Na última quarta-feira o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, estabeleceu que não vai haver greve-geral da Polícia Federal durante a Copa do Mundo.
“Eu não creio que os policiais federais queriam se colocar contra o país que juram defender. Não é possível que policiais que juram obediência à Constituição e fidelidade à pátria queiram inviabilizar o nome do seu país no mundo. Por maior que sejam as reivindicações, eu acredito que os policiais federais não terão comportamento que ofendam a dignidade do povo brasileiro”, disse o ministro.
Cardozo omite do público uma informação que, na liturgia de seu cargo, ele jamais poderia revelar. Toda a vez que a PF pede um aumento, e o governo não dá, o governo federal tem uma bomba atômica lançada sobre sua cabeça. E uma nova bomba é preparada.
CASO ROSEMARY
Vamos lembrar da operação Porto Seguro, que cumpriu mandados de busca e apreensão em órgãos do governo federal e no escritório da Presidência da República em São Paulo, a 22 de novembro de 2012. Foram indiciadas 18 pessoas, entre elas Rosemary Noronha, e o advogado-geral adjunto da União, José Weber de Holanda Alves. Os dois foram exonerados dos seus cargos. Rosemary trabalhou desde o primeiro mandato do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escritório da Presidência da República em São Paulo e, no segundo mandato do petista, foi promovida a chefe de gabinete.
Pois bem: o grampo legal da PF atingiu a Advocacia Geral da União – órgão que havia lutado, mais que ninguém, para que a presidente Dilma Roussef não concedesse o aumento salarial que os federais pleiteavam na época.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) decidiu arquivar uma investigação que apurava se o advogado geral da União, ministro Luís Inácio Adams, estava envolvido com um esquema de venda de pareceres técnicos do governo em favor de empresas privadas investigado na operação Porto Seguro. Mas a crise enterrou as chances de Adams emplacar no STF seu amigo Heleno Torres, que também era muito próximo do investigado Weber Holanda Alves. No lugar dele, Dilma acabou nomeando Teori Zavascki para ministro do STF.
DENUNCIADOS
Entre os denunciados pelo Ministério Público Federal em São Paulo, na Porto Seguro, estavam o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, o ex diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira e a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha.
Vamos lembrar as datas para se unir as duas pontas do Anel de Shazan: agentes, escrivães e papiloscopistas da PF, então em greve há mais de dois meses, decidiram pelo fim da paralisação na maioria dos estados, em 15 de outubro de 2010. O movimento teve adesão de cerca de 9 mil policiais nas 27 unidades da federação.
Vejam vocês: Nenhuma das reivindicações dos policiais do movimento foi atendida pelo governo. Pedia-se um plano de reestruturação da carreira dos agentes, escrivães e papiloscopistas. O salário inicial dos três cargos é R$ 7,5 mil, o equivalente a 56,2% da remuneração dos delegados, cujo vencimento inicial é de R$ 13,4 mil.
Um mês depois da negativa do governo, veio a bomba: vazaram-se na mídia os grampos que derrubaram Rosemary Noronha, o advogado-geral adjunto da União, José Weber de Holanda Alves — e fulminaram as pretensões do chefão da Advocacia Geral da União, ministro Luís Inácio Adams.
O não aumento aos policiais foi um tiro que o governo deu na própria cara. O tiro está para se repetir em plena Copa do Mundo.
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