Petrobras anuncia reajuste de 4% na gasolina e de 8% no diesel, nas refinarias
Novos valores entrarão em vigor a partir de zero hora deste sábado. Impacto médio nas bombas deve ser de 1,8% no Rio, ou R$ 0,05
Novos valores entrarão em vigor a partir de zero hora deste sábado. Impacto médio nas bombas deve ser de 1,8% no Rio, ou R$ 0,05
Após longas e difíceis negociações com o governo, a Petrobras conseguiu aprovar nesta sexta-feira um reajuste de 4% nos preços da gasolina e de 8% no óleo diesel a partir de hoje em suas refinarias. O setor de distribuição e revenda prevê que o repasse será imediato para as bombas. No Rio, o impacto médio previsto é de 1,8% na gasolina, ou R$ 0,05 por litro, e de 5,2% no diesel. O aumento, contudo, não elimina a defasagem em relação aos preços internacionais, que tem impacto negativo no caixa da Petrobras. Assim, a pressão por novos reajuste deve continuar. A diferença na gasolina agora fica em de 10% (era 15%), e no diesel, em 12% (era 20%), segundo o analista Adriano Pires, do Centro brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Em fato relevante divulgado nesta sexta, a Petrobras dá a entender que foi aprovada pelo Conselho de Administração sua nova política de preços dos combustíveis, que visa a melhorar seu nível de endividamento, alcançar em prazo compatível a convergência com os preços internacionais dos combustíveis, sem contudo repassar a volatilidade dos preços externos. Mas a nova metodologia, no entanto, não será divulgada por ora.Para especialistas, o peso do reajuste sobre a inflação deste ano será pequeno, e o índice oficial deve ficar abaixo dos 5,84% de 2012, como promete o governo. O governo represou a alta nos preços dos combustíveis para segurar a inflação. O último aumento da gasolina foi em janeiro.
Adriano Pires, do CBIE, acredita que o mercado ficará frustrado com o percentual concedido, pois esperava mais, 6% para a gasolina e 10% para o diesel.
- Não acredito que houve mudança alguma na política de preços dos combustíveis. O viés para os reajustes continua sendo o controle da inflação. A posição do ministro (Guido) Mantega (Fazenda), prevaleceu. Os aumentos continuam sem previsibilidade. Se a Petrobras tivesse autonomia, o reajuste seria maior.
Nos últimos meses a Petrobras analisou e discutiu com o governo a adoção de uma nova metodologia de reajuste automático dos preços dos combustíveis, que leva em conta, entre outros fatores, a cotação internacional do petróleo. Em Brasília, fontes da área econômica do governo afirmam que as pressões por novos aumentos vão continuar.
- Não tem como a Fazenda fugir de mais pedidos de reajuste ainda este ano - disse uma fonte.
Reajuste não resolve problemas da empresa
Com a expectativa do reajuste, as ações da Petrobras tiveram ganho expressivo na sexta, ajudando a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a fechar o último pregão de novembro no azul. As ações ordinárias (com voto) subiram 3,3%, e as preferenciais (sem voto), 2,4%. A Bolsa subiu 1,23%, aos 52.482 pontos.
Para analistas, o reajuste era necessário, mas não resolve os problemas da empresa. Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, da corretora Coinvalores, dizem que um aumento sem a definição de uma metodologia de preços para a companhia “é apenas um paliativo para o caixa da empresa”.
- É preciso definir uma política de preços para a empresa. Na importação de combustíveis, o prejuízo é de R$ 13,2 bilhões até setembro. Isso gera problemas de caixa e se reflete na capacidade da empresa para investir -diz Piagentini.
A Petrobras precisa fazer caixa para realizar seu plano de investimentos, de US$ 236,7 bilhões de 2013 a 2017. A empresa, recentemente, arrematou a área de Libra, no pré-sal, e a maioria dos blocos de gás da 12ª Rodada da ANP.
- Sem uma política de preços definida, a Petrobras poderá ter que deixar de investir para importar combustível - avalia Barbosa.
A volatilidade das ações da Petrobras começou desde que os discursos da presidente da empresa, Graça Foster, e do ministro Mantega passaram a ser conflitantes. No dia 28 de outubro, Graça anunciou que a companhia já havia definido um mecanismo de reajuste dos preços para frear a desfasagem com o exterior. Dias depois, Mantega se disse contrário à ideia.
Pelos cálculos de Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, considerando um reajuste médio na bomba de 2,8%, o impacto no IPCA, índice de inflação, será de 0,11 ponto:
- A inflação fechará menor que a do ano passado com tranquilidade. Deve ficar entre 5,75% e 5,80%.
O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-RJ, espera um impacto semelhante e afirma que essa é uma questão de menor importância.
- O governo quer fechar com uma inflação menor do que 2012, mas o importante é que não há risco de chegar aos 6,5% do teto da meta. Esse aumento já devia ter sido dado. Na margem, se vai ficar em 5,80% ou 5,90%, pelo amor de Deus... Para a Dona Maria não faz diferença. Erro grave é a Petrobras pagar uma conta alta por causa de uma casa decimal.
O impacto direto do aumento do diesel é menor que o da gasolina, em torno de 0,05 ponto percentual. O efeito maior será sobre os fretes, que influenciam preços de alimentos, mas esse resultado, deve se refletir só em 2014. A alta do diesel pode pressionar por um aumento das tarifas de ônibus, que ficaram congeladas este ano, por causa das manifestações. (Colaboraram Eliane Oliveira, Mônica Tavares e Roberta Scrivano)
30 de novembro de 2013
RAMONA ORDOÑEZ, NICE DE PAULA e JOÃO SORIMA NETO - O Globo
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