O clima das reuniões sistemáticas que os economistas fazem com diretores e técnicos do Banco Central está mudando e há uma divisão clara de opiniões entre analistas de grandes instituições e de corretoras. Esse é um sinal de que a ficha do mercado financeiro está começando a cair antes mesmo dos 100 dias do governo de Jair Bolsonaro.
Depois de ficarem sob efeito anestésico da euforia com o resultado das eleições (que tinha poucos fundamentos concretos de uma retomada mais forte na economia), operadores estão começando a colocar as barbas de molho e começam a fazer previsões mais realistas.
DIVISÃO – Os representantes dos grandes bancos e de consultorias são mais cautelosos sobre o crescimento da economia neste ano. Já os analistas de corretoras, que operam em bolsa, são os mais resistentes. Eles ainda não querem jogar a toalha totalmente, pois apostaram alto na retomada mais forte e que não vai se concretizar, segundo fontes do mercado.
As condições externas e os sinais de que o novo governo parece não estar dando a prioridade necessária para a reforma da Previdência, a mais importante de todas, tem preocupado os analistas. Apesar de a proposta ser bem ampla e ter sido apresentada em 20 de fevereiro, ela ainda mal começou a ser articulada no Congresso, que ainda não montou as comissões. E, enquanto o governo não enviar o projeto da reforma dos militares, dificilmente a roda vai girar.
SINALIZAÇÕES – E, para piorar, Bolsonaro, começa a queimar munição sinalizando mudanças antes mesmo de negociar com parlamentares e protagonizando nova crise de credibilidade internacional com vídeo polêmico publicado na internet no carnaval, que desvia o foco e só ajuda a afugentar investidores para o país quando ele aparece em rede social perguntando o que é “golden shower” — algo nada apropriado para alguém que governa a maior economia da América Latina. O impacto dessa confusão nas expectativas deverá ser refletido nos próximo Boletim Focus, do Banco Central.
Após o resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, a mediana das expectativas do mercado para o crescimento da economia brasileira neste ano passou de 2,48% para 2,3%, conforme o Focus desta semana. Contudo, esse dado é muito otimista se comparado com a nova estimativa de crescimento do PIB do Brasil, de apenas 1,9%, recém revisada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
NOVAS PREVISÕES – As entidades multilaterais costumam ser sempre mais otimistas do que o mercado em geral. Portanto, novos cortes nas previsões devem vir por aí.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, parece estar esperando a poeira desse carnaval tumultuado baixar, pois evitou vir para Brasília nesta semana. Agenda dele na capital federal, apenas a partir de segunda-feira. Analistas já sentem falta de ação do ministro. Ele tem evitado dar entrevistas e declarações. Nem mesmo a promessa feita por ele de anunciar uma medida por dia nos primeiros 100 dias foi cumprida.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É claro que a ficha do mercado logo iria cair. Os analistas sabem que a reforma da Previdência não é o principal problema da economia. Simultaneamente, é preciso também equacionar a dívida pública. Mas quem se interessa? (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É claro que a ficha do mercado logo iria cair. Os analistas sabem que a reforma da Previdência não é o principal problema da economia. Simultaneamente, é preciso também equacionar a dívida pública. Mas quem se interessa? (C.N.)
13 de março de 2019
Rosana Hessel
Correio Braziliense
Correio Braziliense
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