A presidente Dilma, no discurso que fez para o 1º de maio, usou o espaço concedido a quem exerce o cargo para fazer campanha política. E sofismou. Disse que, se não tivesse baixado o preço energia, ele teria subido mais. É o oposto: porque ela reduziu as tarifas, quando o custo estava subindo, as empresas estão quebradas e sendo socorridas pelo Tesouro.
Dos defeitos do discurso, o mais constrangedor para o próprio governo é a repetição da estratégia usada pelos militares, de confundir crítica à sua administração com desamor ao Brasil; é investir contra quem pede apuração da corrupção na Petrobras com ataque à companhia, em si, fundada há 60 anos.
Dos defeitos do discurso, o mais constrangedor para o próprio governo é a repetição da estratégia usada pelos militares, de confundir crítica à sua administração com desamor ao Brasil; é investir contra quem pede apuração da corrupção na Petrobras com ataque à companhia, em si, fundada há 60 anos.
A empresa não pertence ao PT. A história e a importância da petrolífera não estão em discussão. Esse deliberado contorcionismo dos fatos é que agrava o uso do horário disposto para a Presidência da República como se fosse um palanque.
Dilma disse que está sendo feito uso político da inflação. Quem está usando? Quem fala com preocupação do problema ou o governo, que represa preços que terão que ser corrigidos mais adiante? Ela disse que o país vive há 11 anos o mais longo período de inflação controlada. Ora, qualquer pessoa sabe no país que a hiperinflação foi vencida há 20 anos. Na entrada do governo Lula, o medo de perder a estabilidade elevou a taxa.
Apenas o recuo em relação à proposta econômica do PT é que manteve a inflação controlada. Ainda assim, os índices têm permanecido no governo Dilma no teto da meta.
O que ameaça a estabilidade é a insistência no uso da contabilidade criativa, que faz com que não se possa usar pelo valor de face vários números divulgados pelo Ministério da Fazenda. O problema avançou pela área de energia produzindo o esdrúxulo empréstimo à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, usado para esconder o tamanho exato do socorro às empresas elétricas.
Ela sabe que há um problema com a dupla indexação do salário mínimo porque o debate se trava inclusive dentro da sua equipe econômica. A fórmula de correção é pela inflação e pelo crescimento de dois anos antes. Se a inflação estivesse baixa, e o crescimento, alto, seria uma correção mais sustentável; mas no governo da presidente Dilma ocorreu o oposto: a inflação é alta e o crescimento é baixo.
O problema do salário mínimo subindo em termos reais num cenário assim não é das empresas, mas das contas públicas. Ele impacta principalmente a Previdência. Ela sabe disso, porque desse assunto se fala no governo, mas no discurso em cadeia nacional ela diz que há ataque ao trabalhador e aos seus ganhos salariais.
O debate eleitoral que vai se travar até as urnas vai, evidentemente, mostrar os problemas criados pelo governo. A candidata vai se defender e já se sabe agora com que malabarismos e estratégia. Não haverá uma conversa sincera. Se houvesse, a presidente diria que é preciso fazer um ajuste em várias áreas de seu governo, no qual há uma corrida para tapar os furos que estão fazendo água.
O governo não cumpre as metas fiscais, maquia os números; não garante o preço da energia mais baixo porque o anúncio da benesse foi uma falácia; nunca levou a inflação para o centro da meta; suas projeções de crescimento não se realizaram. Para cada problema que se agrava, arquiteta-se um truque para escondê-lo até as eleições.
A política de transferência de renda aos extremamente pobres tem o mérito no foco aos que mais precisam. Veio sendo construída e aperfeiçoada a cada administração. Deveria ser apresentada como um direito do cidadão, mas vira populista quando é apresentada como uma doação do seu governo. Como todo o dinheiro que distribui sai dos bolsos dos cidadãos, é a sociedade brasileira que tem escolhido combater a pobreza. Não é benemerência; é decisão do país e direito dos mais pobres.
Esperar que o governo reconheça seus erros, fraquezas e defeitos em período eleitoral é inútil. Portanto, o que a presidente Dilma tem feito em todos os seus pronunciamentos é apresentar a defesa — e o ataque como defesa — no discurso construído pelos marqueteiros.
A torcida é para que a próxima administração, seja dela ou não, corrija os rumos o mais cedo possível.
Dilma disse que está sendo feito uso político da inflação. Quem está usando? Quem fala com preocupação do problema ou o governo, que represa preços que terão que ser corrigidos mais adiante? Ela disse que o país vive há 11 anos o mais longo período de inflação controlada. Ora, qualquer pessoa sabe no país que a hiperinflação foi vencida há 20 anos. Na entrada do governo Lula, o medo de perder a estabilidade elevou a taxa.
Apenas o recuo em relação à proposta econômica do PT é que manteve a inflação controlada. Ainda assim, os índices têm permanecido no governo Dilma no teto da meta.
O que ameaça a estabilidade é a insistência no uso da contabilidade criativa, que faz com que não se possa usar pelo valor de face vários números divulgados pelo Ministério da Fazenda. O problema avançou pela área de energia produzindo o esdrúxulo empréstimo à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, usado para esconder o tamanho exato do socorro às empresas elétricas.
Ela sabe que há um problema com a dupla indexação do salário mínimo porque o debate se trava inclusive dentro da sua equipe econômica. A fórmula de correção é pela inflação e pelo crescimento de dois anos antes. Se a inflação estivesse baixa, e o crescimento, alto, seria uma correção mais sustentável; mas no governo da presidente Dilma ocorreu o oposto: a inflação é alta e o crescimento é baixo.
O problema do salário mínimo subindo em termos reais num cenário assim não é das empresas, mas das contas públicas. Ele impacta principalmente a Previdência. Ela sabe disso, porque desse assunto se fala no governo, mas no discurso em cadeia nacional ela diz que há ataque ao trabalhador e aos seus ganhos salariais.
O debate eleitoral que vai se travar até as urnas vai, evidentemente, mostrar os problemas criados pelo governo. A candidata vai se defender e já se sabe agora com que malabarismos e estratégia. Não haverá uma conversa sincera. Se houvesse, a presidente diria que é preciso fazer um ajuste em várias áreas de seu governo, no qual há uma corrida para tapar os furos que estão fazendo água.
O governo não cumpre as metas fiscais, maquia os números; não garante o preço da energia mais baixo porque o anúncio da benesse foi uma falácia; nunca levou a inflação para o centro da meta; suas projeções de crescimento não se realizaram. Para cada problema que se agrava, arquiteta-se um truque para escondê-lo até as eleições.
A política de transferência de renda aos extremamente pobres tem o mérito no foco aos que mais precisam. Veio sendo construída e aperfeiçoada a cada administração. Deveria ser apresentada como um direito do cidadão, mas vira populista quando é apresentada como uma doação do seu governo. Como todo o dinheiro que distribui sai dos bolsos dos cidadãos, é a sociedade brasileira que tem escolhido combater a pobreza. Não é benemerência; é decisão do país e direito dos mais pobres.
Esperar que o governo reconheça seus erros, fraquezas e defeitos em período eleitoral é inútil. Portanto, o que a presidente Dilma tem feito em todos os seus pronunciamentos é apresentar a defesa — e o ataque como defesa — no discurso construído pelos marqueteiros.
A torcida é para que a próxima administração, seja dela ou não, corrija os rumos o mais cedo possível.
03 de maio de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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