outro, só subsiste se conseguir mante-la longe dele. Esses dois Brasis são mutuamente excludentes na nova realidade globalizada. A opção hoje está em entrar nele pelo mérito ou sair do mundo e viver bolivarianamente à margem dele.
Pense nisso antes de decidir qual das alternativas de caminho postas à sua frente conduz ao beco sem saída do ódio e qual a que, com todas as dificuldades que houver, deixa aberta a porta da esperança. Sua escolha vai decidir o destino de toda uma geração.
23 de junho de 2014
vespeiro, artigo publicado em O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário