Casas criadas para abrigar moradores deslocados estão vazias e degradadas
Governo diz que já implantou cinco vilas em Pernambuco e que 196 famílias foram contempladas
Casinhas coloridas erguidas para famílias que tiveram que dar lugar a canais e barragens da transposição do rio São Francisco estão vazias e degradadas em ao menos duas cidades do Nordeste.
O projeto da transposição prevê 800 unidades em 17 vilas produtivas rurais. O governo federal promete concluir as casas em dezembro deste ano e transferir as famílias até o mês de maio do ano que vem.
Em Sertânia (PE), no núcleo habitacional da Fazenda Salão, as casas estão prontas, mas com rachaduras e infiltrações. Faltam telhas.
O acesso aos imóveis é restrito: corrente e cadeado fecham o portão de entrada.
CIDADE FANTASMA
A vila de 20 casas lembra uma cidade fantasma. O mato toma conta do terreno, e só um vigia permanece por ali.
A alguns quilômetros, o agricultor Francisco da Silva, 68, passa os dias sozinho na casa que era da mãe. Sua família fica na sede do município e só irá para lá quando a vila puder ser ocupada.
Vilas fantasmas da transposição
O agricultor Francisco da Silva, 68, vive sozinho na casa que era da mãe
"Só pode ir quando eles [governo] mandarem. Dizem que só quando água passar [pelos canais] é que a gente vai para lá", disse Silva.
Mas os canais da transposição do rio São Francisco só devem receber água do rio no final de 2015.
Pela previsão inicial, as obras iniciadas em 2007 deveriam ter sido concluídas em 2012, mas problemas de projeto exigiram novas licitações, renegociação de contratos e interrupção do serviço por empreiteiras. Apenas os dois lotes tocados pelo Exército estão prontos.
Quando todos os 16 lotes forem concluídos, os canais levarão água a quatro Estados: Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
OBRAS LENTAS
Reportagem da Folha da semana passada mostrou que as obras, após meses de paralisação, estão sendo retomadas lentamente. No trajeto dos canais, há concreto rachado, remendos e mato alto.
Em Mauriti, no interior do Ceará, as casas parecem prontas, mas também já mostram sinais de infiltração. As unidades do núcleo habitacional da fazenda do Descanso também não dispõem de energia elétrica.
EXÉRCITO
Segundo o Ministério da Integração Nacional, a execução e fiscalização das obras das vilas são de responsabilidade do Exército.
"Todas as inconformidades já estão sendo sanadas pela empresa contratada pelo Exército", disse o ministério, em nota. "As famílias receberão as casas com todas as inconformidades sanadas", acrescenta a pasta.
De acordo com o governo federal, cinco vilas já foram implantadas no Estado de Pernambuco --em Salgueiro e em Cabrobó--, com 196 famílias contempladas.
30 de novembro de 2013
DANIEL CARVALHO - Folha de S. Paulo
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