"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A MISÉRIA ABSOLUTA ESMAGADA PELA RIQUEZA TOTAL, NA VISÃO REALISTA DE PETER SINGER

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Singer é considerado o maior filósofo do mundo
Peter Albert David Singer tem 71 anos, nasceu na Austrália, filho de judeus vienenses. O pai era comerciante, e a mãe, médica. Três de seus avós morreram em campos de concentração nazistas. Um deles, David Ernst Oppenheim, seu avô materno, foi amigo de Sigmund Freud, com quem escreveu “Dreams in Folklore”, e do psicanalista e filósofo Alfred Adler.
Peter Singer e a sua irmã Joan foram educados em escolas laicas e ele desde cedo se desligou do judaísmo. Formou-se em Filosofia e tem uma magnífica carreira. Ex-Oxford e ex-Nova York, atualmente divide-se entre duas outras universidades, a de Princeton, nos Estados Unidos, e a de Melbourne, na Austrália. Singer é um exemplo de intelectual engajado, pois mantém uma sólida produção acadêmica associada a um intenso ativismo social, em defesa dos pobres e do meio ambiente.
Desde sempre, tem sido um incansável crítico das desigualdades sociais e foi considerado uma das pessoas mais influentes do mundo, pela revista Time, e como o filósofo vivo de maior repercussão, pela revista New Yorker. Seu engajamento social o levou a criar uma organização não governamental de auxílio aos extremamente necessitados, denominada “The Life You Can Save” (A Vida que Você Pode Salvar). Ele próprio doa um percentual significativo de seu salário para causas humanitárias.
Sempre atento ao contexto mundial, nosso amigo e articulista Mathias Erdtmann envia à “Tribuna da Internet” o mais recente artigo de Singer, que mostra o mundo enlouquecido e desigual em que estamos vivendo. 
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O HOMEM QUE NÃO SALVOU O MUNDO
Peter Singer
Mês passado, “Salvator Mundi”, o retrato que Leonardo da Vinci fez de Jesus como Salvador do mundo, foi vendido em um leilão por $400 milhões de dólares (mais que o dobro do recorde anterior para um trabalho de arte vendido em leilão). O comprador também teve que pagar taxas e comissões adicionais de $50,3 milhões de dólares. A pintura teve inúmeros retoques, e alguns especialistas questionam se é,  de fato, um Da Vinci.
O comprador – que muitos acreditam ser o príncipe coroado Saudita, Mohammed bin Salman, representado por um primo distante – pagou um preço altíssimo por uma pintura de um homem que disse a um homem rico: “Vai, vende teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás o tesouro no céu”. Isto torna relevante a pergunta: O que alguém conseguiria fazer disponibilizando $ 450 milhões de dólares para os pobres?
A visão de 9 milhões de pessoas poderiam ser restaurada, para aquelas com cegueira curável, ou, alternativamente, seria possível prover 13 milhões de famílias com ferramentas e técnicas que permitiriam um aumento de 50% na produção de seu plantio de alimentos.
Se quiser seguir a sugestão de Jesus de forma mais literal, você pode simplesmente entregar o dinheiro para as famílias mais pobres do mundo, para que elas o utilizem como quiserem. (…)
Caso ache que os recebedores vão gastar em álcool, apostas ou prostituição, a instituição Give Directly (EUA) fez uma avaliação independente mostrando que, em geral, isso não acontece. As transferências de dinheiro da Give Directly aumentam a segurança alimentar, a saúde mental e mesmo as posses das famílias. 
Por $450 milhões, é possível ainda comprar redes de proteção para camas para 271 milhões de pessoas, as protegendo da malária. 
Quando uma pessoa escolhe comprar “Salvator Mundi” ao invés de restaurar a visão de 9 milhões de pessoas, o que pode ser imaginado a cerca de seus valores? Uma coisa é clara: ela não se importa muito com outras pessoas. Qualquer prazer que ela, sua família, ou amigos terão ao observar a pintura não pode ser comparado com o benefício de restaurar a visão mesmo que de uma pessoa, quanto mais de milhões.
Certo ou errado, nós damos muito mais importância para os próprios interesses (e o de nossos filhos, parentes e amigos), do que para os interesses das demais pessoas. Quanto mais distante, mais diferentes de nós, maior a taxa de desconto que aplicamos na prática sobre o interesse dos outros.
De fato, existe um ponto a partir do qual o desconto é tão grante, que os interesses dos outros são tratados com tanta indiferença, que precisamos dizer “Chega, isso foi longe demais”.
Podemos, inclusive, dizer que as pessoas mais influentes já ultrapassaram este ponto. Para mim, é inquestionável dizer que este ponto foi muito ultrapassado quando a pessoa se preocupar mais em possuir uma pintura do que com a visão de milhões de pessoas.

15 de dezembro de 2017
Carlos Newton

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