Faz sucesso aqui no Blog o artigo da economista Mônica Baumgarten de Bolle, sobre o famoso livro do economista francês Thomas Piketty, “O Capital no Século XXI”.
Muitos comentários interessantes (dois deles já republicados como artigos), abordando especialmente a tese central do Livro de Piketty: “Quando a taxa de rendimento do capital excede a taxa de crescimento da economia (dado pelo PIB, Produto Interno Bruto), a desigualdade (medida pelo índice de Gini) aumenta“.
A certa altura do artigo, Mônica Baumgarten de Bolle diz que “o instigante livro de Thomas Piketty prenuncia o advento de sociedades movidas, sobretudo, pelas grandes fortunas herdadas, a débâcle da meritocracia”.
A meu ver, a conclusão é exagerada. O importante é que Piketty chama atenção para a distorção que o sistema capitalista vem vivendo nas últimas décadas, em que tem predominado os interesses do sistema financeiro, em detrimento dos interesses dos capitães da indústria e dos produtores rurais, que inicialmente eram as grandes locomotivas do capitalismo.
TUDO PELO CAPITAL
A equação é simples e antiga – teoricamente, não se pode aceitar que o capital tenha rendimento maior do que a produção de bens, porque isso significa a própria desmotivação do capitalismo. Qual o interesse do empresário em abrir um negócio comercial, industrial ou de serviços, correndo os riscos que caracterizam essas atividades, se pode ter um lucro mais seguro simplesmente aplicando no mercado financeiro?
E não estamos falando em ações, debêntures ou derivativos de mercado futuro, nem mesmo em simplórios certificados de depósitos bancários ou interbancários, nem em aplicações em fundos diversos. Estamos nos referindo a investimentos em diferentes títulos de dívida pública, colocados no mercado pelos próprios governos, com rendimento acima da inflação e lucro real garantido. O Brasil, aliás, é mestre nisso…
Se o capitalista pode ter essa possibilidade de aplicação segura e garantida, o que o motivaria a investir em produção e correr riscos? Não há duas respostas a esta indagação óbvia, que evidencia a maior distorção já sofrida pelo capitalismo.
BOLHA IMOBILIÁRIA
Recentemente, os megainvestidores tentaram uma variante ainda mais rentável, com especulação massiva no mercado imobiliário, mas com isso causaram gravíssimas crises em diferentes países (EUA, Japão, Espanha etc.), porque é impossível derrubar a lei da oferta e da procura, de uma forma ou de outra o mercado acaba voltando ao normal e os especuladores migram para outra aplicação, deixando na pior os otários de sempre (a velha classe média).
No meio da crise do capitalismo e do sentimento pessimista que desperta, mesmo que aconteça a previsão de Piketty (o advento de sociedades movidas, sobretudo, pelas grandes fortunas herdadas, com a derrocada da meritocracia), peço licença para chamar atenção para um fenômeno inverso, que o economista Mário Henrique Simonsen gostava de citar: “Pai rico, filho nobre e neto pobre”. É um dos ditados mais antigos do capitalismo, que ninguém consegue desmentir.
Quem já nasce rico (com as exceções de praxe) tem uma vocação aparentemente irresistível de aproveitar e detonar o dinheiro.
Na verdade, a vida é muito mais criativa do que a mente dos economistas. Estamos na terceira fase do capitalismo. A primeira foi a da produção; a segunda, a economia de escala; e a terceira, o capitalismo financeiro. Resta sabe qual será a quarta etapa. Talvez um mix de tudo isso, com um resultado menos selvagem e mais humano, porque sonhar ainda não é proibido.
03 de maio de 2014
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