Dados do projeto Índice para uma vida melhor mostram que Brasil precisa esboçar, com urgência, uma revolução educacional. Do contrário, não veremos país nenhum
Apenas 34 mil brasileiros acessaram o endereço da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para conferir o Índice para uma vida melhor (www.ocdeindicevidamelhor.org). Desses, 800 responderam ao questionário. Apesar da adesão pequena, os resultados apontam pistas sobre o grau de satisfação da população com o país, e quais expectativas nutrem.
Dos 11 itens da pesquisa, as maiores preocupações nacionais, nessa ordem, são “educação”, “satisfação pessoal” e “saúde”. As menores preocupações são “comunidade” e “engajamento cívico”. Resta saber se os itens mais coletivos importam menos à população ou se, na visão dos respondentes, estão mais bem resolvidos. A pesquisa não responde essa sutileza, mas aponta para tantas outras que podem pautar as políticas públicas. A dizer, os demais itens são moradia, renda, trabalho, satisfação de vida, segurança, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
O resultado que mais deu repercussão – negativa – diz respeito à produtividade. De acordo com os índices da OCDE, o brasileiro trabalha mais do que a média dos habitantes de países ricos, mas produz menos e ganha remunerações mais medíocres. Entre os 36 países avaliados, o Brasil tem a pior renda per capita e 11% da população com carga horária semanal superior a 11%. Tudo isso, mesmo sendo a sétima economia do mundo. Soa esquizofrênico: rico, o Brasil tem uma das piores rendas per capitas – algo quatro vezes a menos do que a das famílias médias americanas, por exemplo.
A explicação para tamanha disparidade está na instrução. Com menos tempo de exposição à escola, a população brasileira encontra mais dificuldade em transformar o tempo gasto na vida profissional em resultados. O que mais surpreende os analistas é que, apesar do desempenho pouco vantajoso – não é agradável trabalhar tanto e receber pouco em troca –, 80% dos que responderam ao questionário se dizem satisfeitos com a vida, um índice quatro dígitos mais alto do que a dos outros países.
Assim que o dado da produtividade foi divulgado, houve quem o lesse do ponto de vista mais pejorativo – algo como “o brasileiro trabalha pouco”. Produzir menos não é, contudo, sinônimo de trabalhar menos, mas de não tirar do tempo do trabalho tudo o que ele pode render, usando do raciocínio e da organização, habilidades que melhoram à medida que avança o tempo de exposição à escola.
Os índices educacionais confirmam que o país perde – e muito – por causa desses descompasso, aspecto que compromete as perspectivas de desenvolvimento. Não se tem notícia de país desenvolvido que tenha quadro semelhante. No Brasil, 43% das pessoas entre 25 e 64 anos têm ensino médio. No Chile, esse índice é de 72%. Nos EUA, de 89%. As perspectivas não são muito melhores entre os jovens adultos, em tese, com idade de acertar sua situação escolar: 57% dos brasileiros entre 25 e 34 anos concluíram o ensino médio. Entre os desenvolvidos essa estatística supera 80% da população na mesma faixa etária.
Mesmo em situações de crise, países como a Argentina e a Rússia, para citar dois, se saem melhor, graças à escolaridade. Um engenheiro que esteja trabalhando de motorista de táxi, em Buenos Aires, por exemplo, tende não só a otimizar – como gostam de dizer os representantes do mundo corporativo – como em retornar para seu campo de atuação específica ou migrar para o empreendedorismo.
É questão séria. Difícil não citar aqui a média dos índices educacionais nas zonas de “polícias pacificadoras”, ou o nome que tenha. Em Curitiba e região metropolitana, por exemplo, a faixa nessas zonas favelizadas é de quatro anos de estudo, mesmo entre os jovens adultos. Do que se pode deduzir que os moradores das “zonas congeladas” podem ficar livres da violência, mas permanecem sujeitos à informalidade, situação na qual são vulneráveis ao crime, ativo e passivo. Do que se deduz que sem uma revolução educacional, em paralelo, não há política de segurança pública que funcione.
Em tempo. Esses dados eram conhecidos, antes mesmo da OCDE trazê-los à baila. A cada ano o Brasil perde mais a oportunidade de romper o dique e salvar seus jovens. Não se trata, obviamente, de uma tarefa do Estado, apenas, mas de toda a sociedade. Enquanto as mais diversas instituições não fizeram dessa a sua bandeira, não veremos país nenhum.
Apenas 34 mil brasileiros acessaram o endereço da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para conferir o Índice para uma vida melhor (www.ocdeindicevidamelhor.org). Desses, 800 responderam ao questionário. Apesar da adesão pequena, os resultados apontam pistas sobre o grau de satisfação da população com o país, e quais expectativas nutrem.
Dos 11 itens da pesquisa, as maiores preocupações nacionais, nessa ordem, são “educação”, “satisfação pessoal” e “saúde”. As menores preocupações são “comunidade” e “engajamento cívico”. Resta saber se os itens mais coletivos importam menos à população ou se, na visão dos respondentes, estão mais bem resolvidos. A pesquisa não responde essa sutileza, mas aponta para tantas outras que podem pautar as políticas públicas. A dizer, os demais itens são moradia, renda, trabalho, satisfação de vida, segurança, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
O resultado que mais deu repercussão – negativa – diz respeito à produtividade. De acordo com os índices da OCDE, o brasileiro trabalha mais do que a média dos habitantes de países ricos, mas produz menos e ganha remunerações mais medíocres. Entre os 36 países avaliados, o Brasil tem a pior renda per capita e 11% da população com carga horária semanal superior a 11%. Tudo isso, mesmo sendo a sétima economia do mundo. Soa esquizofrênico: rico, o Brasil tem uma das piores rendas per capitas – algo quatro vezes a menos do que a das famílias médias americanas, por exemplo.
A explicação para tamanha disparidade está na instrução. Com menos tempo de exposição à escola, a população brasileira encontra mais dificuldade em transformar o tempo gasto na vida profissional em resultados. O que mais surpreende os analistas é que, apesar do desempenho pouco vantajoso – não é agradável trabalhar tanto e receber pouco em troca –, 80% dos que responderam ao questionário se dizem satisfeitos com a vida, um índice quatro dígitos mais alto do que a dos outros países.
Assim que o dado da produtividade foi divulgado, houve quem o lesse do ponto de vista mais pejorativo – algo como “o brasileiro trabalha pouco”. Produzir menos não é, contudo, sinônimo de trabalhar menos, mas de não tirar do tempo do trabalho tudo o que ele pode render, usando do raciocínio e da organização, habilidades que melhoram à medida que avança o tempo de exposição à escola.
Os índices educacionais confirmam que o país perde – e muito – por causa desses descompasso, aspecto que compromete as perspectivas de desenvolvimento. Não se tem notícia de país desenvolvido que tenha quadro semelhante. No Brasil, 43% das pessoas entre 25 e 64 anos têm ensino médio. No Chile, esse índice é de 72%. Nos EUA, de 89%. As perspectivas não são muito melhores entre os jovens adultos, em tese, com idade de acertar sua situação escolar: 57% dos brasileiros entre 25 e 34 anos concluíram o ensino médio. Entre os desenvolvidos essa estatística supera 80% da população na mesma faixa etária.
Mesmo em situações de crise, países como a Argentina e a Rússia, para citar dois, se saem melhor, graças à escolaridade. Um engenheiro que esteja trabalhando de motorista de táxi, em Buenos Aires, por exemplo, tende não só a otimizar – como gostam de dizer os representantes do mundo corporativo – como em retornar para seu campo de atuação específica ou migrar para o empreendedorismo.
É questão séria. Difícil não citar aqui a média dos índices educacionais nas zonas de “polícias pacificadoras”, ou o nome que tenha. Em Curitiba e região metropolitana, por exemplo, a faixa nessas zonas favelizadas é de quatro anos de estudo, mesmo entre os jovens adultos. Do que se pode deduzir que os moradores das “zonas congeladas” podem ficar livres da violência, mas permanecem sujeitos à informalidade, situação na qual são vulneráveis ao crime, ativo e passivo. Do que se deduz que sem uma revolução educacional, em paralelo, não há política de segurança pública que funcione.
Em tempo. Esses dados eram conhecidos, antes mesmo da OCDE trazê-los à baila. A cada ano o Brasil perde mais a oportunidade de romper o dique e salvar seus jovens. Não se trata, obviamente, de uma tarefa do Estado, apenas, mas de toda a sociedade. Enquanto as mais diversas instituições não fizeram dessa a sua bandeira, não veremos país nenhum.
23 de junho de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
Nenhum comentário:
Postar um comentário