As Grandes Mentiras nas quais você acreditou… e como vai passar a acreditar em tantas outras.
Imagine-se numa sala qualquer, sentado(a) num sofá e com uma janela aberta a sua frente.
Você observa a paisagem através dessa janela.
Seus limites visuais são balizados, limitados pelas estruturas dela, pelos batentes na parede.
Quanto mais você se aproxima da janela, mais seu campo de visão se expande.
Ao se debruçar nela, você tem uma melhor noção do que se encontra a sua esquerda e a sua direita: objetos, situações, pessoas. Que você ignorava anteriormente.
Joseph P. Overton, vice-presidente do Mackinac Center para Opinião Pública nos anos 90 desenvolveu uma teoria baseada nas janelas da vida de cada um.
Daí o termo Janela de Overton.
Ele criou um modelo que mostra como as opiniões públicas podem ser mudadas intencionalmente e de forma gradual por um pequeno grupo de pensadores (“Think Tank“). Ou seja, idéias que antes pareciam impossíveis são plantadas na sociedade e, com o tempo, se transformam até mesmo no oposto do que era antes.
Imagine qualquer causa político/social (educação, aborto, descriminalização de drogas, não interessa).
Para cada causa há um espectro de idéias que vai de um extremo a outro (do pensamento mais radical ao mais liberal).
A Janela de Overton é o leque de idéias “aceitáveis” na sociedade, ou seja, a posição da sociedade num dado espectro.
Peguemos por exemplo o tema envolvendo o Aborto.
Num dos extremos temos a posição dos que são a favor, e no outro, a dos que são contra. Entretanto, existem nuances que podem ser exploradas.
Quando um Think Tank tem de promover uma idéia que está fora do que a opinião pública considera razoável, ela “puxa” a janela na sua direção.
Assim, através da sua ação na mídia, vai introduzindo no discurso público idéias a princípio consideradas radicais, impossíveis de implementar, mas que, com a exposição do público a essas ideias, o que era inaceitável passa a ser tolerável, e o que era aceito pode até passar a ser rejeitado.
Podemos ver esse mecanismo em ação agora mesmo, ao assistirmos a uma massificação/exploração da homossexualidade pela mídia, assim como fizeram nos anos 90 com o culto à marginalidade (e uso a palavra em seu sentido mais amplo, do que está à margem). Colheremos bons e maus frutos disso, mas não amadureceremos como sociedade, assim como não amadurecemos em relação às classes sociais, pois não há debate ou esclarecimento, apenas imposição e tomadas de lado.
Sem entrar na questão de certo ou errado (isso seria desvirtuar todo o post e olhar para o dedo, em vez de olhar pra Lua), dá pra perceber uma saturação de personagens homossexuais nas novelas, assuntos relativos ao tema nos telejornais, como que empurrando goela abaixo da sociedade algo que até então era tabu, num equivalente psicológico do que seria um “tratamento de choque”.
Tratamentos assim podem até curar os sintomas, mas à custa de recalques e traumas que ficarão adormecidos, apenas esperando um gatilho para explodir.
Alguns exemplos históricos – e comprovados – da aplicação das técnicas estudadas pela Janela de Overton:
Até a década de 20, o cigarro era de consumo único e exclusivo dos homens, era considerado um símbolo do poder e da autoridade masculina.
Isso criava um forte tabu quanto às mulheres: para a sociedade da época uma mulher fumando em público era considerada vulgar e poderia ser – e era – comparada à uma prostituta.
Quem não estava gostando nada disso eram os magnatas da Corporação de Tabaco Americana que sabiam estar perdendo uma grande fatia do mercado.
O que fazer então?
A indústria tabagista precisava ampliar as vendas e o público feminino era um mercado altamente promissor.
Como alterar a percepção de que fumar era um ato exclusivo de prostitutas e fazer com que isso fosse encarado como um ‘direito’ das mulheres?
Nesse momento entra a solução que veio da mente brilhante de Edward Bernays, um famoso relações públicas (leia: estrategista de marketing) da época. Ele desenvolvia suas estratégias com base na psicanálise (ah, esqueci de mencionar, o rapaz era sobrinho de Sigmund Freud) e na sociologia.
Edward Bernays foi o Don Draper antes de Don Draper existir (seriado Mad Man, se não assistiu, assista!!).
‘It´s Toasted’. Slogan sensacional do Lucky Strike!
Sem contar os testemunhos de profissionais da medicina dizendo que o cigarro não fazia mal à saúde porque “o tabaco era tostado” …
Em 1928 ele lançou o livro “Propaganda“, que se tornou a bíblia da indústria da publicidade e dos governos ocultos. Não por acaso foi o livro de cabeceira de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista (apesar de Edward ser judeu).
Sabendo que o cigarro era um símbolo fálico, bastava conectar o consumo do cigarro com a idéia de desafiar o poder masculino.
Assim, as mulheres passariam a fumar, possuindo um pênis próprio.
Ele convidou jovens debutantes da alta sociedade para estarem presentes em um desfile de Ação de Graças e deu a elas uma missão: quando chegassem a um local X do desfile, previamente determinado por Bernays, elas acenderiam seus cigarros e fumariam em público.
Nossa, que escândalo!
Como elas puderam concordar com isso?
Simples: as mulheres da época queriam de fato desafiar a autoridade masculina, queriam ter mais espaço, mais independência, mais poder de decisão sobre suas vidas .. e Bernays sabia muito bem disso.
A segunda parte da estratégia de Bernays foi convidar jornalistas e fotógrafos dos grandes jornais para estarem no mesmo local X durante o desfile. A estes ele não deu detalhes. Disse apenas que lá eles poderiam fazer um registro histórico, mais nada.
E assim aconteceu, no local marcado, diante dos fotógrafos, as jovens acenderam seus cigarros, e como aquela cena era “um escândalo” (e escândalos ajudam a vender jornais), os cliques não pararam.
Mas tinha um porém: as jovens eram finas representantes da alta classe burguesa. Sendo assim, a notícia (que iria ajudar a vender muitos jornais) não poderia ter teor depreciativo ou vulgar. Como resolver?
Simples: era só colocar como iniciativa inovadora. E assim foi feito.
No dia seguinte os jornais estampavam as fotos das moçoilas fumando em público com a seguinte manchete:Mulheres acendem as tochas da liberdade!
Foi um sucesso! Vendeu horrores: cigarros e jornais…
E por que funcionou?
Porque Bernays sabia qual mensagem usar para instigar as mulheres a assumirem seus cigarros em público. E, com base nisso, ele associou o ato de fumar a um gesto de alforria contra o patriarcalismo e a ditadura machista da época.
Conta-se que Bernays teria pago produtores de Hollywood para exibir suas belas atrizes fumando nos filmes (teriam sido estes os primeiros merchandisings da história?).
Mulher fumando ganhou status de glamour, luxo, sedução e poder.. e antes eram consideradas prostitutas .. uau!
Que mudança hein?!
Barack Obama é o maior exemplo de um produto de sucesso das relações públicas.
Ele saiu do nada para a presidência dos EUA através da imagem e do discurso.
Uma imagem – e discurso – vendidos não só para os EUA, mas para o mundo todo, e que geralmente não condiz com suas atitudes (A base de Guantánamo continua lá para provar).
Quem produziu Barack Obama?
A resposta visível é o marqueteiro dele, Ben Self (que por sinal trabalhou na campanha da Dilma).
Mas não responde a QUEM interessa ‘fazer’ Barack Obama.
Esse é um mistério que só pode ser entendido quando acrescentamos um elemento atualmente invisível à nossa compreensão: aqueles que controlam a sociedade.
Já ouviu falar do Clube Bilderberg? ou George Soros?
Não ?!? Poxa, eles decidem o seu futuro e você não sabe ?…
Edward Bernays fala explicitamente em seu livro “Propaganda”:
Se entendermos os mecanismos e as motivações da mente de grupo, é agora possível controlar e reger as massas de acordo com nossa vontade, sem seu conhecimento.
Em um livro posterior, Edward cunhou o termo “engenharia do consentimento” para descrever sua técnica de controle de massas:
A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática (…) Aqueles que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder do nosso país (…) Em quase todo ato de nossa vida diária, seja na esfera da política ou dos negócios, na nossa conduta social ou no nosso pensamento ético, nós somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas (…) que compreendem os processos mentais e padrões sociais das massas. São eles que puxam os fios que controlam a mente do público.
É no deslocamento da Janela de Overton para posições que sejam de interesse de determinados grupos que está aplicado um esforço altamente profissional, que faz parte do que se convencionou chamar de ‘engenharia social’(mais uma contribuição de Bernays), o ato de influenciar uma pessoa para que ela execute ações que não sejam necessariamente de seu (dela) melhor interesse.
Para deslocar a janela de opinião da posição “proibido” para a “menos proibido”, “neutro” e “permitido”, é preciso desviar o foco do assunto principal para algum outro valor relacionado ao tema. Para isso aciona-se um batalhão de especialistas em opinião pública: técnicos, cientistas, assessores de imprensa, relações públicas, institutos de pesquisa, celebridades, professores, jornalistas, etc.
Percebe aí o valor de recursos envolvidos? Até onde se enraíza a corrupção, os conluios?
Imagina o tamanho dessa teia de horrores?
Alguém achou que realizar a Copa do Mundo e Olimpíadas em nosso país seria uma excelente jogada política. E financeira, of course.
Imediatamente surgiu uma reação contra, daqueles que sabem que precisamos resolver problemas básicos de educação, saúde e infraestrutura entes de investir bilhões na construção de estádios.
O que fizeram então os engenheiros sociais?
Evitaram qualquer menção ao deslocamento do dinheiro de uma área prioritária para outra não prioritária e, usando a imprensa, desviaram a discussão para o orgulho do brasileiro, para a oportunidade de mostrar ao mundo como somos bons, deslocando a Janela de Overton do “contra a copa” para o “neutro ou a favor”. Transformaram os “do contra” em antibrasileiros, pessimistas e mau agourentos.
Anestesiaram a população, até ficar claro que as promessas não se realizariam, que o legado seria uma coleção de elefantes brancos e que os orçamentos originais explodiriam.
Então a Janela de Overton retornou à posição original, contra a copa, e os indignados foram às ruas…
É assim com todos os grandes temas polêmicos, como desarmamento, aborto, aquecimento global… A engenharia social não é de esquerda, de direita ou de centro: é de todos aqueles interessados no Poder.
Como disse Luciano Pires ao se perguntar se havia uma saída:
“- Não sei se tem alguma, mas acho que dá para ficar esperto: verifique sempre se o objeto do debate é o mérito da questão ou algum tema associado, paralelo, um desvio. Se você perceber que é o desvio, atenção: você acaba de descobrir mais uma operação de um grupo interessado em mover a Janela de Overton.”
A lista é enorme.
Hoje temos juízes emitindo opiniões minimizadoras sobre assuntos polêmicos e essas opiniões são o prenúncio de mudanças de atitudes ou, no jargão popular: “preparando o terreno pra dar o bote”
Vemos, lemos, ouvimos ou assistimos astros e estrelas, artistas e subcelebridades opinando sobre tudo e todos. Metralhadoras descontroladas.
Através da Engenharia Social, governos foram derrubados e governantes obscuros foram alçados ao poder. Vide Guatemala, Iraque, Irã, países africanos, ISIS, Hugo Chaves…
As técnicas de manipulação/convencimento são e continuarão a ser usadas ad perpetuum.
Pisque o olho e você é manipulado.
É impossível escapar deles. Mas ao menos você será um otário consciente.
A Janela de Overton é um conceito que pode ser igualmente utilizado para o bem ou para o mal. Conhecê-lo não rende nenhuma garantia de se tornar “não-manipulável”, mas conhecer as regras do jogo o torna muito mais fácil de jogar.
Think Tank
1 – Aqueles que desviam o foco da questão principal e começam a pautar assuntos adjacentes para tornar o discurso mais aceitável até que a percepção das pessoas seja deslocada.
2 – (em português pode ser traduzido por círculo de reflexão, laboratório de ideias e fábrica de ideias) são organizações ou instituições que atuam no campo dos grupos de interesse, produzindo e difundindo conhecimento sobre assuntos estratégicos, com vistas a influenciar transformações sociais, políticas, econômicas ou científicas sobretudo em assuntos sobre os quais pessoas comuns (leigos) não encontram facilmente base para análises de forma objetiva. Os think tanks podem ser independentes ou filiados a partidos políticos, governos ou corporações privadas.
22 de janeiro de 2019
Artigo escrito por Walter Barreto no Projeto Voluntários
Os pontos de vista expressos neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente a posição da Renova Mídia
Autoria, Bibliografia, Fontes de Consulta e Imagens
O Segredo do Negócio
Marketing On e Off: Gestão estratégica + Foco + Neuromarketing – Adriana Almeida – 03/05/16Portal Café Brasil -– Luciano Pires –08/08/2103
Breno França – Papo de Homem – 22 de setembro de 2016, 21:40
Think tank – Portuguese translation: círculo de reflexão, laboratório de ideias. ProZ.com. 2008
Guégués, Helder. Tradução: «think tank». Blogue Assim Mesmo. 2008
Hector Leis (30 de julho de 2009). Instituto Millenium, ed. «O que significa um think tank no Brasil de hoje».
Imagens coletadas da Internet
Referência:
Designorado: a importância dos extremos
Edward Bernays: The father of spin
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