—Eu vejo você aqui no boteco todo fim de semana, há não sei quantos anos, de forma que acho que posso dizer que hoje somos amigos. Mais do que leitor, eu me sinto seu amigo, sinto que conheço você. Apenas nunca tivemos a chance de conversar.
— Foi por acaso, porque todo mundo aqui conversa comigo.
— E eu gostaria de conversar também, mas fico meio acanhado de abordar certos assuntos e não me fazer entender bem.
— Que nada, pode falar sobre o que você quiser. Prefiro que não seja sobre o Vasco, mas, de resto, tudo bem.
— É que talvez você possa colaborar num projeto de interesse geral. Você botaria o meu nome no jornal? Já não digo como personagem, mas numa citação. Você às vezes faz isso. “Meu amigo Fulano disse isso ou aquilo”, você escreve isso de vez em quando. O que eu queria é simples: é você citar meu nome no jornal, não precisa elogiar, basta citar, você sabe fazer essas coisas muito bem. Volta e meia, assim como quem não quer nada, você me cita.
— Mas o que é que eu vou dizer?
— Esta é a segunda parte, é a parte do aposto. A parte do aposto é a seguinte: você bota um aposto depois de meu nome. Pode ser “o Feliz”, mas, se você preferir outro adjetivo, tudo bem.
— Você quer ser conhecido como o Feliz?
— É, qualquer coisa assim. Eu quero projetar uma imagem de felicidade e realização, quero ser um símbolo para os homens de minha geração.
— E você acha que vai conseguir tudo isto, se eu botar seu nome no jornal?
— Não, somente com isso, não, isso é a parte inicial, a parte da construção de minha imagem. Eu venho pensando nisso a mil por hora, as coisas acontecem vertiginosamente. Todos os problemas humanos são sexuais e eu estou resolvendo cada um deles. Eu criei um aplicativo sem precedentes, revolucionário. Só falta acabar uns detalhezinhos, mas vai ser um grande passo na história sexual da humanidade, ou seja, na história da humanidade em geral, pois o problema sempre foi conseguir comer as mulheres e, depois de conseguir, comer corretamente. Este objetivo raramente é alcançado, daí a alarmante taxa de insatisfação, reclamação e rebeldia entre as mulheres, que agora ameaçam banir os homens de seus leitos amorosos e até mesmo dispensar a colaboração masculina para se reproduzir! Zangões! É isso o que seremos, zangões! Os machos que nascerem serão sacrificados em rituais onde seus pintinhos e ovinhos serão salteados e servidos a elas como tira-gostos, com exceção de alguns poucos, que vão ser castrados para compor corais de vozes juvenis, e mais dois ou três no zoológico e nas aulas de arqueologia!
— Rapaz, talvez você tenha ido um pouco fundo demais no chope, não foi, não?
— Fundo ao chope eu fui, mas não vou dirigir e, sobretudo, estou suficientemente sóbrio para perceber que você não parece nem um pouco interessado em colaborar com uma iniciativa de relevância pública, como esta. E eu só estou lhe pedindo para botar meu nome no jornal, com o aposto. Do resto cuido eu, de todo o resto.
— Sim, eu imaginava que devia haver alguma coisa, além de botar seu nome no jornal.
— Claro. Eu já lhe falei que criei um aplicativo. Ainda não botei nome, mas não vai ser nenhuma dessas frescuras em inglês, acho que vai ser “Aperparado” mesmo, é uma homenagem a minhas origens nordestinas. É completo. Por exemplo, você sabe que, hoje em dia, o homem não precisa mais ficar sobressaltado com o fantasma da brochada fora de hora, por ter calculado mal o tempo da tomada do antibrochante. Nada disso, ele toma sua dosezinha todo santo dia, está sempre preparado, é o novíssimo tratamento. E o aplicativo lembra a ele a hora de tomar a pílula, com uma cornetadazinha de hastear bandeira muito discreta. O aplicativo lembra a ele todos os cuidados que tem que ter e tudo o que tem que fazer, em relação a cada contato, aparência pessoal, remédios, piadas, comentários sobre os últimos filmes, tudo, tudo. Com esse aplicativo, o usuário pode mudar de comportamento sexual de acordo com o perfil de cada parceira: se é no claro ou no escuro, se é com trilha sonora de gemido ou palavrão, se é com todas as armas e assim por diante, nunca mais uma mancada ou passo em falso. Vai ser criado o homem perfeito, vai estar ao alcance de cada um ser o homem perfeito, o verdadeiro homo erectus.
— Não acredito nisso, há muita coisa que o aplicativo não pode fazer.
— Mas é claro! É para isso que eu bolei o sexpa, o spa do sexo. Meu objetivo é fundar uma franquia e ter sexpas em todas as grandes cidades, logo nos primeiros anos. O sexpa é destinado a promover a felicidade sexual, oferecendo cursos e estágios de acordo com as diferentes necessidades e características dos clientes, tudo no maior profissionalismo e eu acho até que pode ser abatido no imposto de renda, como despesa com educação e saúde. Entendeu por que eu preciso que você bote meu nome no jornal? É meu pontapé inicial.
— Eu não posso fazer isso, é um empreendimento comercial.
— Ih, senti a fera, é isso mesmo, hoje em dia somente otário é que não aproveita, tem que cobrar mesmo, business is business. Tudo bem, você continua a promoção e leva um percentual da receita, depois a gente acerta os detalhes. E ainda arrumo para você um mês de sexpa grátis por ano. Quando é que você acha que vai poder botar meu nome no jornal?
— Foi por acaso, porque todo mundo aqui conversa comigo.
— E eu gostaria de conversar também, mas fico meio acanhado de abordar certos assuntos e não me fazer entender bem.
— Que nada, pode falar sobre o que você quiser. Prefiro que não seja sobre o Vasco, mas, de resto, tudo bem.
— É que talvez você possa colaborar num projeto de interesse geral. Você botaria o meu nome no jornal? Já não digo como personagem, mas numa citação. Você às vezes faz isso. “Meu amigo Fulano disse isso ou aquilo”, você escreve isso de vez em quando. O que eu queria é simples: é você citar meu nome no jornal, não precisa elogiar, basta citar, você sabe fazer essas coisas muito bem. Volta e meia, assim como quem não quer nada, você me cita.
— Mas o que é que eu vou dizer?
— Esta é a segunda parte, é a parte do aposto. A parte do aposto é a seguinte: você bota um aposto depois de meu nome. Pode ser “o Feliz”, mas, se você preferir outro adjetivo, tudo bem.
— Você quer ser conhecido como o Feliz?
— É, qualquer coisa assim. Eu quero projetar uma imagem de felicidade e realização, quero ser um símbolo para os homens de minha geração.
— E você acha que vai conseguir tudo isto, se eu botar seu nome no jornal?
— Não, somente com isso, não, isso é a parte inicial, a parte da construção de minha imagem. Eu venho pensando nisso a mil por hora, as coisas acontecem vertiginosamente. Todos os problemas humanos são sexuais e eu estou resolvendo cada um deles. Eu criei um aplicativo sem precedentes, revolucionário. Só falta acabar uns detalhezinhos, mas vai ser um grande passo na história sexual da humanidade, ou seja, na história da humanidade em geral, pois o problema sempre foi conseguir comer as mulheres e, depois de conseguir, comer corretamente. Este objetivo raramente é alcançado, daí a alarmante taxa de insatisfação, reclamação e rebeldia entre as mulheres, que agora ameaçam banir os homens de seus leitos amorosos e até mesmo dispensar a colaboração masculina para se reproduzir! Zangões! É isso o que seremos, zangões! Os machos que nascerem serão sacrificados em rituais onde seus pintinhos e ovinhos serão salteados e servidos a elas como tira-gostos, com exceção de alguns poucos, que vão ser castrados para compor corais de vozes juvenis, e mais dois ou três no zoológico e nas aulas de arqueologia!
— Rapaz, talvez você tenha ido um pouco fundo demais no chope, não foi, não?
— Fundo ao chope eu fui, mas não vou dirigir e, sobretudo, estou suficientemente sóbrio para perceber que você não parece nem um pouco interessado em colaborar com uma iniciativa de relevância pública, como esta. E eu só estou lhe pedindo para botar meu nome no jornal, com o aposto. Do resto cuido eu, de todo o resto.
— Sim, eu imaginava que devia haver alguma coisa, além de botar seu nome no jornal.
— Claro. Eu já lhe falei que criei um aplicativo. Ainda não botei nome, mas não vai ser nenhuma dessas frescuras em inglês, acho que vai ser “Aperparado” mesmo, é uma homenagem a minhas origens nordestinas. É completo. Por exemplo, você sabe que, hoje em dia, o homem não precisa mais ficar sobressaltado com o fantasma da brochada fora de hora, por ter calculado mal o tempo da tomada do antibrochante. Nada disso, ele toma sua dosezinha todo santo dia, está sempre preparado, é o novíssimo tratamento. E o aplicativo lembra a ele a hora de tomar a pílula, com uma cornetadazinha de hastear bandeira muito discreta. O aplicativo lembra a ele todos os cuidados que tem que ter e tudo o que tem que fazer, em relação a cada contato, aparência pessoal, remédios, piadas, comentários sobre os últimos filmes, tudo, tudo. Com esse aplicativo, o usuário pode mudar de comportamento sexual de acordo com o perfil de cada parceira: se é no claro ou no escuro, se é com trilha sonora de gemido ou palavrão, se é com todas as armas e assim por diante, nunca mais uma mancada ou passo em falso. Vai ser criado o homem perfeito, vai estar ao alcance de cada um ser o homem perfeito, o verdadeiro homo erectus.
— Não acredito nisso, há muita coisa que o aplicativo não pode fazer.
— Mas é claro! É para isso que eu bolei o sexpa, o spa do sexo. Meu objetivo é fundar uma franquia e ter sexpas em todas as grandes cidades, logo nos primeiros anos. O sexpa é destinado a promover a felicidade sexual, oferecendo cursos e estágios de acordo com as diferentes necessidades e características dos clientes, tudo no maior profissionalismo e eu acho até que pode ser abatido no imposto de renda, como despesa com educação e saúde. Entendeu por que eu preciso que você bote meu nome no jornal? É meu pontapé inicial.
— Eu não posso fazer isso, é um empreendimento comercial.
— Ih, senti a fera, é isso mesmo, hoje em dia somente otário é que não aproveita, tem que cobrar mesmo, business is business. Tudo bem, você continua a promoção e leva um percentual da receita, depois a gente acerta os detalhes. E ainda arrumo para você um mês de sexpa grátis por ano. Quando é que você acha que vai poder botar meu nome no jornal?
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