Maluquice no mercado vira do avesso com boatos sobre rumores da queda de Dilma em pesquisas
HÁ DOIS MESES, os donos do dinheiro grosso faziam arruaça na praça financeira mundial, no Brasil em particular. As ações da Petrobras passavam pelo picador de papel. Em meados de março, a Bovespa sangrava vermelho escuro, em baixa de 13% no ano. Ontem, a Bolsa voltou ao azul.
A maluquice tem mão dupla.
Com exceção de uma baixa, aliás temporária, nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, não aconteceu nada de muito relevante ou inesperado na finança e na economia mundiais.
Na finança e na economia brasileiras tampouco ocorreu mudança de nota. O fato de o Banco Central indicar que a campanha de aumento da taxa de juros será esticada, como o fez outra vez ontem, não tem nada a ver com a maluquice festeira da Bolsa, pelo contrário.
O cenário básico, deteriorado, ainda é o mesmo. As taxas de juros longas por aqui ainda dobram as do início do ano passado, ou quase por aí. A economia vai crescer tanto quanto no ano passado ou menos. As perspectivas para inflação e juros de curto prazo (Selic) pioraram, garantia extra de que 2015 será outro ano de lerdeza econômica. De resto, a Petrobras parece uma empresa ainda mais avariada do que faz um bimestre.
Por enquanto, a explicação sobre os movimentos do mercado por aqui são, por exemplo, banalidades costumeiras, nem por isso equivocadas, como dizer que o preço dos ativos brasileiros, ações em particular, estava em nível de liquidação.
No mais, continua aquele rumor sobre boatos (sic) políticos estarem influenciando a Bolsa, aqueles que temos ouvido desde 20 de março: estaria crescendo a probabilidade de Dilma Rousseff perder a eleição ou até mesmo a candidatura (para Lula).
A especulação de ontem baseava-se outra vez na expectativa de que a candidata Dilma Rousseff e seu governo vão aparecer mal na foto da pesquisa Datafolha que será publicada no sábado, pesquisa que, no entanto, ainda está em andamento. O que dava impulso ao boato "no mercado" era a explicação antecipada que o próprio governo vinha vazando a respeito de um possível resultado ruim no Datafolha.
Isto é, segundo o boato governista, as pesquisas que vinham dando vantagem grande a Dilma Rousseff estariam defasadas, não tendo captado a "campanha" recente contra o governo (inflação mais alta, rolos na Petrobras, CPI etc.). O próprio governo já teria captado, em suas pesquisas, o desgaste presidencial. Logo, o possível tombo de Dilma no Datafolha evidenciaria esse período de "dificuldades temporárias" para o governo.
A possibilidade incrementada de derrota de Dilma implicaria a vitória de um candidato "pró-mercado", segue o argumento baseado no rumor. No mínimo, o tombo nas pesquisas e a enxurrada de más notícias para seu governo poderiam colocar a presidente contra a parede, obrigando-a a implementar desde agora mudanças em sua política econômica.
Sim, tudo parece especulação desvairada, mas a culpa não é do colunista. Pode bem ser que alguns outros motivos estejam influenciando o preço das ações (e estão), mas povos dos mercados e seus porta-vozes têm enfatizado essa versão dos fatos e fatores da reviravolta na Bolsa.
HÁ DOIS MESES, os donos do dinheiro grosso faziam arruaça na praça financeira mundial, no Brasil em particular. As ações da Petrobras passavam pelo picador de papel. Em meados de março, a Bovespa sangrava vermelho escuro, em baixa de 13% no ano. Ontem, a Bolsa voltou ao azul.
A maluquice tem mão dupla.
Com exceção de uma baixa, aliás temporária, nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, não aconteceu nada de muito relevante ou inesperado na finança e na economia mundiais.
Na finança e na economia brasileiras tampouco ocorreu mudança de nota. O fato de o Banco Central indicar que a campanha de aumento da taxa de juros será esticada, como o fez outra vez ontem, não tem nada a ver com a maluquice festeira da Bolsa, pelo contrário.
O cenário básico, deteriorado, ainda é o mesmo. As taxas de juros longas por aqui ainda dobram as do início do ano passado, ou quase por aí. A economia vai crescer tanto quanto no ano passado ou menos. As perspectivas para inflação e juros de curto prazo (Selic) pioraram, garantia extra de que 2015 será outro ano de lerdeza econômica. De resto, a Petrobras parece uma empresa ainda mais avariada do que faz um bimestre.
Por enquanto, a explicação sobre os movimentos do mercado por aqui são, por exemplo, banalidades costumeiras, nem por isso equivocadas, como dizer que o preço dos ativos brasileiros, ações em particular, estava em nível de liquidação.
No mais, continua aquele rumor sobre boatos (sic) políticos estarem influenciando a Bolsa, aqueles que temos ouvido desde 20 de março: estaria crescendo a probabilidade de Dilma Rousseff perder a eleição ou até mesmo a candidatura (para Lula).
A especulação de ontem baseava-se outra vez na expectativa de que a candidata Dilma Rousseff e seu governo vão aparecer mal na foto da pesquisa Datafolha que será publicada no sábado, pesquisa que, no entanto, ainda está em andamento. O que dava impulso ao boato "no mercado" era a explicação antecipada que o próprio governo vinha vazando a respeito de um possível resultado ruim no Datafolha.
Isto é, segundo o boato governista, as pesquisas que vinham dando vantagem grande a Dilma Rousseff estariam defasadas, não tendo captado a "campanha" recente contra o governo (inflação mais alta, rolos na Petrobras, CPI etc.). O próprio governo já teria captado, em suas pesquisas, o desgaste presidencial. Logo, o possível tombo de Dilma no Datafolha evidenciaria esse período de "dificuldades temporárias" para o governo.
A possibilidade incrementada de derrota de Dilma implicaria a vitória de um candidato "pró-mercado", segue o argumento baseado no rumor. No mínimo, o tombo nas pesquisas e a enxurrada de más notícias para seu governo poderiam colocar a presidente contra a parede, obrigando-a a implementar desde agora mudanças em sua política econômica.
Sim, tudo parece especulação desvairada, mas a culpa não é do colunista. Pode bem ser que alguns outros motivos estejam influenciando o preço das ações (e estão), mas povos dos mercados e seus porta-vozes têm enfatizado essa versão dos fatos e fatores da reviravolta na Bolsa.
03 de abril de 2014
Vinicius Torres Freire. Folha de SP
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