A discussão dentro do PT sobre a exposição de Fernando Haddad em atos de campanha simboliza a incerteza do partido sobre como se dará, na prática, a transferência de votos de Lula para seu afilhado político. Os indícios de que a Justiça Eleitoral pode acelerar a decisão sobre a candidatura do ex-presidente devem provocar uma mudança significativa nos planos petistas.
Originalmente, advogados da sigla planejavam usar prazos legais e recursos para esticar o processo em que o TSE decidirá se Lula está ou não inelegível. Em um cenário considerado otimista, a sentença sairia só na segunda semana de setembro —o que daria tempo ao partido para levar à TV a imagem do ex-presidente como seu candidato oficial por quase 15 dias.
ANTECIPAÇÃO – Ministros do TSE e procuradores, no entanto, emitem sinais de que é possível antecipar para agosto a previsão de julgamento. Nesse caso, Lula já estaria barrado antes do início do horário eleitoral gratuito.
Se este cenário se concretizar, o PT precisará decidir se sabota a abertura do período de propaganda para preservar a versão de um Lula candidato por mais alguns dias ou se finalmente deflagra seu plano B.
A grande dúvida dos petistas é a dimensão do impacto que a substituição causaria em suas bases eleitorais. O ceticismo em relação à candidatura de Lula aumentou, mas cerca de um terço do eleitorado do Nordeste ainda dizia em junho que o ex-presidente será candidato “com certeza”.
RISCO DE DISPERSÃO – O PT acredita que existe um risco de dispersão desse eleitorado no momento em que a saída de Lula da disputa se tornar definitiva. A ala da sigla que propõe que Haddad se “esconda” por enquanto entende que os simpatizantes do ex-presidente podem ficar confusos ao ver na disputa uma figura menos conhecida.
Mais de 60% dos eleitores de Lula dizem que votariam no candidato apoiado por ele, mas os petistas sabem que a transferência não é automática. Não será fácil preservar essa influência nos 58 longos dias que nos separam do primeiro turno.
10 de agosto de 2018
Bruno Boghossian
Folha
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