A boa vitória do Brasil sobre a Croácia por 3 x 1 no jogo de estreia da Copa pode ser o começo de uma caminhada vitoriosa da famosa Seleção Canarinho rumo ao inédito hexacampeonato mundial de futebol. É o que a maioria dos brasileiros deseja e merece. O Brasil tem a vantagem de jogar em casa, com o apoio de dezenas de milhões de torcedores que mantêm inabalável paixão pelo futebol e, mais ainda, pela Seleção.
Mas que ninguém se engane. O Brasil que vai para os estádios ou acompanha tudo com os olhos pregados na tevê e ouvidos colados no rádio não é mais o mesmo de copas atrás. Nem de longe lembra o país ingênuo e desinformado de 1970. A paixão é a mesma, mas é outra a consciência: o futebol não é tudo e nem mesmo o sonhado título mundial é capaz de amainar o inconformismo com a manutenção de velhas mazelas sociais sempre postergadas.
De fato, a sociedade brasileira é outra. Nos mais de 30 anos de democracia, apesar da escassez de políticos à altura dessa passagem histórica, o Brasil avançou. Se foram mais rápidas e eficientes as conquistas econômicas ,como a estabilização da moeda e a colocação entre as 10 maiores economias do mundo, não foi menos importante o processo de disseminação da informação e de formação de uma consciência cidadã, desconhecida antes do golpe de 1964 e sufocada nos anos de ditadura que a ele se seguiram.
A voz das ruas, que se fez ouvir em junho de 2013, não deixa dúvida de que o paraíso que se pretendeu vender ao povo nos últimos anos não passou de um produto de marketing em que, a não ser os ingênuos de sempre, não se acredita mais. Cegos pela arrogância do poder e pela porosa maioria parlamentar cooptada mediante cargos e verbas, muitos do governo não perceberam que o velho truque do pão e do circo do tempo dos romanos não cola mais no Brasil. Ou seja, sediar a Copa do Mundo é bom, mas não perdoa o abandono da saúde pública, a baixa qualidade da educação, o perigo da falta de segurança e a precariedade das estradas e do transporte coletivo.
Foi por isso que milhares foram às ruas. É por isso que muitos deles estão voltando para investir, não contra a Copa, mas contra os R$ 26,7 bilhões gastos para erguer mais estádios luxuosos do que seria necessário, enquanto as reais demandas da sociedade foram de novo adiadas. A diferença é que, desta vez, isso não ficará impune. E é por isso que, como nunca antes na história das Copas, as autoridades anfitriãs não podem se expor ante a certeza das vaias.
Portanto, mesmo que não levantemos a taça, já temos o que comemorar. Afinal, tamanho amadurecimento é certeza de que vamos expurgar os bárbaros violentos, aprimorar a manifestação pacífica e ordeira e caminhar para mudanças na qualidade da política. Assim como a conquista do hexa impõe a nossos craques superar obstáculos, a construção de uma nação mais justa e menos desigual nos pede esforço e concentração. Temos tudo para vencer as duas batalhas.
14 de junho de 2014
Editorial Correio Braziliense
Mas que ninguém se engane. O Brasil que vai para os estádios ou acompanha tudo com os olhos pregados na tevê e ouvidos colados no rádio não é mais o mesmo de copas atrás. Nem de longe lembra o país ingênuo e desinformado de 1970. A paixão é a mesma, mas é outra a consciência: o futebol não é tudo e nem mesmo o sonhado título mundial é capaz de amainar o inconformismo com a manutenção de velhas mazelas sociais sempre postergadas.
De fato, a sociedade brasileira é outra. Nos mais de 30 anos de democracia, apesar da escassez de políticos à altura dessa passagem histórica, o Brasil avançou. Se foram mais rápidas e eficientes as conquistas econômicas ,como a estabilização da moeda e a colocação entre as 10 maiores economias do mundo, não foi menos importante o processo de disseminação da informação e de formação de uma consciência cidadã, desconhecida antes do golpe de 1964 e sufocada nos anos de ditadura que a ele se seguiram.
A voz das ruas, que se fez ouvir em junho de 2013, não deixa dúvida de que o paraíso que se pretendeu vender ao povo nos últimos anos não passou de um produto de marketing em que, a não ser os ingênuos de sempre, não se acredita mais. Cegos pela arrogância do poder e pela porosa maioria parlamentar cooptada mediante cargos e verbas, muitos do governo não perceberam que o velho truque do pão e do circo do tempo dos romanos não cola mais no Brasil. Ou seja, sediar a Copa do Mundo é bom, mas não perdoa o abandono da saúde pública, a baixa qualidade da educação, o perigo da falta de segurança e a precariedade das estradas e do transporte coletivo.
Foi por isso que milhares foram às ruas. É por isso que muitos deles estão voltando para investir, não contra a Copa, mas contra os R$ 26,7 bilhões gastos para erguer mais estádios luxuosos do que seria necessário, enquanto as reais demandas da sociedade foram de novo adiadas. A diferença é que, desta vez, isso não ficará impune. E é por isso que, como nunca antes na história das Copas, as autoridades anfitriãs não podem se expor ante a certeza das vaias.
Portanto, mesmo que não levantemos a taça, já temos o que comemorar. Afinal, tamanho amadurecimento é certeza de que vamos expurgar os bárbaros violentos, aprimorar a manifestação pacífica e ordeira e caminhar para mudanças na qualidade da política. Assim como a conquista do hexa impõe a nossos craques superar obstáculos, a construção de uma nação mais justa e menos desigual nos pede esforço e concentração. Temos tudo para vencer as duas batalhas.
14 de junho de 2014
Editorial Correio Braziliense
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