Circula com sucesso na internet uma denúncia baseada em matéria da revista Exame, mostrando a adulteração das cervejas brasileiras mais vendidas.
Entre as mais conhecidas, apenas as da marca Baden, as Colorado, a Bavária Premium, a Cevada Pura, as Eisenbahn, a Heineken, a La Brunette, a Paulistânia, a Schimitt Ale e a Therezopolis Gold são as nacionais produzidas com puro malte de cevada – ou seja, cervejas de fato.
As demais levam 45% de milho, limite máximo permitido em lei, mas querem aumentar essa percentagem.
Confira a denúncia:
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JÁ PROVOU CERVEJA DE MILHO?
Já provou cerveja de milho? Se você já bebeu Bohemia, Skol, Antárctica ou Nova Schin, por exemplo, a resposta é sim. Todas elas levam na sua receita até 45% de milho – substituto barato da cevada maltada, ingrediente da receita original desta nobre bebida.
Já se sabe dessa malandragem pelo menos desde o ano passado, quando uma pesquisa da USP e da Unicamp analisou as cervejas brasileiras e constatou que as cervejarias nacionais usam nos seus produtos quase 45% de milho, limite máximo permitido por lei.
A novidade, noticiada pela Folha, é que as cervejarias estão batalhando para colocar ainda mais milho na sua cerveja – até 50%. Seria a verdadeira cerveja de maizena.
A cerveja é a bebida mais antiga que a humanidade produziu. E ela sempre foi feita de cevada, primeiro cereal que o homem plantou e colheu. E esse pioneirismo do grão talvez não seja coincidência – estudiosos da revolução do neolítico (período em que desenvolvemos a agricultura, há de 10 mil anos), consideram a hipótese de o homem ter desenvolvido as primeiras técnicas agrícolas justamente para fabricar cerveja. Se você leu o Almanaque das Drogas, já sabe disso.
Na era medieval, a Europa começou a ter problema de intoxicação por causa de cervejas feitas com ingredientes duvidosos e monges alemães que fabricavam cerveja baixaram um decreto com os ingredientes essenciais e obrigatórios da cerveja – e lá estava o malte de cevada como único grão aceito. É dele que vem o açúcar que as leveduras usam na fermentação para produzir álcool e gás carbônico. Quando se muda o grão que as leveduras “comem”, muda também o sabor do produto final.
Os mestres cervejeiros daqui apelam para essa mistura porque a produção de cevada brasileira é pequena, e nosso know how sobre o processo de maltagem é baixo. Então praticamente todo malte usado em nossas cervejas é importado e, logo, caro. Então eles colocam milho para deixar a cerveja mais barata. Uma grande sacanagem com o consumidor. Porque cerveja com mais milho é menos cerveja. Não tem saída, ela fica diferente mesmo. Só não dá para dizer que fica pior porque tem gosto para tudo – quem sabe você não gosta mesmo é do fermentado de milho?
E O PREÇO?
A sacanagem é ainda mais cruel se levarmos em conta algumas questões econômicas. A primeira é que já pagamos um preço absurdamente caro por uma garrafa de cerveja.
Em São Paulo e Rio de Janeiro não é difícil achar um bar que venda 600 ml por R$ 8.
A outra questão é que a Ambev, produtora das marcas mais vendidas do país, é dona da 4a maior margem de lucro sobre a venda entre as empresas brasileiras. De cada R$ 100 vendidos pela cervejeira, R$ 49,80 é lucro.*
Isso quer dizer que eles não precisam piorar a cerveja para manter seu negócio lucrativo. Os donos da Ambev são os homens mais ricos do país – Jorge Paulo Leman, sócio majoritário, tem uma fortuna de R$ 38 bilhões.
Esses comerciantes de drogas poderiam ganhar um pouquinho menos por garrafa para manter nossa cerveja ruim como já é.
Não precisava piorá-la. Mas eles preferem fazer isso a ganhar alguns centavos a menos. E ainda acham que só os fabricantes de drogas ilícitas é que são malvados e gananciosos, capazes de “malhar” seus produtos.
28 de outubro de 2013
Manoel Vidal
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