A diplomacia norte-americana, que vem sofrendo fracasso após fracasso no Oriente Médio, enfrenta agora a possibilidade de mais um fracasso gigante, que ameaça fazer ruir de uma vez toda a estratégia da Casa Branca para aquela região. Veem-se a cada dia sinais cada vez mais claros, de que o indolente processo da reconciliação palestinos-israelenses, que por hora permanece nas sombras, pode ser rompido a qualquer momento, e converter-se na fase mais quente de uma 3ª Intifada.
Tendo arrogantemente posto de lado o “quarteto” de mediadores, Washington nada obteve em termos de reconciliação, e isso pode levar a mais dores e dificuldades no novo Oriente Médio. Para vários especialistas, ao fazer do processo de paz no Oriente Médio sua absoluta prioridade, o secretário de Estado Kerry elevou de tal modo a aposta que, “se seus esforços derem em nada, demorará muito tempo para que outro volte a tentar”.
Elliott Abrams, por exemplo, que foi alto funcionário do Conselho de Segurança Nacional do governo do presidente George W. Bush, disse que não vê possibilidade realistas de que, agora, se possa alcançar qualquer tipo de acordo. “Só espero que haja duas equipes do Departamento de Estado: uma para manter as conversações; e a outra para planejar o que fazer quando as conversações derem em nada” – disse ele.
ÚNICO MEDIADOR
Os EUA usaram um truque simples: prometeram aos dois lados que atenderiam todas as respectivas “demandas legítimas”, e ofereceram cartas de garantia a israelenses e palestinos.
Os EUA prometeram aos palestinos que negociariam usando, como base, as fronteiras de 1967; e prometeram a Israel que as fronteiras finais não seriam as de 1967.
Os palestinos reclamam que o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, lhes garantiu a inviolabilidade das fronteiras de 1967; e que só por isso aceitaram retomar o processo de paz. Agora, os norte-americanos refutam essa informação. Netanyahu também nega a existência de tais cartas de garantias.
Washington concordou, essencialmente, com o que o primeiro-ministro israelense exigiu (que não se discutissem, nas negociações, as questões das fronteiras de 1967 nem a divisão de Jerusalém.
Como Noam Sheizaf escreveu no jornal israelense Maariv, os esforços de John Kerry para mostrar algum tipo de resultado de suas atividades no Oriente Médio levaram-no a trair os acordos fundamentais firmados durante o doloroso processo de negociação (que começou com o programa de Clinton e terminou com o “mapa do caminho”).
Segundo especialistas, “Netanyahu também enganou os americanos (quem pagará o preço dessa vitória de Pirro é outra história). Depois de três anos de obstinação, o governo Obama cedeu e aceitou que se anulassem todos os acordos já firmados antes entre as partes, durante as negociações em Taba e Annapolis”.
No momento, Netanyahu não está tão preocupado com a posição de Washington, mas com as ações independentes da negociadora israelense oficial, a ministra da Justiça Tzipi Livni, indicada por insistência dos norte-americanos e que tende a tomar posições mais suaves que as do primeiro-ministro.
Tzipi Livni apóia a ideia de dividir Jerusalém; Netanyahu opõe-se totalmente. Livni pode vir a aceitar a demolição parcial das construções israelenses em territórios palestinos ocupados; Netanyahu insiste em que as construções nas colônias são intocáveis.
Livni está disposta a aceitar o uso de forças internacionais no vale do Jordão; Netanyahu insiste na presença de forças israelenses.
Mas os medos do primeiro-ministro de Israel são muito exagerados.
Livni tem de conseguir aprovação do chefe de governo, para as posições que defenda, o que implica que o governo tem a palavra final. Além disso, Yitzhak Molcho, representante pessoal de Netanyahu, participa de todas as negociações e monitora as ações de Livni.
SEM PERSPECTIVAS
No campo palestino, ninguém, tampouco, conta com alguma possibilidade de sucesso. “Decidimos reagir positivamente aos pedidos infindáveis dos EUA para que se reiniciasse o tal ‘processo de paz’, para satisfazê-los e evitar possíveis acusações de que estaríamos fazendo alguma política de recusa eterna” – admitiu um dos negociadores da OLP. Os palestinos sabem que, na atual situação, “Israel jamais concordará em devolver a terra que roubou na guerra de 1967, nem, e muito menos, em admitir o retorno dos refugiados palestinos”.
Os palestinos, sobretudo, entendem que, levando-se em conta os sentimentos que hoje predominam em Israel, “qualquer governo israelense que aceite devolver a Cisjordânia e retirar-se de volta para as fronteiras de 4/6/1967 estará cometendo suicídio político.”
É verdade que, resultado de muitos anos de propaganda, a grande maioria dos israelenses não estão inclinados a apoiar qualquer concessão aos palestinos.
A diplomacia norte-americana, que vem sofrendo fracasso após fracasso no Oriente Médio, enfrenta agora a possibilidade de mais um fracasso gigante, que ameaça fazer ruir de uma vez toda a estratégia da Casa Branca para aquela região. Veem-se a cada dia sinais cada vez mais claros, de que o indolente processo da reconciliação palestinos-israelenses, que por hora permanece nas sombras, pode ser rompido a qualquer momento, e converter-se na fase mais quente de uma 3ª Intifada. Tendo arrogantemente posto de lado o “quarteto” de mediadores, Washington nada obteve em termos de reconciliação, e isso pode levar a mais dores e dificuldades no novo Oriente Médio. Para vários especialistas, ao fazer do processo de paz no Oriente Médio sua absoluta prioridade, o secretário de Estado Kerry elevou de tal modo a aposta que, “se seus esforços derem em nada, demorará muito tempo para que outro volte a tentar”. Elliott Abrams, por exemplo, que foi alto funcionário do Conselho de Segurança Nacional do governo do presidente George W. Bush, disse que não vê possibilidade realistas de que, agora, se possa alcançar qualquer tipo de acordo. “Só espero que haja duas equipes do Departamento de Estado: uma para manter as conversações; e a outra para planejar o que fazer quando as conversações derem em nada” – disse ele.[1]
As ações do “único mediador” deliberadamente condenara as negociações ao fracasso. Os EUA usaram um truque simples: prometeram aos dois lados que atenderiam todas as respectivas “demandas legítimas”, e ofereceram cartas de garantia a israelenses e palestinos.
Os EUA prometeram aos palestinos que negociariam usando, como base, as fronteiras de 1967; e prometeram a Israel que as fronteiras finais não seriam as de 1967.
Os palestinos reclamam que o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, lhes garantiu a inviolabilidade das fronteiras de 1967; e que só por isso aceitaram retomar o processo de paz. Agora, os norte-americanos refutam essa informação. Netanyahu também nega a existência de tais cartas de garantias.
Washington concordou, essencialmente, com o que o primeiro-ministro israelense exigiu (que não se discutissem, nas negociações, as questões das fronteiras de 1967 nem a divisão de Jerusalém. Como Noam Sheizaf escreveu no jornal israelense Maariv, os esforços de John Kerry para mostrar algum tipo de resultado de suas atividades no Oriente Médio levaram-no a trair os acordos fundamentais firmados durante o doloroso processo de negociação (que começou com o programa de Clinton e terminou com o “mapa do caminho”).
Segundo especialistas, “Netanyahu também enganou os americanos (quem pagará o preço dessa vitória de Pirro é outra história). Depois de três anos de obstinação, o governo Obama cedeu e aceitou que se anulassem todos os acordos já firmados antes entre as partes, durante as negociações em Taba e Annapolis”.
No momento, Netanyahu não está tão preocupado com a posição de Washington, mas com as ações independentes da negociadora israelense oficial, a ministra da Justiça Tzipi Livni, indicada por insistência dos norte-americanos e que tende a tomar posições mais suaves que as do primeiro-ministro. Tzipi Livni apóia a ideia de dividir Jerusalém;
Netanyahu opõe-se totalmente. Livni pode vir a aceitar a demolição parcial das construções israelenses em territórios palestinos ocupados; Netanyahu insiste em que as construções nas colônias são intocáveis. Livni está disposta a aceitar o uso de forças internacionais no vale do Jordão; Netanyahu insiste na presença de forças israelenses.
Mas os medos do primeiro-ministro de Israel são muito exagerados. Livni tem de conseguir aprovação do chefe de governo, para as posições que defenda, o que implica que o governo tem a palavra final. Além disso, Yitzhak Molcho, representante pessoal de Netanyahu, participa de todas as negociações e monitora as ações de Livni.
No campo palestino, ninguém, tampouco, conta com alguma possibilidade de sucesso. “Decidimos reagir positivamente aos pedidos infindáveis dos EUA para que se reiniciasse o tal ‘processo de paz’, para satisfazê-los e evitar possíveis acusações de que estaríamos fazendo alguma política de recusa eterna” – admitiu um dos negociadores da OLP.
Os palestinos sabem que, na atual situação, “Israel jamais concordará em devolver a terra que roubou na guerra de 1967, nem, e muito menos, em admitir o retorno dos refugiados palestinos”.
Os palestinos, sobretudo, entendem que, se se levam em conta os sentimentos que hoje predominam em Israel, “qualquer governo israelense que aceite devolver a Cisjordânia e retirar-se de volta para as fronteiras de 4/6/1967 estará cometendo suicídio político.”
É verdade que, resultado de muitos anos de propaganda, a grande maioria dos israelenses não estão inclinados a apoiar qualquer concessão aos palestinos. Resultados de pesquisa feita no país, com 4.774 respondentes, são desanimadores. 70% dos pesquisados, por exemplo, sentem que não faz sentido algum assinar qualquer tratado de paz com o governo de Mahmud Abbas. Apenas 17,5% dos respondentes entendem o contrário disso.
Mais de 87% creem que não será possível chegar à assinatura de um tratado de paz entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina, como resultado das atuais negociações. Só 2% creem que tal resultado seja possível. 73% entendem que o conflito Israel-Palestino jamais terá solução. 14,5% entendem que, sim, chegará ao fim; mas só depois de 2030.
Uma das perguntas dessa pesquisa foi: “Que concessões você considera aceitáveis, em nome de alcançar-se um acordo de paz com o governo da Autoridade Palestina?”
Cerca de 48% responderam “Nenhuma”. 1,5% consideram aceitável a volta dos refugiados palestinos ; 2,4% consideram aceitável a completa evacuação de toda a população de judeus da Cisjordânia; 3,1% consideram aceitável o retorno às fronteiras de 1967; e menos de 7% dos entrevistados consideram aceitável dividir Jerusalém.
Essas reações e pensamentos são alimentados por argumentos doutrinários dos estrategistas israelenses. Merece destaque um relatório preparado pelo Centro Begin-Sadat (BESA) para Pesquisa Estratégica, que leva o característico título de “O Tempo corre a favor de Israel”.
O relatório argumenta que a vantagem de Israel sobre os adversários regionais, em termos de medidas agregadas de poder nacional, jamais foi tão ampla quanto hoje, e que essa tendência continuará no longo prazo. Em vasta medida, essa situação foi consequência da desestabilização de países vizinhos, depois da “Primavera Árabe”.
Os argumentos do campo da esquerda em Israel, para um rápido acordo da questão palestina, podem ser considerados sem substância. Não há qualquer real ameaça contra Israel e, assim, não se vê qualquer necessidade, para Israel, de fazer concessões.
O desacordo entre os países árabes e o Irã cresceu ao ponto de que a preocupação deles com a questão palestina foi deslocada para o fundo da cena, e eles vão-se tornando potenciais aliados de Israel. Essa é a razão pela qual Telavive insiste tanto sobre ‘a ameaça iraniana’.
Depois de 65 anos de existência, Israel já pode confiar que superará os desafios que apareçam pela frente. “Por mais que a paz seja desejável, não é condição necessária para a sobrevivência” – conclui Efraim Inbar, autor do relatório do BESA Center.[2]
Não surpreende que algumas das sugestões de Israel, nesse ponto das negociações, sejam deliberada e acintosamente inaceitáveis, para não dizer que são acintosamente zombeteiras.
Por exemplo, segundo informação do jornal Maariv, nas negociações com os palestinos, os israelenses têm planos de oferecer um acordo parcial, sob o princípio da “anexação em troca de anexação”.
Na essência, Israel oferecerá anexar parte da Cisjordânia ao sul (Gush Etzion), em troca de Israel transferir parte do território da Cisjordânia ao norte (na área de Shechem), hoje sob controle dos israelenses da Autoridade Palestina. Em outras palavras, Israel oferece aos palestinos não território israelense, como definido nos acordos de Camp David em 2000 e de Annapolis em 2008, mas… território palestino! O próprio Ariel Kachane, autor do artigo, admite que há poucas chances de os palestinos aceitarem essa oferta.
O jornal pan-árabe Al-Hayat noticia que Israel insiste em manter o controle e a presença de soldados israelenses no vale do rio Jordão; quer criar estações de alerta ao longo do rio; monitorar a movimentação de pessoas entre a Cisjordânia e a Jordânia; e preservar as bases militares nos pontos mais altos da Cisjordânia.
O vale do Jordão seria parte do futuro estado palestino, mas será transferido a Israel, em ‘empréstimo’ de longo prazo. Os israelenses continuam a insistir que toda a fronteira com a Jordânia permaneça sob controle do exército de Israel.
Naturalmente, todas essas sugestões são absolutamente inaceitáveis para os palestinos. Na Assembleia Geral da ONU, o presidente palestino [Abbas] disse claramente que só há acordo possível, nas fronteiras de 1967.
Os palestinos recusam-se a “entrar no sorvedouro de um novo acordo provisório que vai eternizando” – disse Abbas. “Nosso objetivo é obter acordo amplo e permanente, e um acordo de paz entre os estados da Palestina e de Israel que decida todas as grandes questões e responda todas as perguntas; que nos permita declarar oficialmente o fim do conflito e das exigências.”
E alertou que essa, provavelmente, é a última oportunidade para que Israel e Palestina decidam o conflito pela via pacífica.[3]
Nos dois campos vai-se instalando a conclusão de que é cada dia mais inevitável o início de uma terceira Intifada. O jornal israelense Haaretz escreveu que “Se o processo de negociação desandar completamente, por causa da inabilidade de Netanyahu, incapaz de enfrentar a pressão dentro de seu partido, começarão os tumultos nos territórios, que podem converter-se numa nova Intifada”.
O atual governo de Israel está convicto de que se se mantiver irredutível, acabará por conseguir impor-se. De fato, não há dados de realidade que justifiquem toda essa autoconfiança; afinal, os desafios que aguardam Israel podem ser mais assimétricos. Um novo levante palestino é perfeitamente capaz de complicar muito a situação em toda a região e de gerar graves perdas econômicas e diplomáticas para Telavive.
Como alerta o Haaretz, Netanyahu está pondo seu país em risco. Tradicionalmente, o fracasso de negociações sempre foi o gatilho para o início de mais uma onda de violência no Oriente Médio. O fracasso dessa específica rodada de negociações, escreve o jornal, “comprometerá ainda mais o status de Israel. O mundo está farto de ocupações, e nenhuma explicação, nunca mais, conseguirá eximir Israel de sua responsabilidade.”
28 de outubro de 2013
Dmitry Minin
Strategic Culture
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