Reina a desorientação no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, desde que o economista Paulo Rabello de Castro assumiu a presidência no final de maio, substituindo Maria Silvia Bastos Marques. O corpo técnico da instituição é considerado o melhor do país, com grupos de especialistas dedicados aos assuntos de cada segmento da economia brasileira. O foco do banco sempre foi a defesa dos interesses nacionais, como órgão de apoio ao desenvolvimento, mas de repente tudo mudou, porque Rabello de Castro é um estranho no ninho e está disposto a transformar o BNDES num instrumento de política meramente financeira.
Logo após assumir, Castro chegou a contestar a extinção da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), criada para possibilitar que as empresas nacionais fossem beneficiadas com juros nos padrões internacionais, para fortalecer atividades produtivas estratégicas ao país. Mas era só jogo de cena, pois logo Castro se enquadrou às ordens do ministro Henrique Meirelles, que vinha tentando acabar com a TJLP desde o primeiro governo Lula, mas foi rechaçado pelo então presidente do BNDES, Carlos Lessa, e pelo vice Darc Costa.
O MAIOR DO FUNDO – Criado em 1952, no governo Vargas, o BNDES foi o principal responsável pelo espantoso crescimento econômico do Brasil, que até os anos 80, antes da crise do petróleo, tinha sido o país que mais se desenvolveu no século passado, acredite se quiser.
Tornou-se o maior banco de fomento do mundo, sua excelência era reconhecida internacionalmente e foi usado como modelo para criação do Banco do Desenvolvimento da China, que somente há alguns ultrapassou o BNDES e conquistou o primeiro lugar do ranking e agora está tendo papel fundamental na consolidação do banco de fomento dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
PLANO DE GOVERNO – Como o PT chegou ao poder sem jamais se preocupar em ter um programa econômico, Carlos Lessa e Darc Costa usaram o corpo técnico do BNDES para traçar o projeto desenvolvimento implantado nos dois primeiros anos do governo Lula, para ajudar o país a retomar o crescimento do PIB, que em 2010 chegou a aumentar espantosos 7,5%.
Lessa e Darc saíram, o BNDES começou a se envolver em tenebrosas transações conduzidas nas gestões de Guido Mantega e seus seguidores Demian Fiocca e Luciano Coutinho.
Nomeada em 2016 pelo presidente interino Michel Temer, a economista Maria Silvia fez uma gestão de soerguimento, não se deixou usar com fins políticos e acabou se demitindo. Foi substituída por Rabello de Castro, que comandou a extinção da TJLP e agora está levando o BNDES por caminhos tristonhos, diria o grande brasileiro Ary Barroso.
BANCO DE INVESTIMENTOS – Rabello de Castro abandonou a linha de defesa dos interesses nacionais e está levando o BNDES a se tornar um banco de investimentos como qualquer outro. Os funcionários estão surpresos e estupefatos, porque Castro defende abertamente um perdão aos empresários envolvidos na Lava Jato, sob a justificativa de que o combate à corrupção está prejudicando a economia nacional, vejam a que ponto de desfaçatez chegou este cidadão, que preside o Instituto Atlântico e integra o Instituto Millenium, organização criada por grandes empresários que pregam a ortodoxia neoliberal como saída para os problemas estruturais do país.
Não se deve julgá-lo por ser centro-avante da extrema-direita, Castro tem direito de defender seus ideais, mas é preciso observar atentamente seus atos como presidente do BNDES, um cargo altamente estratégico para o país e mais importante do que a maioria dos ministérios. O fato concreto é que Temer errou ao nomear um economista atrelado a dogmas políticos, que está tirando o BNDES da importantíssima função para a qual foi criado, a não ser que seja justamente este o objetivo do atual governo e Castro esteja apenas recebendo ordens.
“MELHOR NEGÓCIO” – A confusão é geral. Depois de proclamar que o apoio à JBS/Friboi foi “o melhor negócio” já feito pelo banco estatal, Castro ordenou que o BNDES mova uma ação de responsabilidade civil contra os controladores da JBS, por dano ao patrimônio da BNDESPar, que tem 21,3% da JBS e é a maior acionista individual, excetuando a família Batista, que detém 42,16% das ações.
O argumento é insólito: após a delação dos irmãos Batista, as ações se desvalorizaram 37%. Mas acontece que estão se recuperando e ontem acumulavam queda de apenas 8,7%. Como a queixa vai demorar meses até ser apresentada à Justiça, tudo indica que na ocasião não haverá mais perdas e pode até existir lucro.
Segundo O Globo, “tanto a JBS como sua controladora, a J&F, estão reagindo bem à crise que atravessam, vendendo ativos com agilidade. A JBS se desfez de operações no Mercosul e negocia a venda da Moy Park, na Europa. A J&F já acertou a venda de sua fatia na Vigor e da Alpargatas, dona das sandálias Havaianas”.
AUMENTO SALARIAL – O mais ridículo é que a BNDESPar manifestou também oposição ao aumento da remuneração da Diretoria, do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal da JBS. Pela proposta, a remuneração desses executivos prevista para o ano de 2017 seria elevada em R$ 10 milhões, para até R$ 27 milhões. O montante considera 17 pessoas e inclui salário, encargos do INSS, remuneração baseada em ações, entre outros.
Em 2016, os 15 executivos que eram da diretoria, do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal receberam R$ 1 milhão. Isso significa que ganharam R$ 77 mil mensais, muito menos do que diretores de estatais como a Petrobras e o próprio BNDES, que premia seus dirigentes com 16 salários anuais e participação nos lucros, mas o ditado diz que macaco não costuma olhar o próprio rabo…
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P.S. – Como se vê, não é exagero dizer que o BNDES entrou numa aura de confusão mental. Ainda bem que o Plano de Saúde é generoso e garante tratamento psicoterápico aos diretores e funcionários. (C.N.)
P.S. – Como se vê, não é exagero dizer que o BNDES entrou numa aura de confusão mental. Ainda bem que o Plano de Saúde é generoso e garante tratamento psicoterápico aos diretores e funcionários. (C.N.)
18 de agosto de 2017
Carlos Newton
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