Michel Temer radicalizou no duelo com Rodrigo Janot. O presidente pediu ao Supremo que declare a suspeição do procurador-geral da República. O objetivo é afastar o chefe da Lava Jato de todas as investigações que o envolvem. O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira acusou Janot de adotar “obsessiva conduta persecutória” contra Temer. Ele disse que a atuação do procurador estaria contaminada por “sentimento de inimizade”.
“O fundamental é dar continuidade à sua sanha de arqueiro contumaz”, afirmou o defensor do presidente. Foi uma referência à metáfora preferida de Janot: “Enquanto houver bambu, lá vai flecha”.
AINDA NA MIRA – A 40 dias de deixar o cargo, o procurador mantém o arco apontado para o Planalto. Ele corre para concluir as investigações pela suposta prática de dois crimes: obstrução da Justiça e organização criminosa.
As novas denúncias terão que ser submetidas à Câmara, como manda a Constituição. Na semana passada, os deputados arquivaram a primeira acusação contra Temer, por corrupção passiva. Agora o presidente tenta inovar. Em vez de desviar das flechas, quer eliminar o arqueiro.
RECEITA DE CUNHA – A tática de atacar Janot não chega a ser original. Há quase dois anos, o então deputado Eduardo Cunha adotou a mesma receita ao se ver na mira da Lava Jato. É espantoso notar a semelhança entre o seu discurso e a oratória do advogado de Temer.
“Por que o procurador tem essa obstinação pelo presidente da Câmara?”, perguntou Cunha, em outubro de 2015. “Trata-se de uma clara perseguição movida pelo procurador-geral da República”, prosseguiu. Na versão do ex-deputado, Janot usava uma “estratégia ardilosa” para “desestabilizar sua gestão e atingir sua imagem de homem público”.
Nesta terça, o doutor Mariz usou palavras bem parecidas. Ele acusou Janot de “obstinada perseguição” e disse que o procurador quer “tisnar a honra do presidente, como se fosse ele seu inimigo pessoal”.
11 de agosto de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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