Situação difícil – A oposição argentina foi a grande vencedora das eleições legislativas do domingo (27). O principal candidato oposicionista, Sergio Massa, da coligação peronista-conservadora Frente Renovadora, venceu com ampla vantagem na província de Buenos Aires, a mais populosa do país.
O também conservador Proposta Republicana (PRO), partido do prefeito da capital, Mauricio Macri, saiu vitorioso na cidade de Buenos Aires e elegeu senadores pela primeira vez. Logo após a divulgação dos primeiros resultados, ainda na noite de domingo, Macri anunciou que é candidato à presidência em 2015.
Massa não foi tão longe, mas seu discurso após a convincente vitória da sua coligação estava permeado de alusões que levam a crer que ele também concorrerá à Casa Rosada.
No total, o “kirchnerismo” perdeu em 15 dos 24 distritos (incluindo os cinco mais importantes), mas conseguiu manter-se como principal força no Congresso. As eleições renovaram metade da Câmara dos Deputados (127 assentos) e um terço do Senado (24 cadeiras).
Em termos percentuais, 68% dos argentinos votaram contra os candidatos da presidente Cristina Fernández de Kirchner.
Nesse novo cenário político a presidente argentina não perdeu a maioria no Congresso, mas a vantagem tornou-se ainda mais apertada. Isso obrigará Cristina de Kirchner a negociar de forma mais intensa para tentar aprovar matérias de seu interesse, como a mudança na Constituição que lhe garanta um terceiro mandato.
Mesmo antes das eleições parlamentares, a mandatária argentina já vinha recorrendo a alguns integrantes da oposição para conseguir aprovar no parlamento alguns projetos de interesse do governo.
Kirchner filia-se à tradição de Juan Domingo Perón, um dos políticos mais importantes da história do país. Nos anos 1940, ele colocou-se à frente de um movimento de forte apelo popular, criando um estilo político desde então conhecido como peronismo. Este caracteriza-se por ter um líder – ou uma líder – populista, de amplo apoio popular, e que atua em favor das “pessoas simples”.
As eleições primárias em agosto produziram uma amarga derrota para a coalizão de governo. No domingo, a tendência se confirmou, e o “peronismo de esquerda” da Frente para la Victoria (FPV) sofreu outro duro golpe. Ainda assim, a coalizão governista mantém uma frágil maioria nas duas casas do Parlamento, o suficiente para o governo interpretar o resultado das eleições como uma vitória.
O vice-presidente Amado Boudou fez questão de expressar euforia ao falar no comitê central de campanha da FPV. “É com alegria que constatamos ser a principal força política do país, antes e depois destas eleições”, afirmou. Ele admitiu derrotas significativas em algumas províncias, mas disse que a FPV vai recuperá-las.
Trata-se de uma visão bem otimista, já que os “kirchneristas” foram derrotados nas cinco principais províncias do país: a capital, a província de Buenos Aires e as províncias nortistas de Córdoba, Mendoza e Santa Fé.
Com o resultado das eleições, uma coisa é certa: Kirchner não terá um terceiro mandato. A FPV não possui mais a maioria necessária para propor uma emenda constitucional que permitiria uma segunda reeleição.
O principal candidato governista, Martín Insaurralde, fracassou nas eleições. Ele concorria como principal deputado na Província de Buenos Aires.
A presidente não pôde tomar parte na campanha, pois submeteu-se a uma cirurgia de emergência e precisou ficar em repouso absoluto. Kirchner não pôde nem mesmo viajar até seu domicílio eleitoral em Rio Gallegos, na Patagônia, para votar.
A saúde debilitada da chefe de Estado e o mau resultado nas urnas levaram alguns observadores a decretar o fim da era Kirchner. Ela e seu falecido marido e antecessor, Néstor Kirchner, governaram o país durante dez anos.
O “modelo” dos Kirchner, uma combinação de intervencionismo estatal e protecionismo feroz, não é mais atraente para muitos argentinos.
Uma nova classe média, que não se sente ligada ao peronismo, busca alternativas. Massa e Macri, os vencedores do pleito do domingo, beneficiaram-se dessa tendência.
Sergio Massa, de 41 anos, usou um discurso marcado por declarações típicas de um estadista. Ele enfatizou que “o futuro é mais importante do que o passado, por isso convoco todas as forças políticas a pensar numa política nacional.
Deixemos para trás as discórdias e pensamentos mesquinhos e nos voltemos para projetos concretos que estejam além dos interesses partidários”.
No entanto, ainda é incerto até que ponto as duas forças estarão de fato dispostas a trabalhar juntas. Após as eleições, Macri não perdeu a oportunidade de provocar seus potenciais adversários, e anunciou que nenhum político que já fez parte do governo concorrerá em 2015 pelo seu partido, o PRO. “Não iniciamos essa trajetória para manter os mesmos elementos que aí estão.
Queremos uma mudança verdadeira”, afirmou, em alusão ao fato de Massa ser um antigo integrante do governo Kirchner.
(Com informações da DW)
28 de outubro de 2013
ucho.info
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