"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 7 de setembro de 2013

REPARE BEM...

    

O último golpe militar no Brasil foi deflagrado na madrugada do dia 31 de março de 1964, quando a alta cúpula da caserna tomou o poder do país, com apoio e pressão dos Estados Unidos.
Na estratégia norte-americana, o Brasil era estratégico para aniquilar o comunismo na América do Sul, sobretudo após a Revolução Cubana. E tudo foi ardilosamente arquitetado para que os militares assumissem o controle do Brasil e dos principais países sul-americanos.
O temor era que os interesses políticos e econômicos dos Estados Unidos pudessem, de alguma forma, ser contrariados com a ameaça comunista.
 
Pois bem. Às vésperas deste estratagema maquiavélico completar 50 anos, uma série de bons filmes – como “O Dia que Durou 21 Anos”, “Dossiê Jango” e “Hoje” - está abordando diversos aspectos deste momento brutal e vergonhoso da nossa história recente.  
 
E há pouco tempo entrou em cartaz nas salas paulistanas o documentário “Repare Bem”, da diretora portuguesa Maria de Medeiros, uma coprodução entre Brasil, Itália e França.
 
Através de relatos marcantes, sinceros, lancinantes e emocionados, Denise Crispim e Eduarda Leite (mãe e filha) contam em detalhes como a família sofreu profundamente com a perseguição e a tortura no período mais duro da ditadura militar.
 
A história é dramática. Denise Crispim, de família humilde e de militantes, conhece em São Paulo o guerrilheiro Eduardo Leite (o Bacuri), de família de classe média alta. Eles se envolvem e ela fica grávida.
 
Preso, Bacuri permanece 109 dias enclausurado, sofrendo torturas, para em seguida ser assassinado de forma atroz pelos militares. Grávida, Denise também foi detida, mas conseguiu sobreviver aos tormentos e crueldades praticados por agentes da repressão. Depois que teve a filha Eduarda, Denise se refugiou no Chile e na sequência foi para a Itália.
 
Denise alerta que não basta apenas reparar (aliás, o título do filme tem esse duplo sentido, de reparação e de chamar atenção) e indenizar as famílias. É preciso que os militares tenham a coragem de mostrar a cara para explicar por que fizeram tamanha barbaridade, eliminando vidas e arruinando milhares de famílias brasileiras. Denise tem toda razão. Mas na prática, quem não permitiu que até hoje os arquivos do período de chumbo fossem abertos, não vai querer se expor para dar satisfação.
 
Um dos momentos mais emocionantes do filme é quando Eduarda Leite, que hoje mora na Holanda, vem ao Brasil para receber o pedido de perdão do Estado brasileiro, através da Comissão da Verdade.
 
No Festival de Cinema de Gramado deste ano, “Repare Bem” foi premiado como Melhor Longa Estrangeiro. É um documentário forte, necessário, com roteiro bem amarrado. Vale a pena conferir.

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