O ex-presidente Lula – reportagem de Sérgio Roxo, e Thiago Herdy, O Globo de ontem – escolheu Fernando Haddad para ocupar a candidatura a vice na sua chapa eleitoral. Bolsonaro, reportagem de Jussara Soares, escolheu o general Hamilton Mourão para seu companheiro de chapa. São dois episódios bem definidos na luta pelo voto. Lula sabe muito bem que sua candidatura será impugnada. Por isso, seu substituto, sem dúvida, será Fernando Haddad. Tanto assim que o PT está se esforçando para que Manuela D’Avila, do PCdoB, na hora aprazada firme uma aliança com o Partido dos Trabalhadores. A chapa, assim, seria Haddad com Manuela como vice. A convenção do PT, no fundo, homologou essa alternativa.
Do outro lado, ao escolher o general Hamilton Mourão, Bolsonaro definiu seu percurso pela avenida da direita no rumo do Palácio do Planalto. Os reflexos das duas decisões vão se fazer sentir nos próximos desdobramentos e nas próximas pesquisas. Lula transferirá parte de sua votação para Haddad, o que significa que seu estoque de votos, no primeiro turno, não poderá ser arrebatado por nenhum outro postulante.
CIRO PREJUDICADO – Dessa forma, não adiantam acenos ao Partido dos Trabalhadores para tentar obter algum resíduo eleitoral que o PT deixará no caminho.
É o fim das ilusões iniciais de Ciro Gomes de se tornar o herdeiro da corrente política que chegou ao poder em 2002 e nele permaneceu até 2016. Ninguém, aliás, deve se surpreender com a atitude exclusivista de Luiz Inácio Lula da Silva. Lembremos o precedente de 1985, quando o Partido dos Trabalhadores se recusou a apoiar Tancredo Neves nas eleições indiretas de março. Seus três deputados – Bete Mendes, José Eudes e Airton Soares – votaram em Tancredo contra Maluf. Em consequência, foram expulsos da legenda.
Os votos de Lula são seu patrimônio pessoal e desse patrimônio não se dispõe a dividir nas urnas, até ser oficialmente excluído.
CHAPA MILITAR – Jair Bolsonaro, por sua vez, teve que restringir sua posição na escolha de um vice da mesma corrente de pensamento. Sinal de que não conseguiu alinhar em torno de si uma perspectiva ideológica de centro-direita. Até porque esta hipótese não existe. A direita dificilmente poderia se conjugar com uma posição mais moderada, porque sua força maior encontra-se exatamente no radicalismo que provoca.
A esquerda, entretanto, poderia tentar uma articulação de centro-esquerda, partindo do princípio de que o centro não é um ponto, mas uma faixa de comportamento capaz de superar divergências ideológicas na busca da vitória nas urnas. Alguns poderão colocar em pauta as contradições do petismo. Mas as contradições são inerentes ao processo político. JK, em 55 recebeu o apoio do então Partido Comunista que se encontrava na ilegalidade. Venceu as eleições e, nem por isso em seu quinquênio tomou qualquer medida que significasse um elo de aproximação com o marxismo.
CONTRADIÇÕES – Mas a história universal está repleta de contradições, que nem sempre deixaram de cristalizar uma frente comum.
Basta lembrar o acordo de Yalta em 1945 no sul da Rússia, que consolidou a aliança de Roosevelt, Churchill e Stalin, que levou à divisão da Alemanha em Ocidental e Oriental, assegurando o desabamento do Nazismo. Eram duas superpotências capitalistaS e um país comunista. Ainda no cenário da Segunda Guerra, registre-se o acordo entre Roosevelt e Mao Tse Tung, capitalismo e comunismo, numa só frente para combater o Japão no Oriente.
É possível que, com apoio de Lula, Haddad possa se habilitar a decidir o segundo turno com Bolsonaro. Tal hipótese no fundo vai depender do desempenho de Alckmin na campanha que se inicia.
09 de agosto de 2018
Pedro do Coutto
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