"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

ALTA DE JUROS PODE SER INVEVITÁVEL NO BRASIL


 
As nações emergentes já estão apreciando o bailado monumental da transmigração de recursos financeiros, em função da liquidez global, com destino a países com situação econômica mais segura, principalmente os EUA, fato ocasionado pela redução dos seus estímulos monetários em pleno andamento.

Nos últimos dias, nada menos que três países considerados emergentes,  através dos seus respectivos Bancos Centrais, elevaram os seus juros básicos - Índia, África do Sul e Turquia, sendo que este último impôs muita agressividade na sua alavancagem de 7,75% a.a. para 12% a.a., inquietando de certa forma o mercado internacional.

As autoridades econômicas brasileiras já se posicionaram com a seguinte conclusão: a alta de juros no país teria que ser acompanhada a exemplo das outras nações emergentes.

Coincidentemente, os três países, assim como o Brasil, têm em comum um eminente déficit externo. A realidade é que o volume de dólares que está saindo deles é substancialmente maior que a quantidade que neles ingressa. Diante do fato, os investidores são incentivados a tirarem seus recursos dos emergentes que apresentam este tipo de desequilíbrio no seu fluxo cambial e redirecioná-los aos países reconhecidamente de economia sólida, em função do cenário econômico bastante instável aliado à nova política macroeconômica americana.

A questão é que há uma evidente desvalorização das moedas dos emergentes e os seus respectivos Bancos Centrais estão procurando, dentro da surrada linha monetarista, a elevação da taxa de juros básica, buscando tornar esses papéis bastantes atrativos aos investidores que demonstram apetite ao risco.
Pergunta-se: será que a nossa moeda continuará se desvalorizando?  Ela poderá atingir R$ 2,50, R$ 2,60 ou, até mesmo, R$ 3,00?

O Brasil terá que, compulsoriamente, aumentar os juros a fim de barrar a desvalorização do real? Cumprindo-se a política de retirada progressiva dos estímulos nos EUA, é justificável que a nossa moeda se debilite ainda mais. O regime de elevação da taxa básica de juros, no meu entender, não é o único caminho a ser adotado pelo Brasil para resgatar o capital estrangeiro já perdido.

Existem outras soluções, como golpear com determinação política os gastos públicos, o que ofereceria mais segurança aos investidores para adquirir títulos brasileiros mesmo dentro das atuais taxas praticadas, caso as autoridades econômicas divulguem nos próximos dias um superávit primário em torno de 3% do PIB para este exercício. Infelizmente, pelo andar da carruagem, não vemos a mínima disposição de que farão isso.

O noticiário econômico divulgou recentemente que o Governo Federal está propenso a cortar aproximadamente R$ 30 bilhões do Orçamento, o que demonstra tecnicamente, dentro da atual estrutura, garantir um superávit de aproximadamente 2% com relação ao PIB. Esses valores monetários que correspondem ao intencional corte, representam justamente o total das receitas infladas, que efetivamente não existem, mas integram o Orçamento. É como se o governo simplesmente estivesse realizando uma estimativa mais exequível da arrecadação dos tributos, conciliando também a previsão de despesas.

A dificuldade no atual momento para os emergentes é bem superior ao conteúdo do discurso adotado pelo Governo Federal. Anunciando um superávit primário que está sendo projetado para 2% do PIB até agora, dificilmente conseguiria seduzir o mercado financeiro. Na verdade, a visão desse segmento não é de uma administração pública austera até que sejam realizadas as eleições majoritárias no país.

Existe um grande agravante que é o “déficit de credibilidade” que sombreia boa parte da equipe econômica brasileira. Nesses últimos anos, o Ministério da Fazenda tem feito suas promessas aparentemente viáveis para massagear o ego do mercado e, divulga outras, completamente destoantes das necessidades identificadas.

Aplica com uma exemplar maestria o jeitinho da maquiagem apoiada na camuflagem, com a única finalidade de cumprir a famigerada meta fiscal com os seus já conhecidos artifícios que não conseguem mais iludir os economistas e financistas de plantão. O mercado financeiro exala por todos os seus poros econômicos e financeiros que só volta a pensar em acreditar numa política fiscal consistente após a substituição das atuais cabeças coroadas da equipe econômica.

Sem o apoio de uma forte política fiscal e mantido o atual cenário, só resta ao BC brasileiro continuar elevando a SELIC. Para que se tenha uma rápida noção, as projeções divulgadas para os juros futuros em 2017 já sinalizam, no momento, para uma taxa de 13% a.a., bem superior à atual em vigor, de 10,5% a.a., deliberada na última reunião do COPOM realizada em 15.01.14.


Como vimos, no início do nosso texto, diante da decisão adotada pela Turquia recentemente, coloca-se um referencial altista para as demais taxas adotadas pelos países emergentes, principalmente o Brasil, procurando torná-las competitivas em função da ampla dinâmica na movimentação do capital ao redor do planeta.

Portanto, estaremos exercendo um movimento inverso do que foi realizado nos últimos cinco anos, quando os juros artificialmente baixos em função de uma estratégia excepcional adotada para superar uma crise de âmbito mundial que envolve nações desenvolvidas, abriu um espaço considerável para o Brasil, ao praticar as taxas mais baixas da sua história econômica contemporânea.

O aumento dos juros não é salutar para qualquer economia, essencialmente a brasileira, com um pífio crescimento econômico. Suprimir gastos públicos, sem dúvida, contribui para a redução da dívida pública. Tendo uma SELIC mais elevada, a consequência é inversa, ao aumentar os gastos públicos com juros.

Não é uma prática recomendável no ambiente que estamos vivenciando, quando as agências internacionais de rating ameaçam cortar a nota do Brasil mesmo em ano eleitoral, o que aumentaria ainda mais a saída de capital estrangeiro e a desvalorização da nossa moeda, por conseguinte, pressionando a inflação que já se encontra próxima ao limite superior da meta estabelecida.

Portanto, desnuda-se um cenário que não entusiasma a tomada de risco por investidores.
 
01 de fevereiro de 2014Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
 
Central Nuclear de Angra: vai trabalhar muito no racionamento...

02 de fevereiro de 2014
Heitor Scalambrini Costa

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