Um homem sai apressado de uma pizzaria nos Jardins. Está escuro, mas é possível ver que ele arrasta uma mala de rodinhas pela calçada. O homem some por um instante e reaparece correndo na direção de um táxi. Ele deposita a mala do bagageiro, dá uma olhada para trás e bate a porta, sem perceber que está sendo filmado.
A cena dura apenas 25 segundos. Seu protagonista é Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial da Presidência da República. Ele devolveu à Polícia Federal o conteúdo da mala: R$ 500 mil em espécie. Depois foi preso, sob suspeita de receber propina da JBS em nome do chefe.
AGORA É RÉU – Nesta segunda-feira, um juiz federal de Brasília transformou Rocha Loures em réu. Em prisão domiciliar e monitorado por uma tornozeleira eletrônica, ele passará a responder processo por corrupção passiva.
A Procuradoria-Geral da República concluiu que o peemedebista atuava como “longa manus” de Michel Temer. O presidente também foi denunciado, mas não terá que se explicar ao juiz. Ele está imune ao alcance da lei até deixar o cargo, em 2019.
FORO PRIVILEGIADO – O caso reforça a utilidade do foro privilegiado para políticos sob suspeita. Rocha Loures só virou réu porque deixou de ser deputado. Era suplente de Osmar Serraglio, que reassumiu o mandato em junho. O presidente ainda conta com uma proteção extra: só pode ser processado com o aval de dois terços dos deputados.
Temer foi salvo pela Câmara, mas voltará a enfrentar o fantasma do homem da mala. Pressionado, ele pode tornar a pensar num acordo de delação. A decisão desta segunda também deve ter contrariado o novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segovia. Ao tomar posse, ele disse que “uma única mala” não era suficiente para acusar o chefe de corrupção.
Ao aceitar a denúncia contra Rocha Loures, o juiz Jaime Travassos Sarinho anotou que as provas vão muito além disso. Incluem “relatórios policiais, áudios, vídeos, fotos e diversos documentos”.
15 de dezembro de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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